Barack Obama declara apoio a Hillary Clinton
O senador do Vermont reuniu-se com o Presidente norte-americano. Não disse que vai desistir, mas prometeu trabalhar com Clinton para derrotar Donald Trump.
As fotografias tiradas à distância mostram dois homens a caminharem lado a lado pelos jardins da Casa Branca, em direcção à Sala Oval, com sorrisos tão rasgados como se um deles tivesse feito um bom trocadilho com a palavra Trump.
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As fotografias tiradas à distância mostram dois homens a caminharem lado a lado pelos jardins da Casa Branca, em direcção à Sala Oval, com sorrisos tão rasgados como se um deles tivesse feito um bom trocadilho com a palavra Trump.
Mas Bernie Sanders, o candidato que insiste em manter-se na corrida pela nomeação no Partido Democrata apesar de todos os sinais lhe indicarem a porta de saída, não pediu uma reunião com Barack Obama para se divertir com a veia humorística do Presidente norte-americano.
No final do encontro, esta quinta-feira, o senador do Vermont reafirmou que não vai estender a passadeira vermelha a Hillary Clinton tão cedo, mas as suas declarações não deixam muitas dúvidas sobre o que vai acontecer a médio ou a longo prazo: "Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance, e trabalharei o mais que puder para garantir que Donald Trump não seja eleito Presidente."
Se essa frase não bastasse para carimbar o anunciado fim da campanha de Bernie Sanders, o Presidente Barack Obama veio pouco depois anunciar o seu apoio oficial a Hillary Clinton, prometendo aparecer ao lado da candidata na campanha já na próxima semana.
A pressão para que Sanders desapareça das eleições primárias do Partido Democrata só é igualada pela pressão para que o mesmo Sanders reapareça como porta-voz de Hillary Clinton nas universidades o mais rapidamente possível – como se fosse um millennial de 74 anos capaz de convencer os milhões de jovens que estão determinados a abalar o sistema a taparem o nariz e a votarem na candidata que nas suas cabeças é a encarnação do próprio sistema. Tudo para que o magnata Donald Trump fique pela sua Manhattan e não chegue a mudar-se para Washington D.C. nos próximos quatro anos.
O problema dos líderes do Partido Democrata é que Bernie Sanders é tudo menos o típico candidato que perde as primárias e acaba por afastar-se em nome da união, como Clinton fez em 2008 quando foi batida por Barack Obama, por exemplo. Apesar de votar habitualmente com o Partido Democrata no Senado, Sanders foi sempre eleito como independente e só se registou em 2015, para poder candidatar-se à nomeação a Presidente dos EUA por um grande partido.
Ao seu passado como independente e aliado da ala mais à esquerda do Partido Democrata, Sanders soma agora um presente com mais de 12 milhões de votos nas primárias, contra os quase 16 milhões de Clinton – o resultado é um poder negocial que alimentou a ideia de que o senador ainda tem uma real hipótese de vir a ser nomeado, se convencer centenas de "superdelegados" a mudarem de opinião até à convenção do partido, que vai decorrer entre 25 e 28 de Julho em Filadélfia, no estado da Pensilvânia.
Mas o que se ouviu da boca de Bernie Sanders no final da reunião com Barack Obama equivaleu à descrição de um plano para uma saída airosa, ponto por ponto.
É certo que o candidato não declarou o apoio a Clinton e reafirmou que vai participar na última votação das primárias, na próxima terça-feira, em Washington D.C, e que vai lutar na convenção do partido pelos temas que tem defendido desde sempre.
Mas as várias referências à vontade de diálogo com Hillary Clinton para derrotar Donald Trump quase silenciaram o resto da declaração. Já sem hipóteses de vir a ser nomeado pelo Partido Democrata, a promessa de se unir a ela para derrotar o candidato do Partido Republicano só tem uma explicação: mais cedo ou mais tarde, Sanders vai declarar o seu apoio a Clinton.
"Pretendo reunir-me com ela num futuro próximo para vermos de que forma podemos trabalhar em conjunto para derrotar Donald Trump", afirmou Sanders.
Apesar da dura campanha que travou com Hillary Clinton, ficou claro que o inimigo público n.º 1 para o senador do Vermont é outro: "Donald Trump seria um desastre como Presidente dos Estados Unidos. É inacreditável que o Partido Republicano tenha um candidato em 2016 que faz da intolerância e da discriminação a base da sua candidatura."
A pressão sobre Bernie Sanders começou muito antes da reunião com Barack Obama, e já se tinha alastrado por muitos dos seus apoiantes – até Jeff Merkley, o único senador que apoiou Sanders, já disse que "não seria legítimo" que o senador do Vermont tentasse convencer os "superdelegados" que declararam apoio a Hillary Clinton a mudarem de opinião.
O argumento é que Clinton bateu Sanders no voto popular (15,8 milhões contra 12,1 milhões); no número de votações (33 contra 23); e no número de delegados com disciplina de voto (2203 contra 1828) – com este resultado, e juntando o facto de Sanders não ser um fiel do Partido Democrata, que razões teriam os "superdelegados" para retirarem o seu decisivo apoio na convenção à candidata que venceu em toda a linha?
Numa entrevista no programa de entretenimento "The Tonight Show", o Presidente Barack Obama já tinha dado o mote para o que espera de Bernie Sanders nos próximos tempos, elogiando a sua campanha mas salientando o compromisso de Clinton com algumas das prioridades políticas que o senador tem defendido durante toda a vida política.
"Acho que fez de Hillary uma melhor candidata. Ela é dura e preocupa-se profundamente com a classe trabalhadora. Quer garantir que todas as crianças possam estudar e que a nossa economia cresça, por isso espero que consigamos unir-nos nas próximas semanas", disse Obama.
Tudo resumido, nas palavras de um antigo conselheiro de Barack Obama na Florida, Steve Schale, o plano de Bernie Sanders tem quatro etapas: "Ir a votos em D.C., descansar, reunir-se com Hillary Clinton, começar a trabalhar para derrotar Trump."