Sigur Rós e Animal Collective a postos na abertura do Nos Primavera Sound
No primeiro dia do festival que pela primeira vez esgotou os seus passes gerais, também há outros protagonistas: Parquet Courts, Julia Holter, U.S. Girls. E os portugueses Sensible Soccers.
Cabem aos portugueses Sensible Soccers, que lançaram este ano o álbum Villa Soledade, as honras de abertura do festival Nos Primavera Sound do Porto. Será pelas 17h da tarde desta quinta-feira. A partir daí, e até às seis da manhã de sexta, muita coisa haverá para ouvir no primeiro dia de um evento que se estenderá até à madrugada de domingo, funcionando com quatro palcos em simultâneo – hoje serão só três.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Cabem aos portugueses Sensible Soccers, que lançaram este ano o álbum Villa Soledade, as honras de abertura do festival Nos Primavera Sound do Porto. Será pelas 17h da tarde desta quinta-feira. A partir daí, e até às seis da manhã de sexta, muita coisa haverá para ouvir no primeiro dia de um evento que se estenderá até à madrugada de domingo, funcionando com quatro palcos em simultâneo – hoje serão só três.
O grupo mais abrangente do primeiro dia são provavelmente os islandeses Sigur Rós (22h20). Há uma semana, no Primavera Sound de Barcelona, apresentaram uma canção inédita (Óveour) e arranjos novos para temas há muito conhecidos, mas foi o espectacular lado cénico da sua actuação que acabou por ser mais evidenciado. Prescindido da habitual secção de metais, é o núcleo duro do grupo que sobressai – Jónsi (guitarra e voz), Orri (bateria) e Goggi (baixo).
Apesar deste aparente regresso às raízes fundadoras, a sonoridade dos Sigur Rós não se altera muito. Numa digressão em que não têm álbum novo para apresentar, o espectáculo funciona como revisitação da carreira iniciada no final dos anos 1990, recuperando alguns temas que já não tocavam há quase uma década como Starálfur. Em 2001, quando se apresentaram pela primeira vez em Portugal, trazendo o álbum Ágaetis Byrjun que lhes deu a fama internacional, encantavam com facilidade.
The partial view '~/Views/Layouts/Amp2020/ARTIGO_MULTIPLO.cshtml' was not found. The following locations were searched:
~/Views/Layouts/Amp2020/ARTIGO_MULTIPLO.cshtml
ARTIGO_MULTIPLO
Hoje essa sedução do primeiro encontro já não é possível, mas existe ainda o fascínio perante um grupo que propõe uma música para além do rock, capaz de desenhar quadros sónicos gentis, ou sofridos, ou alienígenas. Neles o rock é matéria sonora feita de camadas de ruído em vagas crescentes, com a voz e guitarra de Jónsi em destaque. Mas se se repetir no Porto o que aconteceu há uma semana em Espanha, será o aparato visual do concerto que concentrará as atenções.
Outra banda alvo de culto em Portugal, os Animal Collective (01h10), irá apresentar um concerto baseado no álbum Painting With, talvez o seu disco mais físico e simples, parecendo ter sido construído a partir apenas de ritmo e vozes, com alguns elementos a enriquecerem a estrutura mínima. O cenário é colorido e em palco estão quatro músicos em teclados, programações e bateria, com jogos vocais entre Panda Bear e Avey Tare, propondo um som que exala um entusiasmo juvenil que talvez já não se esperasse num projecto com percurso tão longo, num todo polirrítmico com tanto de festa como de experimentação.
Outros protagonistas
Durante muitos anos, os Animal Collective foram a fantasia indie de muitos melómanos. Agora existem outros protagonistas. É o caso dos americanos Parquet Courts (00h), que virão apresentar o álbum deste ano, Human Performance, mas acima de tudo tentarão mostrar porque é que o seu rock com nervo, vibração e pulsão interior tem hoje tantos adeptos. O mesmo se poderia dizer dos americanos Deerhunter (22h), liderados por Bradford Cox, o tipo de grupo que está sempre em mutação, às vezes com resultados entusiasmantes: oiça-se o álbum Fadding Frontier, lançado no final do ano passado.
Para sonoridades mais envolventes haverá que esperar pelo concerto da americana Julia Holter (21h10), cujo disco de 2015, Have You in My Wilderness, foi considerado um dos melhores do ano pelos críticos do Ípsilon. A sua música não é fácil de situar. É pop sem ser pop, folk sem ser folk, jazz sem ser jazz, uma espécie de música de câmara moderna que aposta em canções com qualquer coisa de clássico, mas sem um centro definido. Em Barcelona, em teclados, acompanhada por contrabaixo, violino e bateria, foi autora de um excelente concerto. Mas o seu som exige um público disponível para ele.
Americana, mas a viver no Canadá, Meg Remy é U.S. Girls (17h55), autora de uma pop sintética com qualquer coisa de clássico, mas capaz ao mesmo tempo de expor alguma dose de estranheza. Tal como Julia Holter, também não é fácil de enquadrar. Já com vários álbuns lançados foi o registo do ano passado, Half Free, que lhe atribuiu visibilidade. Será ela a primeira a actuar no palco principal, num dia em que tudo terminará no palco Pitchfork com a electrónica de dança de John Talabot.
Na sexta e no sábado o festival prosseguirá com um elenco de que se destacam nomes como PJ Harvey, Brian Wilson, Beach House, Savages, Destroyer, Air, Ty Segall, Moderat ou Beak. Com uma baixa de última hora, que a organização ainda não confirmou oficialmente: Freddie Gibbs, o rapper norte-americano que deveria actuar esta sexta-feira no Porto mas continua detido em Toulouse, onde aguarda que a justiça francesa tome uma decisão sobre o pedido de extradição emitido por Viena. As autoridades austríacas acusam-no de um crime de violação que remonta ao ano passado; o músico, ouvido em tribunal esta terça-feira, contestou "categoricamente" as acusações e declarou "não estar disposto" a ser extraditado "sem fazer valer os seus direitos", segundo declarou o seu advogado, citado pela AFP. Uma vez que a decisão acerca da extradição só será tomada na próxima quinta-feira, dia 16, e que até lá Freddie Gibbs deverá permanecer detido (o seu pedido para aguardar a decisão em liberdade, que deu entrada terça-feira, já não será analisado esta semana), as hipóteses de o concerto se realizar são agora praticamente nulas.
Caso Gibbs à parte, o Nos Primavera Sound já não é uma surpresa. Ao quinto ano já toda a gente sabe ao que vai, numa mistura de público multinacional, comida regional, ambiente descontraído, um parque verdejante e um desenho do espaço cuidado, onde se tenta que o ruído comercial e a experiência musical coabitem com alguma harmonia. Novidade mesmo só a deslocalização de um dos palcos – o Pitchfork – para outra zona do recinto, mais perto da entrada, e a criação de uma nova zona de alimentação. Com Inês Nadais