G7 dividido entre o fantasma da crise de 2008 e o optimismo moderado
Líderes das maiores economias do mundo reunidos em cimeira têm na agenda a discussão das sanções económicas à Rússia, que se prolongam há quase dois anos.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, traçou perante os seus parceiros do G7, um grupo que reúne as maiores economias mundiais, paralelos entre a actual situação económica global e a derrocada financeira de 2008. Nem todos os líderes, porém, acreditam estar perante um cenário tão pessimista.
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O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, traçou perante os seus parceiros do G7, um grupo que reúne as maiores economias mundiais, paralelos entre a actual situação económica global e a derrocada financeira de 2008. Nem todos os líderes, porém, acreditam estar perante um cenário tão pessimista.
O G7 está reunido numa cimeira de dois dias no Japão, que arrancou nesta quinta-feira e tem uma agenda que inclui o arrefecimento das economias emergentes, as disputas marítimas na Ásia e as sanções económicas à Rússia por causa do conflito com a Ucrânia. Para além do Japão, fazem parte do grupo os EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália e França. A União Europeia também é representada nos encontros e a Rússia foi excluída no seguimento da crise ucraniana.
Segundo a agência Reuters, Abe – que lidera uma economia que se debate com um problema histórico de crescimento, mas que conseguiu evitar uma recessão no primeiro trimestre do ano – mostrou, entre outros gráficos, dados que indicavam que o preço das matérias-primas caiu 5% entre Junho de 2014 e o início deste ano, a mesma descida verificada num período semelhante após o colapso do banco Lehman Brothers, que viria a arrastar a economia mundial. Para além do preço do petróleo (que está num caminho de recuperação nas últimas semanas, mas que tem estado em níveis historicamente baixos), o arrefecimento de países como a China levou à quebra da cotação de várias matérias-primas usadas na produção industrial.
A comparação serve de argumento para a necessidade de investimento público e estímulo fiscal, uma via que alguns países, incluindo a Alemanha, não querem seguir, mas que tem sido a solução encontrada pelo Governo japonês para tentar fomentar o crescimento económico, a par de taxas de juro para terreno negativo por parte do banco central. Abe poderá estar a preparar-se para evitar um aumento de impostos sobre o consumo, que está calendarizado para o próximo ano.
O paralelo feito pelo primeiro-ministro japonês, contudo, não terá sido seguido por outros líderes. “Os líderes do G7 afirmaram que as economias emergentes estão numa situação grave, embora tenha havido opiniões de que a situação económica actual não é uma crise”, descreveu à Reuters Seko Hiroshige, um adjunto do Governo de Abe.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi dos que preferiram sublinhar o crescimento económico. “A recuperação da Comissão Europeia continua, apesar de um ambiente global mais difícil. Em 2015, o crescimento europeu atingiu 2% e 1,7% na zona euro”, afirmou, numa conferência de imprensa. Em seguida, elencou as medidas desenhadas para estimular a economia europeia e revelou que a Comissão vai propor uma extensão, além de 2018, do chamado Plano Juncker, o Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE). Em menos de um ano, o FEIE permitiu mais de 100 mil milhões de euros de novos investimentos, cerca de um terço do montante global do fundo, de 315 mil milhões de euros.
O presidente da Comissão Europeia pôs também a tónica nos acordos de comércio internacionais, com destaque para o TTIP, o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento. A União Europeia está “pronta e disponível” para concluir um acordo equilibrado com Barack Obama, disse Juncker, sublinhando que, nestas negociações, o “conteúdo é de longe mais importante do que os prazos”. “A União Europeia não vai baixar os standards a que estamos habituados”, disse. A UE e o Japão anunciaram ainda que pretendem fechar tão cedo quanto possível um acordo comercial. O objectivo é que esteja em vigor já no próximo ano.
Também a chanceler alemã fez na cimeira um apontamento optimista, embora com ressalvas. Angela Merkel afirmou que “a economia mundial está a mostrar sinais de crescimento estável”. Mas admitiu que ainda há “riscos” e reconheceu que o preço baixo das matérias-primas é um problema para muitos países.
Merkel comentou também outro dos temas da cimeira, ao afirmar que ainda é cedo para levantar as sanções à Rússia, impostas em Julho 2014, na sequência da disputa territorial com a Ucrânia. Porém, a continuidade das sanções – que terminam em Julho e às quais a Rússia respondeu com um corte de importações que afectou também produtores portugueses – parece estar a dividir a União. “Estamos cientes de que aumentou a resistência na UE ao prolongamento das sanções à Rússia”, reconheceu o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, numa entrevista durante uma visita à Lituânia.
Já o presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, fez questão de transmitir aos jornalistas uma posição de firmeza. “Quero dizer claramente que a nossa posição relativamente à Rússia, incluindo as sanções económicas, vai permanecer inalterada enquanto os acordos de Minsk não forem inteiramente implementados”, afirmou à margem da cimeira, referindo-se a um acordo de cessar-fogo assinado em 2014.
No final do encontro, nesta sexta-feira, o G7 não deverá quebrar a tradição e emitirá um comunicado com palavras sobre a necessidade de fomentar o crescimento económico global e alguns países conseguirão incluir passagens para usar nas respectivas políticas internas. Se repetir o que aconteceu na cimeira de Fevereiro do G20, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, poderá levar para casa um aviso sobre os perigos para a economia mundial de uma saída do Reino Unido da UE, que será referendada daqui a um mês e contra a qual tem feito campanha. Com Ana Rute Silva