Site oficial da Coreia do Norte apoia Trump contra a "entediante" Clinton
Artigo de opinião salienta que o candidato do Partido Republicano está disposto a dialogar com Kim Jong-un. Especialistas falam em tentativa de influenciar o debate nos EUA.
Não é uma posição oficial da Coreia do Norte, mas os especialistas dizem que pode ser vista como uma tentativa de "testar as águas": num artigo de opinião publicado esta terça-feira, o site norte-coreano DPRK Today elogia Donald Trump por admitir dialogar com Kim Jong-un e diz que o candidato do Partido Republicano é melhor do que a "entediante" Hillary Clinton.
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Não é uma posição oficial da Coreia do Norte, mas os especialistas dizem que pode ser vista como uma tentativa de "testar as águas": num artigo de opinião publicado esta terça-feira, o site norte-coreano DPRK Today elogia Donald Trump por admitir dialogar com Kim Jong-un e diz que o candidato do Partido Republicano é melhor do que a "entediante" Hillary Clinton.
"Na minha opinião, há muitos aspectos positivos nas 'políticas inflamatórias' de Trump", escreveu no DPRK Today um autor que se apresenta como Han Yong Moonk e que diz ser um académico chinês de origem norte-coreana.
"Trump disse que não irá intrometer-se na guerra entre o Sul e o Norte. Isto não é positivo do ponto de vista da Coreia do Norte?", questiona o autor.
O artigo em causa não representa qualquer posição do governo norte-coreano, mas o facto de ter sido publicado num dos poucos sites oficiais do país indica que Pyongyang "está a testar as águas", disse ao site NK News o especialista Aidan Foster-Caster, que estuda a península coreana na Universidade de Leeds, classificando a publicação do texto como "surpreendente".
As autoridades norte-coreanas podem estar a lançar o isco para ver se os candidatos à nomeação pelo Partido Republicano e pelo Partido Democrata voltam a falar sobre a política dos EUA em relação à Coreia do Norte, e se Donald Trump volta a comprometer-se a dialogar com Kim Jong-un.
Trump, que deverá ser nomeado em Julho como candidato oficial do Partido Republicano às eleições para a Casa Branca, disse numa entrevista à agência Reuters que não teria problemas em falar com o líder norte-coreano, naquela que seria uma viragem radical em relação à política da Administração Obama.
Nessa entrevista, publicada no dia 18 de Maio, Donald Trump disse que "não teria quaisquer problemas" em falar com Kim Jong-un, e disse que iria pressionar a China a resolver o problema do programa nuclear norte-coreano: "A China consegue resolver esse problema com uma reunião ou com um telefonema."
Uma semana depois da entrevista de Donald Trump, o embaixador da Coreia do Norte na ONU em Genebra, So Se Pyong, desvalorizou a proposta de diálogo, descrevendo-a como "propaganda com fins eleitorais": "Cabe apenas ao supremo líder decidir se vai ou não reunir-se [com Trump], mas acho que essa ideia não faz sentido."
Mas o artigo publicado na DPRK Today vai em sentido contrário, afirmando mesmo que se os EUA retirarem a sua presença militar da península da Coreia a reunificação será uma realidade: "O dia em que o slogan 'Yankee Go Home' se tornar uma realidade será o dia da reunificação coreana".
Segundo a tradução do site NK News, o autor deixa também um conselho aos eleitores norte-americanos: "O Presidente em quem os cidadãos dos EUA devem votar não é na entediante Hillary Clinton – que diz querer adaptar o modelo iraniano para resolver os problemas na península coreana – mas sim em Trump, que admitiu dialogar directamente com a Coreia do Norte."
John Feffer, director do instituto Foreign Policy in Focus, com sede na capital dos EUA, considera que a Coreia do Norte está a testar a política de "paciência estratégica" da Administração Obama, numa altura em que a Casa Branca está na mira de Trump – a quem chama "o Dennis Rodman da política americana", numa referência às visitas à Coreia do Norte do extravagante antigo jogador da NBA.
"Pyongyang espera que ele seja eleito (e que cumpra as suas promessas) ou que as suas declarações mudem o jogo político nos Estados Unidos e influenciem a forma como o Partido Democrático e os Republicanos mais tradicionais olham para os assuntos coreanos", disse o especialista ao site NK News.