Na assembleia municipal falou-se na demissão de Salgado por causa da torre de Picoas
“Eu, se calhar, no lugar do vereador Manuel Salgado, já me teria demitido”, disse Diogo Moura (CDS). Já Margarida Saavedra (PSD) exigiu “consequências políticas” deste caso.
O polémico caso da torre de Picoas voltou a dominar a reunião desta terça-feira da Assembleia Municipal de Lisboa, na qual houve vários deputados a defender a demissão do vereador Manuel Salgado e do seu braço direito, o director municipal de Urbanismo. Em resposta, o presidente da Câmara de Lisboa disse que só tomará decisões depois de estar concluída a realização de um inquérito externo à actuação dos órgãos municipais neste processo.
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O polémico caso da torre de Picoas voltou a dominar a reunião desta terça-feira da Assembleia Municipal de Lisboa, na qual houve vários deputados a defender a demissão do vereador Manuel Salgado e do seu braço direito, o director municipal de Urbanismo. Em resposta, o presidente da Câmara de Lisboa disse que só tomará decisões depois de estar concluída a realização de um inquérito externo à actuação dos órgãos municipais neste processo.
Sem nunca pronunciar a palavra demissão, foi Margarida Saavedra quem primeiro colocou essa possibilidade em cima da mesa, ao dizer que o PSD “exige consequências políticas deste processo”. Para a deputada, este caso ficou marcado por “uma enorme benevolência, senão mesmo uma cumplicidade” da câmara para com o promotor imobiliário, que construiu para lá dos limites do seu lote de terreno, em propriedade municipal.
Margarida Saavedra acusou ainda o executivo liderado por Fernando Medina de ter tentado “passar um atestado de menoridade à assembleia municipal”. “Não podemos deixar passar imune esta situação, nem jurídica nem politicamente”, concluiu, já depois de sustentar que “a câmara só se pode culpar a si mesma” neste que é “um buraco, a todos os títulos exemplar no mau sentido”.
Já Modesto Navarro, do PCP, defendeu que o promotor da torre de Picoas foi “altamente beneficiado” (face ao anterior proprietário do terreno) e “desacompanhado em matérias que são de facto criminais”.
O entendimento do deputado é que se este caso tivesse sido já visto “a nível da alta justiça”, e tendo em conta “tudo o que saiu a público” sobre ele, “provavelmente” o seu desfecho incluiria a demissão do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. “Mesmo a nível médio”, acrescentou Modesto Navarro, teria pelo menos levado à demissão do “director responsável pela área”, Jorge Catarino Tavares.
“Eu se calhar no lugar do vereador Manuel Salgado já me teria demitido”, afirmou depois o centrista Diogo Moura. “Ou já teria demitido algum serviço, caso a responsabilidade não seja dele, o director municipal ou quem deu a ordem para que esta obra se pudesse iniciar”, acrescentou, defendendo que este processo foi “uma salganhada”, em que “houve um total desrespeito” da câmara para com a assembleia municipal.
Pelo PEV, Cláudia Madeira falou em “irregularidades” várias e disse ter “dúvidas” de que a ordem verbal alegadamente dada pela autarquia ao promotor para que parasse a obra que estava a desenvolver para lá do seu terreno “tenha realmente ocorrido”.
“Porque é que só vamos carregar em cima do promotor quando a responsabilidade é da câmara?”, perguntou por sua vez o social-democrata Victor Gonçalves. Para o deputado, a admissão de culpa feita pelo gestor de projecto da obra (que disse ter cometido “um pecado” ao realizar trabalhos que não teriam sido autorizados) tem uma explicação: “o pobre do promotor”, disse o autarca, “não podia dizer outra coisa, senão nunca mais construia nada, nunca mais mexia uma palha nesta cidade”.
“Será que os criminosos ficam sem culpa?”, perguntou ainda Victor Gonçalves, sem mencionar o nome de Manuel Salgado mas defendendo que neste caso deve haver “uma penalização política de quem permitiu estas barbaridades”.
Para o PAN, a torre de Picoas “tem sido um edifício com pés de barro, em que as coisas têm fugido à lógica do que seria correcto fazer”. “O processo está viciado”, sustentou ainda Miguel Santos.
Já o bloquista Ricardo Robles voltou a mostrar-se muito crítico deste caso, como de resto tem feito desde que ele chegou à assembleia municipal. “Todo este processo é um acumular de erros do princípio ao fim”, disse o autarca, que viu ser chumbada (com os votos contra do CDS, PSD, PS, Parque das Nações Por Nós e Cidadãos Por Lisboa) a proposta que apresentou para que não fosse viabilizado o avanço da obra até que a procuradora-geral da República se pronunciasse.
“Sabemos que a longo prazo uma não decisão poderá agravar os problemas existentes”, afirmou por sua vez Miguel Graça, justificando assim a posição agora assumida pelos Cidadãos Por Lisboa. Admitindo que o caso da torre de Picoas encerra “uma série de erros”, o autarca defendeu a importância de se “procurar soluções construtivas”, em nome da “segurança”.
Aquilo que ficou decidido esta terça-feira é que a faixa de terreno na qual o promotor terá construído ilegalmente não vai ser permutada com a câmara mas sim vendida ao abrigo da figura de complemento de lote. Questionado pelo PÚBLICO sobre o valor da alienação, o presidente da câmara disse que ele será “superior a 300 mil euros”.
Quanto a eventuais demissões no executivo ou nos serviços camarários, Fernando Medina lembrou que foi já pedido a uma entidade externa (por sugestão da assembleia municipal) que avalie aquela que foi a actuação dos órgãos municipais neste processo, com vista ao apuramento de eventuais responsabilidades civis e criminais. Essa entidade, apurou o PÚBLICO, é a Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
“Faça-se uma avaliação independente e depois tire-se conclusões”, disse Fernando Medina aos jornalistas, já depois de ter defendido na reunião da assembleia que “não há nenhuma culpabilidade definida a priori”.