O eleitorado fiel de PP e Podemos deixa PSOE para trás nas sondagens
Espanhóis voltam às urnas daqui a três semanas. Inquéritos mostram que o partido liderado por Iglesias beneficia da aliança com a Esquerda Unida e inverte tendência de descida, consolidando vantagem face aos socialistas.
A nova realidade da política espanhola continua a jogar-se a quatro, mas as eleições de 26 de Junho, seis meses depois das que deram origem ao Parlamento mais fragmentado de sempre, com os partidos incapazes de se entenderem para formar governo, parecem destinadas a ser uma batalha entre extremos. Diferentes sondagens mostram o PP a aumentar a sua vantagem sobre os rivais, continuando a milhas da maioria absoluta, e a nova coligação de esquerda, Unidos Podemos, a ultrapassar o PSOE, estabelecendo-se como maior formação à esquerda.
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A nova realidade da política espanhola continua a jogar-se a quatro, mas as eleições de 26 de Junho, seis meses depois das que deram origem ao Parlamento mais fragmentado de sempre, com os partidos incapazes de se entenderem para formar governo, parecem destinadas a ser uma batalha entre extremos. Diferentes sondagens mostram o PP a aumentar a sua vantagem sobre os rivais, continuando a milhas da maioria absoluta, e a nova coligação de esquerda, Unidos Podemos, a ultrapassar o PSOE, estabelecendo-se como maior formação à esquerda.
Este resultado do Unidos Podemos, fruto da aliança do Podemos (partido nascido do movimento popular 15-M) à federação Esquerda Unida, liderada por Alberto Gárzon, contribui para a narrativa de Pablo Iglesias, que tem proclamado a sua formação como a verdadeira alternativa de poder ao PP.
Na sondagem do instituto Metroscopia para o El País, a nova coligação obtém 25,6% dos votos, deixando os socialistas de Pedro Sánchez muito atrás, com 20,2% (quase dois pontos menos do que nas eleições de 20 de Dezembro). No conjunto das três sondagens agora divulgadas (El País, El Mundo e El Español), a aliança de esquerdas obtém entre 23,7 e 25,6% dos votos, sempre bastante à frente do PSOE, que ameaça até poder descer dos 20% (está entre 20,2 e os 21,6%) e não ir além dos 77 deputados (teve 90 na legislatura fracassada).
O PP, que conseguiu 28,7% nas urnas, está agora entre os 27,7% e os 31%, podendo eleger até 130 deputados no Congresso. Como aconteceu em Dezembro, não há coligações governativas óbvias e nenhum inquérito antecipa que a soma dos conservadores aos eleitos dos centristas liderados por Alberto Rivera chegue aos 176 necessários para a maioria absoluta.
O Cidadãos (C’s) deverá manter o lugar de quarto partido e pode até subir um pouco em votos — teve 13,9 em Dezembro, as sondagens antecipam-lhe entre 14 e 16,6% — mas perder em deputados (a método de Hondt e a distribuição do último lugar em cada círculo beneficia o Unidos Podemos, que consegue transformar em deputados o que em Dezembro eram boletins inúteis, votos que não permitiam eleger ninguém por cada um dos partidos que então concorria em separado).
Rivera não parece beneficiar como se esperava da atitude apaziguadora que teve nos meses das negociações, quando tentou servir de ponte entre o PP e o PSOE e chegou a acertar um pacto de governação com os socialistas.
O partido que se diz centrista — e que a sua esquerda acusa de ser de direita e a sua direita diz ser de esquerda — não parece ter ainda um eleitorado muito fiel e as sondagens dos últimos meses mostram como é volátil. Entre os quatro líderes das principais formações, Rivera até é o que consegue melhor avaliação, mas só 60% dos que nele votaram em Dezembro tem a certeza que vai manter o voto em Junho (Metroscopia).
O pior retrato saído desde conjunto de inquéritos é mesmo o do PSOE. O histórico partido não só é relegado para terceiro lugar, perdendo a iniciativa de negociação à esquerda para o Podemos, como tem os eleitores menos entusiasmados face à repetição das eleições, com 51% a dizer-se menos interessado do que em Dezembro (sondagem Sigma Dos para o El Mundo).
Num cenário mais extremado, de um lado a direita do PP, de outro a nova esquerda anti-austeridade do Podemos, a grande vantagem dos socialistas, que era ocupar o espaço do centro-esquerda (onde tradicionalmente se situava a maioria do eleitorado), torna-se agora numa fraqueza.
Popularidade e fidelidade
No novo tabuleiro político espanhol há mais partidos a concorrer pelos votos mas o debate está mais polarizado. E os dois partidos que reúnem a preferência de mais gente são liderados pelos políticos menos populares.
Mariano Rajoy, que durante quatro anos liderou um governo insensível a uma contestação permanente, usando a maioria absoluta para recusar explicar-se à oposição ou prestar contar sobre os inúmeros escândalos de corrupção que envolveram o PP, continua a ser o dirigente com pior nota (43 pontos negativos, no inquérito do Sigma Dos). Pablo Iglesias aparece muito perto, com 40 pontos negativos, que deverão resultar do desgaste dos últimos meses e da arrogância com que enfrentou as negociações para formar governo, portando-se como se fosse já líder da maior força de esquerda.
Ora o que acontece é que os partidos de Rajoy e Iglesias são também os que têm um eleitorado mais fiel, óbvio no caso do PP, que está reduzido quase aos indefectíveis e dificilmente descerá mais, mas uma novidade à espera de confirmação no que respeita ao Podemos, partido nascido há pouco mais de dois anos. Dos eleitores que votaram na formação de Iglesias (e também na de Gárzon) em Dezembro, 79% diz que vai manter a sua escolha, enquanto 78% dos que votaram PP o fará de novo.
O desinteresse normal dos espanhóis, depois da incapacidade dos partidos em negociar uma solução, deverá fazer aumentar a abstenção (pode ser até 5 pontos mais alta), uma vantagem acrescida para os partidos com eleitores que se dizem mais fiéis.