Sim ou não? In or out? Cameron ou Johnson?
Daqui a 19 dias, os britânicos votam o "Brexit". O génio regressará para dentro da garrafa?
O referendo foi uma invenção de David Cameron, em Janeiro de 2013, para tentar tirar protagonismo ao UKIP e acalmar os conservadores eurocépticos, numa altura em que se adivinhavam europeias difíceis (que seriam ganhas por Nigel Farage) e em que o próprio procurava a reeleição em Maio de 2015, que conseguiu. Mas como diz Teresa de Sousa, Cameron tirou o génio da garrafa e agora não consegue fechá-lo de novo lá dentro. A comprová-lo estão as mais recentes sondagens que começam a mostrar não só uma aproximação entre o "sim" à permanência e o "não" como já há algumas que colocam o "não" à frente.
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O referendo foi uma invenção de David Cameron, em Janeiro de 2013, para tentar tirar protagonismo ao UKIP e acalmar os conservadores eurocépticos, numa altura em que se adivinhavam europeias difíceis (que seriam ganhas por Nigel Farage) e em que o próprio procurava a reeleição em Maio de 2015, que conseguiu. Mas como diz Teresa de Sousa, Cameron tirou o génio da garrafa e agora não consegue fechá-lo de novo lá dentro. A comprová-lo estão as mais recentes sondagens que começam a mostrar não só uma aproximação entre o "sim" à permanência e o "não" como já há algumas que colocam o "não" à frente.
Politicamente, o referendo transformou-se numa espécie de primárias para a liderança dos tories, com a campanha pálida pelo "sim" de Jeremy Corbyn, dos trabalhistas, a deixar o protagonismo todo para as duplas conservadoras David Cameron-George Osborne e Boris Johnson-Michael Gove.
Tematicamente, o referendo trouxe à discussão o tema da imigração, que dá jeito aos eurocépticos, enquanto do outro lado os que lutam pelo "sim" apostaram na economia, numa táctica que os primeiros apelidaram de "Project Fear".
O tema da imigração provocou algum desconforto a David Cameron esta semana, já que saíram estatísticas a revelar a entrada (líquida de saídas) de 330 mil pessoas em 2015, o valor mais elevado desde que há dados, sendo que 184 mil foram cidadãos comunitários. Cameron prometera uma meta inferior a cem mil por ano.
A campanha pelo "não" agarrou nestes números, misturou-os com o papão da adesão da Turquia à União (que Cameron espirituosamente disse que só vai acontecer no ano 3000) e com o suposto “abuso” que os imigrantes fazem da hospitalidade dos sistema de saúde, educação e segurança social para fazer uma campanha que valoriza não só o medo mas que também tem muita hipocrisia pelo meio. Um estudo da Universidade de Oxford mostra que 6% da população activa do Reino Unido é constituída por imigrantes, mas estes são apenas 2% dos que recebem subsídios de desemprego ou de doença.
Do lado do "sim" mostram-se estudos atrás de estudos para comprovar que os britânicos vão ficar mais pobres se abandonarem o mercado único: G7, FMI, OCDE, o grupo das 600 empresas, Banco de Inglaterra e até o Ministério da Finanças, que diz que, mesmo com um acordo comercial pós-"Brexit", o PIB cairia 3,6% e se perderia mais de meio milhão de postos de trabalho. É aquilo que Cameron apelidou de “recessão auto-infligida”.
No dia 24, o day after, se o Reino Unido optar pela saída, e parafraseado uma carta de John le Carré e outras personalidades da cultura a apoiar a permanência, os britânicos transformar-se-ão “num estranho a tentar fazer-se ouvir do lado de fora”. E vão querer ser ouvidos porque os problemas da economia ou da imigração não vão desaparecer com um "sim" ou um "não".