Campo do “Brexit" sobe nas sondagens e centra debate na imigração

Proposto sistema de pontos em que qualquer “imigrante económico” que queira trabalhar no Reino Unido “deverá ser qualificado para o posto a que se candidata, o que pode implicar “um bom domínio do inglês”.

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Partidário da saída da UE num comício do partido antieuropeu UKIP Paul Ellis/AFP

A incerteza sobre o resultado ao referendo que decidirá já no dia 23 a permanência ou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) mantém-se, mas as novas sondagens realizadas pelo ICM para o jornal The Guardian dão o “não” à frente, no mesmo dia em que os seus principais defensores apresentaram uma proposta para endurecer as políticas de imigração.

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A incerteza sobre o resultado ao referendo que decidirá já no dia 23 a permanência ou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) mantém-se, mas as novas sondagens realizadas pelo ICM para o jornal The Guardian dão o “não” à frente, no mesmo dia em que os seus principais defensores apresentaram uma proposta para endurecer as políticas de imigração.

Estes inquéritos de opinião são os primeiros feitos depois de ter sido divulgado que ao longo do ano passado chegaram ao país mais 330 mil pessoas do que as que saíram – o segundo valor mais alto desde que os dados começaram a ser compilados, em 1975. Destes, 184 mil foram cidadãos comunitários, beneficiários da livre circulação na UE, um número que iguala o anterior recorde.

Até agora, as sondagens realizadas por telefone sobre o referendo de dia 23 de Junho davam tendencialmente a vitória à permanência, enquanto nos inquéritos feitos online a margem do “não” era significativamente maior. Desta vez, as sondagens do ICM, tanto a online como a telefónica, estão empatadas, ambas com 52% dos eleitores a votarem pela saída. “É só uma sondagem. Mas, numa alteração significativa da tendência, os dois inquéritos são consistentes nas intenções de voto”, diz ao Guardian o director do instituto, Michael Bloom.

“Medos da migração dão liderança nas sondagens ao ‘Brexit’”, escreve o Independent, num momento em este se desenha como o tema central da campanha pela saída da UE. É a estratégia possível, já que os estudos sobre o impacto económico apontam todos para consequências negativas de uma saída – depois de ter dito que “não há qualquer lado positivo para o Reino Unido no [caso de vitória] do ‘Brexit’”, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) afirmou esta quarta-feira que “as ondas de choque poderão ser significativas para outros países”.

Os líderes do campo "Brexit" já tinham acusado o primeiro-ministro, David Cameron, de ter falhado a promessa de reduzir a imigração para o país feita em 2010 – o que os números do gabinete de estatísticas britânico vêm sublinhar. Para os principais rostos da defesa do “Brexit”, com o ex-presidente da câmara de Londres Boris Johnson (que aspira chegar à liderança do Governo) à cabeça, o aumento do número de cidadãos europeus a viver no Reino Unido provoca “um peso insustentável” nos sistemas de saúde e de educação, assim como no preço da habitação.

“Até às próximas eleições legislativas vamos criar um verdadeiro sistema de imigração por pontos com base no modelo australiano”, escrevem num “comunicado conjunto” os conservadores Johnson, o ministro da Justiça Michael Gove, a secretária de Estado para o Emprego Priti Patel e a deputada Gisela Stuart. A ideia é que, após a saída, os cidadãos de países da União sejam tratados como quaisquer outros, perdendo “o direito automático de viver e trabalhar no Reino Unido”. Esta mudança, garantem, não afectará os cerca de três milhões de pessoas de países da União que lá residem.

“Queremos continuar a beneficiar da imigração. Mas se vamos receber mais pessoas os britânicos têm de saber que controlamos quem vem. Estar na UE significa que não temos controlo”, lê-se no texto. A ideia é instituir um sistema de pontos (existe em vários países, o primeiro a adoptá-lo foi a Austrália) em que cada pedido de autorização de permanência para trabalho seja tratado em função das competências e qualificações de quem o faz, “sem discriminação baseada na nacionalidade”.

Um “imigrante económico” que queira trabalhar no Reino Unido, detalham os partidários da saída, “deverá ser qualificado para o posto a que se candidata". Nalguns casos, poderá ser exigido “um bom domínio do inglês”.

“Vamos conseguir gerir a imigração de acordo com as necessidades da economia. Receberemos novos cidadãos que queiram contribuir para a nossa sociedade, como tantos imigrantes fizeram. E com um sistema de pontos vamos ser capazes de nos livrar dos que abusam da nossa hospitalidade”, escrevem ainda. Este “abuso” é posto em causa pelos dados: 6% da população activa do Reino Unido é constituída por imigrantes, mas estes são apenas 2% dos que recebem subsídios de desemprego ou doença, segundo um estudo de Abril da Universidade de Oxford.

Claro que nenhum dos defensores destas mudanças tem poder para as levar a cabo – só uma maioria no Parlamento pode fazê-lo. E pôr em prática um sistema destes não implica só sair da UE, mas também abandonar o mercado único, o que a Confederação da Indústria Britânica considera que seria “altamente prejudicial para a economia.