Dijsselbloem diz à Comissão para “dar mais atenção à sua credibilidade”

Presidente do Eurogrupo contra o “fechar de olhos” da Comissão Europeia aos incumprimentos das regras orçamentais por parte de alguns países.

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Jeroen Dijsselbloem criticou declarações de Jean-Claude Juncker Reuters

As mostras públicas de desagrado do presidente do Eurogrupo com a forma como a Comissão Europeia está a lidar com os países que não cumprem as regras orçamentais europeias subiu esta sexta-feira de tom, com Jeroen Dijsselbloem a dar a entender que a credibilidade da entidade liderada por Jean-Claude Juncker pode estar a ser colocada em causa.

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As mostras públicas de desagrado do presidente do Eurogrupo com a forma como a Comissão Europeia está a lidar com os países que não cumprem as regras orçamentais europeias subiu esta sexta-feira de tom, com Jeroen Dijsselbloem a dar a entender que a credibilidade da entidade liderada por Jean-Claude Juncker pode estar a ser colocada em causa.

Numa entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, Dijsselbloem criticou as recentes declarações do presidente da Comissão Europeia, que, ao ser questionado sobre os motivos que levam a que a França ainda não tenha sido alvo de sanções, respondeu que tal acontecia “porque é a França”.

O presidente do Eurogrupo diz que esse tipo de pensamento constitui um golpe à credibilidade da Comissão. “Se o presidente da Comissão diz que as coisas se aplicam de forma diferente para a França, então isso prejudica realmente a credibilidade da Comissão como guardiã do Pacto”, afirmou, deixando um conselho a Jean-Claude Juncker: “Seria sensato que a comissão desse um pouco mais de atenção à sua credibilidade”.

Em 2015, depois de a França ter violado as regras orçamentais europeias, a Comissão Europeia deu ao país dois anos extra para colocar o défice público abaixo de 3%, algo que poderá acabar por não acontecer.

Em Maio, quando chamados a pronunciar-se sobre a situação de Portugal e da Espanha que também não cumpriram as metas orçamentais que lhes estavam impostas, os comissários europeus optaram por adiar para Julho uma decisão, dando como argumento a realização de eleições em Espanha. Esta opção tem sido também alvo de críticas em diversas capitais europeias, com destaque para os responsáveis políticos alemães e para o próprio Jeroen Dijsselbloem, o holandês que lidera as reuniões dos ministros das Finanças da zona euro.

Na semana passada, Dijsselbloem disse em relação a Portugal e à Espanha que "as sanções são absolutamente uma possibilidade porque estão nas nossas regras e regulamentos".

Agora, na entrevista dada ao diário alemão, reforçou esta ideia. “É preciso ter um pouco de cuidado para perceber se é vantajoso que a Comissão feche os olhos. É que no final, se se fecha os olhos a tudo, ficamos com uma união monetária cega”, afirmou o presidente do Eurogrupo. 

Em resposta à entrevista de Dijsselbloem, os responsáveis da Comissão Europeia limitaram-se a afirmar, por intermédio do seu porta-voz, que actuam "no contexto das regras jurídicas que regem a governação económica europeia". "Como é sabido, a Comissão recomendou orientações precisas para a politica orçamental de Espanha e Portugal, no quadro das recomendações especificas por país (...), que serão a base para as deliberações ao Conselho quando o Conselho decidir abordá-las. A 18 de maio fomos muito claros ao indicar que voltaremos à questão (de eventuais sanções) no início de julho", declarou Margaritis Schinas, citado pela Lusa.