Um pouco mais de esforço, por favor
Seria importante que ninguém ficasse de fora de uma iniciativa contra as sanções de Bruxelas
Os socialistas vão apresentar uma resolução na Assembleia da República contra a aplicação de sanções a Portugal por parte da Comissão Europeia, devido ao procedimento por défice excessivo. O objectivo é conseguir que todas as forças políticas com representação parlamentar apoiem o texto, que assim funcionaria como um activo político junto de Bruxelas. Conhecida que é a enorme clivagem entre os dois partidos à direita e a maioria à esquerda que apoia o Governo, a tarefa do PS parece votada ao fracasso. Mas será politicamente sustentável que PSD e CDS se ponham de fora deste consenso, quando o que está em causa são multas que podem chegar aos 0,2% do PIB, qualquer coisa como 350 milhões de euros? Poder, podem, mas com custos políticos elevadíssimos. Desde logo junto do seu próprio eleitorado, que dificilmente compreenderia que razões de rivalidade política se sobrepusessem ao interesse nacional, contribuindo também para bloquear o acesso do país aos fundos estruturais, com consequências directas no crescimento económico e na saída de Portugal do procedimento por défice excessivo. Ou seja, mais sacrifícios para os portugueses. Acresce que o PSD correria o risco de ser acusado de incoerência, dado que o próprio já tomou iniciativas contra a aplicação de sanções, quer junto de Juncker, quer junto da Comissão Europeia.
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Os socialistas vão apresentar uma resolução na Assembleia da República contra a aplicação de sanções a Portugal por parte da Comissão Europeia, devido ao procedimento por défice excessivo. O objectivo é conseguir que todas as forças políticas com representação parlamentar apoiem o texto, que assim funcionaria como um activo político junto de Bruxelas. Conhecida que é a enorme clivagem entre os dois partidos à direita e a maioria à esquerda que apoia o Governo, a tarefa do PS parece votada ao fracasso. Mas será politicamente sustentável que PSD e CDS se ponham de fora deste consenso, quando o que está em causa são multas que podem chegar aos 0,2% do PIB, qualquer coisa como 350 milhões de euros? Poder, podem, mas com custos políticos elevadíssimos. Desde logo junto do seu próprio eleitorado, que dificilmente compreenderia que razões de rivalidade política se sobrepusessem ao interesse nacional, contribuindo também para bloquear o acesso do país aos fundos estruturais, com consequências directas no crescimento económico e na saída de Portugal do procedimento por défice excessivo. Ou seja, mais sacrifícios para os portugueses. Acresce que o PSD correria o risco de ser acusado de incoerência, dado que o próprio já tomou iniciativas contra a aplicação de sanções, quer junto de Juncker, quer junto da Comissão Europeia.
Mas há ainda um outro aspecto a ter em conta por parte de centristas e sociais-democratas antes de tomarem uma posição sobre este assunto: a sua relação com o Presidente da República. É óbvio que Marcelo fez da questão das sanções uma prioridade política de curto prazo, aliás, a razão essencial da sua visita-relâmpago à Alemanha para se encontrar com o seu homólogo Joachim Gauck e com a chanceler Angela Merkel. O timing foi perfeito, visto ter sido na sequência de declarações pouco animadoras de Wolfang Schauble, que não gostou da decisão da Comissão Europeia de adiar a decisão sobre as sanções a Portugal, o que é muito eloquente sobre o grau de preocupação de Marcelo. Assim sendo, o facto de a direita poder não acompanhar os esforços do Presidente não contribui em nada para a construção de uma relação mais estreita entre o chefe de Estado e os partidos do seu próprio espaço político. Ora hostilizar Marcelo, não tirando vantagem da sua popularidade e influência crescente é, no actual contexto, um erro político crasso.
Não obstante, será muito difícil PSD e CDS subscreverem um texto conjunto com os outros partidos no Parlamento. À tensão com os socialistas, que o correr da sessão legislativa só tem acentuado (com culpas de parte a parte), somam-se as diferenças abissais relativamente a BE e PCP e a ausência de diálogo entre os dois grandes blocos políticos. Daí ser tão difícil imaginar a possibilidade de um texto conjunto, negociado entre as partes, que não belisque a face de actuais e ex-governantes. A não ser que o PS perceba a importância de não deixar ninguém de fora e que o PSD entenda os riscos da vertigem isolacionista. O esforço valeria a pena.