José Cid e o brio transmontano

Os transmontanos têm o seu próprio cunho, são portadores de uma identidade perdida no tempo e "à carga fechada"

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Bruno Simões Castanheira

Acredito que o Tio Cid esteja "como um chapéu dum pobre", pois sei bem que se aquela gente o vir é bem capaz de lhe dar com um "arrotcho". Eu nunca fui a Trás-os-Montes, mas conheço de cor a fibra daquele povo. Eles chegaram até mim, trouxeram as raízes e o orgulho da pertença, semearam a admiração através da essência, os transmontanos são "guichos", vivaços como poucos, finos e inteligentes como muitos. Existe muito pouca gente com a vaidade de o ser como eles são.

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Acredito que o Tio Cid esteja "como um chapéu dum pobre", pois sei bem que se aquela gente o vir é bem capaz de lhe dar com um "arrotcho". Eu nunca fui a Trás-os-Montes, mas conheço de cor a fibra daquele povo. Eles chegaram até mim, trouxeram as raízes e o orgulho da pertença, semearam a admiração através da essência, os transmontanos são "guichos", vivaços como poucos, finos e inteligentes como muitos. Existe muito pouca gente com a vaidade de o ser como eles são.

Não conheço a terra, mas já bebi dela, vi reflectido nos olhos do amigo Barroso o brilho da honra, mais que o da uva, quando me deu a provar o vinho de Valpaços como se tivesse sido abençoado por Baco, apenas porque fora produzido pelos seus e se eu não o bebesse todo "levava uma data com um guiço que me escambalha todo". Ficava sempre com uma "cardina" que valia bem a pena.

Os enchidos da "cinisga" Vanessa traziam a alma de gente que mete o coração naquilo que faz. Ou o dialeto carregado sentido pela Sofia. Aquele sentimento de pertença, de honra e de orgulho não é comum nos tempos de hoje. Acredito que lhes seja dado no berço e é um legado para a vida. Eles são unidos, valentes, nunca se vergam mesmo depois de vergados e são todos por um no pior dos momentos.

Quando um trasmontano se cruza com outro por esse mundo fora dá-se logo uma festa de "grandura" e serão logo ali amigos para o resto da vida. Tratam os homens conhecidos por "ti-home", nunca dão um responso porque dão um "ralhete", quando estão sem fazer nada ficam a "recocar", se, por acaso, que é raro, a comida ficar de um dia para o outro fica "rebida", um porco é um "reco", um "bardino é um velhaco, "desenguiçam o cabelo para o pentear e a saudade para eles é "soidade".

"Bodalhice"

Os transmontanos têm o seu próprio cunho, são portadores de uma identidade perdida no tempo e "à carga fechada". Mesmo sem conhecer Trás-os-Montes, eu conheço-lhes aquele sentido de honra que só os bravos carregam. E é por isso que os entendo, quando o José Cid lhes acometeu uma "bodalhice". Ele não se dirigiu a um, atacou-lhes o coração a todos e ao mesmo tempo. Depois de o ouvirem, fizeram aquilo que sabem fazer melhor: ser transmontanos. Uniram-se numa só dor que parecia ser ferida em todos e foram curá-la. Mas todos, nenhum ficou para trás.

Levaram foi a peito uma opinião de José Cid, esqueceram-se do maior motivo para não se sentirem ofendidos nem a terem levado a sério: Cid não é bom a falar e muito menos o será quando se trata de falar sobre gente de feitos e de uma essência tremenda. Mas os transmontanos não são injustos e o que me baralhou a sério foi perceber que, no meio de uma confusão tomada pelos contornos das redes sociais, se confundiu alguém que podia ser um transmontano puro. Para mim, Nuno Markl é um transmontano como aqueles de que falei; como os que conheço. Facilmente, o via embuído destas expressões que só um trasmontano conhece e rapidamente o perceberia orgulhoso disso mesmo.

Acho que deviam todos fazer as pazes: "botar" um copo de vinho de Valpaços, "muquir" enchidos de Vinhais porque nunca se acabam, "abundam", fazerem todos uma "bucha", com o Tio Zé a tocar. Onde se pudesse sentir aquele povo rijo e o sentimento único de solidariedade e pôr de lado a "chaldraria".