Banco de Portugal prevê maior perda de quota das exportações desde 2005

Previsão de abrandamento da economia deve-se a travagem nas exportações e no investimento. E medidas adicionais de consolidação ainda são mais um risco.

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Paragem da refinaria da Galp é um dos motivos para a quebra esperada das exportações Paulo Ricca

Nos dois indicadores em que defende devem estar depositadas as esperanças de uma retoma sustentada da economia portuguesa, o Banco de Portugal dificilmente poderia ter ficado mais pessimista. A entidade liderada por Carlos Costa aponta agora para que Portugal registe este ano a mais acentuada perda de quota de mercado internacional da última década e que, em simultâneo, o investimento estagne, adiando por um ano o início de um crescimento mais saudável.

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Nos dois indicadores em que defende devem estar depositadas as esperanças de uma retoma sustentada da economia portuguesa, o Banco de Portugal dificilmente poderia ter ficado mais pessimista. A entidade liderada por Carlos Costa aponta agora para que Portugal registe este ano a mais acentuada perda de quota de mercado internacional da última década e que, em simultâneo, o investimento estagne, adiando por um ano o início de um crescimento mais saudável.

Com a economia a ficar dependente quase exclusivamente do consumo privado, o resultado destas expectativas mais negativas do banco central é uma previsão de crescimento de apenas 1,3% em 2016. Este resultado representa uma revisão em baixa face às projecções apresentadas pelo banco em Março, de 1,5%, e fica ainda mais distante da previsão de variação do PIB de 1,8% com que o Governo baseou o Orçamento do Estado.

Apenas a OCDE, com 1,2%, apresenta neste momento previsões mais pessimistas do que o Banco de Portugal, que diz que o PIB deverá acelerar para 1,6% em 2017 e voltar a abrandar para 1,5% em 2018.

O maior pessimismo nas exportações deve-se em parte a uma deterioração das condições externas, mas principalmente à expectativa de uma maior perda de quota de mercado internacional do que aquilo que era previsto. De acordo com o Banco de Portugal, a procura externa dirigida à economia portuguesa crescerá 3,7% em 2016, um pouco menos do que os 3,9% que eram previstos em Março.

Mas em relação às exportações, o crescimento previsto passou de 2,2% em Março para 1,6% agora.

A perda de quota de mercado – implícita no facto de se estar a apontar para um crescimento das exportações que é menos de metade do crescimento da procura externa dirigida à economia portuguesa – é a mais acentuada desde 2015 e supera aquela que se tinha registado em 2014.

O Banco de Portugal apresenta algumas explicações para esta deterioração das expectativas. Primeiro diz que a tendência teve início no quarto trimestre de 2015 e depois assinala que “esta diminuição reflectiu, em larga medida, a redução das exportações de combustíveis e de veículos automóveis, influenciada pelo encerramento temporário de importantes unidades de produção destes bens no início de 2016”.

Do lado do Governo, mantém-se para este ano uma previsão de 4,3% para o crescimento das exportações, tendo o ministro das Finanças afirmado na terça-feira não haver razões para alterar os principais indicadores macroeconómicos.

Para os próximos dois anos, o BdP já conta com uma recuperação das exportações, com uma melhoria na evolução da quota de mercado. Com a evolução positiva esperada no enquadramento internacional, as vendas de bens e serviços ao estrangeiro deverão crescer 4,7% tanto em 2017 como em 2018.

Estagnado deverá ficar o investimento. O BdP já previa anteriormente que o crescimento da formação bruta de capital fixo fosse de 0,7% e, agora, espera que a variação se fique por 0,1%. Mas a expectativa é que haja uma forte recuperação nos próximos dois anos, com o investimento a crescer 4,3% em 2017 e 4,6% no ano seguinte. 

Para o BdP, “a possibilidade de perda de dinamismo do processo de reformas estruturais poderá ter um impacto negativo sobre a confiança dos empresários e penalizar a recuperação do investimento”. Por que razão está o investimento agora em marcha lenta? Não há apenas uma explicação, mas um ponto revelante, diz o BdP. “É o facto de a recuperação em curso suceder a uma recessão severa e prolongada, que esteve associada a uma grave crise financeira global, a que se sucedeu a crise de dívidas soberanas da área do euro e o programa de ajustamento da economia portuguesa”.

Pelo contrário, o consumo privado deverá crescer mais do que o previsto em Março, estando agora o banco central a prever um ritmo de 2,1% este ano, para depois desacelerar nos dois anos seguintes, com crescimentos já abaixo dos 2%. 

Medidas adicionais, um “risco interno”

Neste cenário em que a economia cresce 1,3%, a procura interna deverá ter um contributo equivalente a um ponto percentual do PIB, enquanto as exportações valem 0,3 pontos. Há um “riscos interno” que o BdP admite poder implicar um menor crescimento da procura interna, a “possibilidade de serem necessárias medidas adicionais para cumprir os objectivos orçamentais” assumidos pelo Governo, que quer fechar o ano com um défice público de 2,2% (prevendo a Comissão Europeia que seja de 2,7%).

O BdP deixa um alerta sobre as dificuldades de recuperação que a economia ainda enfrenta e os factores que podem condicionar a recuperação que à partida já será moderada e gradual. E, para o evidenciar, refere a trajectória de desaceleração que vem da segunda metade do ano passado. “O abrandamento da actividade económica nos últimos trimestres associado ao comportamento das exportações e investimento revela que a economia portuguesa permanece muito vulnerável a choques, não obstante os significativos progressos alcançados na redução dos desequilíbrios macroeconómicos, que criaram condições para uma padrão mais sustentável de crescimento”, enfatiza a instituição liderada por Carlos Costa, numa nota associada ao boletim.

O BdP pede um “enquadramento institucional e fiscal previsível, orientado para a estabilidade macroeconómica” de forma a potenciar um crescimento sustentado da economia. E considera ainda que, para isso acontecer, é preciso olhar para outro vértice: as “reformas estruturais que favoreçam o investimento, a inovação e a mobilidade de factores”.