Administração trava demissões em bloco no Centro Hospitalar do Algarve

Directores avisam que unidade não está preparada “para fazer face às necessidades assistenciais que se avizinham”. Ministério reconhece que há falta de médicos no Algarve e garante que “está a resolver”.

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Com o Verão à porta, a capacidade de resposta médica no Algarve pode estar comprometida Público

Os directores de serviço da Unidade de Faro do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) ameaçaram há dias demitir-se em bloco em plena reunião do conselho de administração (CA) como forma de pressão para que o Ministério da Saúde resolva os problemas de falta de recursos humanos nas áreas da anestesia, ortopedia e obstetrícia. Mas a investida foi travada pela administração.

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Os directores de serviço da Unidade de Faro do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) ameaçaram há dias demitir-se em bloco em plena reunião do conselho de administração (CA) como forma de pressão para que o Ministério da Saúde resolva os problemas de falta de recursos humanos nas áreas da anestesia, ortopedia e obstetrícia. Mas a investida foi travada pela administração.

Esta tomada de posição acontece alguns dias depois de Jorge Salvador e Alexandra Adams, respectivamente directores dos serviços de Ortopedia e Neurocirurgia, terem apresentado os seus pedidos de demissão. Os directores de serviço ameaçaram demitir-se no decorrer da primeira reunião convocada pela nova administração, presidida por Joaquim Ramalho, e o objectivo desta tomada de posição era, de acordo com relatos feitos ao PÚBLICO, o de “dar força ao CA para negociar com o Ministério da Saúde a falta de especialistas no CHA, que Adalberto Campos Fernandes prometeu resolver até ao final do mês de Maio”.

A escassez de recursos humanos no CHA não é nova mas, segundo adiantaram ao PÚBLICO médicos da unidade, agravou-se com a alteração dos horários no bloco operatório. O mal-estar na unidade de Faro alastrou-se já à Neurologia. O director do serviço, Carlos Basílio, dá conta dos problemas com que se defronta todos os dias e reprova “a integração da Unidade de Acidentes Vasculares Cerebrais (UAVC) na Medicina Interna”, advertindo que “esta atitude demonstra total ausência de interesse para com o doente cerebrovascular agudo”.

“Numa atitude eticamente reprovável, apercebemo-nos já que vários profissionais, alguns colaboradores da UAVC, foram informados da integração da Unidade de Acidentes Vasculares Cerebrais na Medicina Interna”, escreve Carlos Basílio na carta ao presidente do CA, a que o PÚBLICO teve acesso. O médico censura a “falta de empenho” da directora clínica-adjunta, Ana Lopes, na resolução das “dificuldades crescentes” da UAVC e afirma que “a condução deste processo é revelador de um total desrespeito e desconsideração para com o serviço de Neurologia”, tendo mesmo como “objectivos definidos o desgaste, desestabilização e destruição do serviço”.

Ana Lopes já reagiu a estes ataques e, na carta que escreveu à administração na terça-feira, afirma: “Julgo não estar ainda decidido se a UAVC será integrada na Medicina Interna. […] Não fui superiormente informada sobre a decisão proferida […] e considero que este processo […] tem sido conduzido com correcção e com respeito pelas hierarquias”, acrescenta a médica.

Resposta comprometida

A escassez de especialistas na área da Ortopedia é considerada neste momento a “grande debilidade” do CHA e compromete a resposta do Algarve, já que só há urgência nesta área às terças, quartas e quintas-feiras, o que implica que nos outros dias todos os traumatizados graves tenham de ser evacuados para Lisboa, o que acarreta “custos significativos”.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde diz estar “muito preocupado com a situação no Algarve, onde há problemas sérios de falta de recursos humanos”. “O Algarve está a ser tratado como uma região com particulares problemas de assistência hospitalar e o Ministério da Saúde está a tentar encontrar soluções para o recrutamento de médicos para tentar dar resposta aos problemas”, acrescentou fonte do gabinete do ministro Adalberto Campos Fernandes.

Para a tutela, a falta de ortopedistas é considerado “o caso mais gritante”. “Está a ser ultimada uma resposta para suprir a falta de recursos humanos”, realçou a mesma fonte, recusando-se a adiantar pormenores relativamente ao modelo de recrutamento que está a ser negociado.

Fontes hospitalares adiantaram ao PÚBLICO que a reunião com a administração decorreu num clima de alguma tensão, tendo os médicos contestado a decisão do CA de ter “demitido todos os directores de departamento [de Cirurgia, Urgência, Medicina e Materno-Infantil] da unidade de Faro, sem audição prévia e sem plano alternativo”.

O Verão está à porta

Preocupados com a “situação crítica do CHA”, os directores de departamento alertam para a “necessidade urgente de recursos humanos médicos” e para a “necessidade de reforço a nível da Obstetrícia e da Pediatria”, porque se isso não acontecer — dizem — “não haverá garantia de que a escala de urgências do mês de Junho seja exequível”.

Três meses depois de a nova administração ter tomado posse, os directores de departamento dão conta da “grave situação financeira” em que se encontra o centro hospitalar numa carta, dirigida ao director clinico do CHA, Carlos Santos, na qual advertem para o “facto de o Verão estar à porta, o que implica um aumento exponencial da população”. “Pensamos que a instituição não está de modo nenhum preparada para fazer face às necessidades assistenciais que se avizinham”, escrevem.

Por resolver está a demissão da directora de Neurocirurgia, Alexandra Adams, que, para além da falta de recursos, alegou não dispor de tempos operatórios suficientes para poder operar os doentes com patologia traumática (vítimas de acidente de viação), vascular (hemorragias e acidentes vasculares cerebrais) e tumoral (cancros). Sucede que a directora demissionária de Neurocirurgia já tinha alertado (em Novembro de 2015) o anterior presidente do CA do CHA, Pedro Nunes, para “a grave situação da falta de tempos operatórios”. Mas, com a reorganização dos horários do bloco, assumida pela nova administração, a situação agravou-se ainda mais, forçando a sua demissão.