Brasil: só a corrupção não é interina
Pedido de prisão de políticos do PMDB vem fragilizar ainda mais as pretensões governativas de Temer.
Michel Temer queria chegar à abertura dos Jogos Olímpicos "entronizado" como Presidente do Brasil. Em vez disso, deverá continuar interino no cargo, arriscando-se a ser visto com desconfiança pelos líderes mundiais e a assistir impotente ao desmoronar do governo que edificou sobre mais do que duvidosos alicerces. Um mês passado sobre a destituição de Dilma Rousseff, agora a contas com um inquérito que poderá determinar o seu afastamento definitivo (o que só será decidido em meados de Agosto, já depois da abertura dos Jogos), as "espingardas" da justiça voltam-se para o PMBD: o procurador Rodrigo Janot pediu nada menos do que a detenção do ex-presidente José Sarney, do ex-ministro Romero Jucá (demitiu-se do recente governo de Temer depois se serem reveladas conversas telefónicas em que participou), do actual líder do Senado, Renan Calheiros, e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (foi afastado há um mês e a Comissão de Ética analisa agora a sua destituição definitiva). Sejam ou não defensáveis os fundamentos de tal pedido (um juiz está a analisá-los), o mais relevante é verificar que as suspeitas de corrupção não poupam quase ninguém. Depois do processo que afastou Dilma e colocou Lula sob suspeita, revelando os podres da máquina do PT, agora são figuras gradas do PMDB a ter de enfrentar o dedo acusador da justiça. Para o Brasil, é um processo demasiado penoso (e perigoso), mas evitá-lo seria pior. Como muitos brasileiros publicamente admitem, este processo tem sido uma escola democrática importante. Ela há-de tornar mais clara a visão de milhões face ao poder, aos seus desmandos e limites, mas só se não se deixarem toldar pelas falsidades do populismo, a que muitos recorrem para mostrar uma honestidade que não têm. Que a justiça seja, porém, tão rápida quanto imparcial. Para que sejam punidos os verdadeiros criminosos e o Brasil possa, em paz, recuperar e seguir adiante.
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Michel Temer queria chegar à abertura dos Jogos Olímpicos "entronizado" como Presidente do Brasil. Em vez disso, deverá continuar interino no cargo, arriscando-se a ser visto com desconfiança pelos líderes mundiais e a assistir impotente ao desmoronar do governo que edificou sobre mais do que duvidosos alicerces. Um mês passado sobre a destituição de Dilma Rousseff, agora a contas com um inquérito que poderá determinar o seu afastamento definitivo (o que só será decidido em meados de Agosto, já depois da abertura dos Jogos), as "espingardas" da justiça voltam-se para o PMBD: o procurador Rodrigo Janot pediu nada menos do que a detenção do ex-presidente José Sarney, do ex-ministro Romero Jucá (demitiu-se do recente governo de Temer depois se serem reveladas conversas telefónicas em que participou), do actual líder do Senado, Renan Calheiros, e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (foi afastado há um mês e a Comissão de Ética analisa agora a sua destituição definitiva). Sejam ou não defensáveis os fundamentos de tal pedido (um juiz está a analisá-los), o mais relevante é verificar que as suspeitas de corrupção não poupam quase ninguém. Depois do processo que afastou Dilma e colocou Lula sob suspeita, revelando os podres da máquina do PT, agora são figuras gradas do PMDB a ter de enfrentar o dedo acusador da justiça. Para o Brasil, é um processo demasiado penoso (e perigoso), mas evitá-lo seria pior. Como muitos brasileiros publicamente admitem, este processo tem sido uma escola democrática importante. Ela há-de tornar mais clara a visão de milhões face ao poder, aos seus desmandos e limites, mas só se não se deixarem toldar pelas falsidades do populismo, a que muitos recorrem para mostrar uma honestidade que não têm. Que a justiça seja, porém, tão rápida quanto imparcial. Para que sejam punidos os verdadeiros criminosos e o Brasil possa, em paz, recuperar e seguir adiante.