Marcelo satisfeito com a “compreensão” da Alemanha sobre Portugal

À saída de reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente afirmou que a visita a Berlim “correu muitíssimo melhor do que teria esperado”.

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Os presidentes alemão e português estiveram reunidos em Berlim

Lacónico mas optimista, Marcelo Rebelo de Sousa saiu da reunião com a chanceler Angela Merkel a afirmar que a visita oficial à Alemanha “correu muitíssimo melhor do que teria esperado”. “Saio daqui com a noção clara de que há uma grande compreensão com o que se passa em Portugal e que há uma grande abertura e espírito de cooperação”, disse o Presidente português na rua aos jornalistas, já que não houve conferência de imprensa conjunta entre a chefe de governo de Berlim e o chefe de Estado português.

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Lacónico mas optimista, Marcelo Rebelo de Sousa saiu da reunião com a chanceler Angela Merkel a afirmar que a visita oficial à Alemanha “correu muitíssimo melhor do que teria esperado”. “Saio daqui com a noção clara de que há uma grande compreensão com o que se passa em Portugal e que há uma grande abertura e espírito de cooperação”, disse o Presidente português na rua aos jornalistas, já que não houve conferência de imprensa conjunta entre a chefe de governo de Berlim e o chefe de Estado português.

Essa sessão mais formal de declarações e perguntas tinha acontecido ao final da manhã, após o encontro entre os dois presidentes da República. Aí, Joachim Gauck afirmou reconhecer o esforço feito por Portugal nos últimos anos, mas rejeitou "imiscuir-se" na questão das eventuais sanções da Comissão Europeia a Portugal por incumprimento do Tratado Orçamental no que diz respeito ao défice. "Não quero imiscuir-me nos assuntos do Governo e Parlamento (federais) e muito menos dar conselhos ao Conselho Europeu e instituições europeias", disse Joachim Gauck, citado pela Lusa.

O Presidente da Alemanha afirmou, todavia, que "é com grande respeito que o povo alemão tem acompanhado os esforços feitos por Portugal para concluir o programa de ajustamento" e realçou que "convém ter em mente que os povos sofrem com o rumo da austeridade e é necessária muita coragem política também para aplicar os programas". "Não estou céptico no que se refere ao caminho trilhado por Portugal", que "tem sempre sublinhado o seu rumo europeu", disse.

Esta era a grande questão colocada por Marcelo Rebelo de Sousa nesta visita de dois dias a Berlim, mas, no final do encontro com a chanceler Merkel, disse não poder “falar pelo Governo alemão” sobre a posição que este tomará quando a Comissão Europeia vier a decidir sobre a aplicação de sanções a Portugal e Espanha. Tanto mais que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, se manifestou contra o adiamento da decisão.

Mas foi perante esta questão que o Presidente português afirmou com ênfase que “valeu a pena a visita”. “Vou satisfeito com o que senti e ouvi da parte de Angela Merkel, a chanceler acompanha muito bem o que se passa em Portugal”, afirmou o Presidente português.

Questionado sobre que ecos teve da chefe de governo alemã sobre a questão da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, Marcelo não quis revelar o conteúdo da conversa, afirmando que “esse problema específico tem que ver com instituições europeias”. Apenas acrescentou manter a posição que lhe é conhecida – a defesa da possibilidade de o Estado poder reforçar o capital do banco público, ao contrário do que defende Bruxelas. “Não vejo nenhuma razão para estar pessimista com essa hipótese, nenhuma razão”, frisou.

O optimismo vinha já do encontro com o Presidente Gauck. Durante a conferência de imprensa conjunta, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se convicto de que os parceiros europeus de Portugal, e designadamente a Alemanha, "perceberão" que os "sacrifícios grandes do povo português nos últimos quatro anos" merecem ser "compreendida e nunca abandonada ou punida". "Fico grato, como representante das portuguesas e dos portugueses, pelo facto de o Presidente alemão traduzir o reconhecimento desse esforço", disse o Presidente da República.

Por seu lado, Gauck sublinhou que, ao contrário do que por vezes é descrito, o Governo alemão "não representa aquele elemento ameaçador", e disse que "é com reconhecimento" que acompanha as posições do Governo federal sobre questões de estabilidade financeira". "O nosso país procura a unidade europeia. Queremos a coesão da Europa, e este desejo é a nossa directriz", declarou.

Elogios mútuos sobre refugiados

Os presidentes da Alemanha e de Portugal teceram, por outro lado, elogios mútuos ao trabalho de ambos os países na gestão da crise migratória, com Joachim Gauck a garantir que os alemães ficaram "profundamente impressionados" com os portugueses no acolhimento de refugiados.

"Há uma cooperação estreita entre os dois países na gestão dos fluxos migratórios. Ficámos profundamente impressionados com a atitude portuguesa perante os refugiados. Portugal deu as boas-vindas a muitos", destacou Gauck, na conferência de imprensa conjunta.

Por seu turno, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "Portugal elogia a Alemanha pela coragem com que soube enfrentar o problema dos refugiados", pois, "numa ocasião em que muitos adiaram, evitaram, omitiram, a Alemanha teve a coragem de enfrentar o problema sem hesitações".

"E Portugal apoiou. Portugal é dos países europeus, comparando com a população, que mais refugiados receberam e vai receber, tendo já elevado, por sua iniciativa própria, a quota de refugiados que está disponível" para acolher, "como forma de manifestar o apoio a uma iniciativa em boa hora tomada pela Alemanha", enfatizou.

No entanto, o chefe de Estado salientou que a crise de refugiados exige uma resposta mais ampla. "Aí, os nossos dois países estão de acordo: tem de haver uma posição europeia relativamente ao problema dos refugiados", concluiu.