A Arco fora da Arco
O sucesso de uma feira de arte são as vendas. Uma feira é uma feira e, numa feira, vende-se. Depois há os contactos, o lobby, e uma série de outras mais valias que o fluxo de gente, dinheiro e especialistas proporciona. No caso de eventos como uma feira de arte contemporânea há um outro factor de sucesso, difícil de aferir e quantificar, que é a forma como estes eventos são capazes de mobilizar as cidades onde acontecem e ser motor de exposições, debates, happenings, festas. Em Lisboa a questão é saber se o público, atraído por uma nova feira numa cidade que passou a encabeçar todos os tops das cidades turísticas do mundo, tem mais oferta cultural para além do previsível kitsch turístico.
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O sucesso de uma feira de arte são as vendas. Uma feira é uma feira e, numa feira, vende-se. Depois há os contactos, o lobby, e uma série de outras mais valias que o fluxo de gente, dinheiro e especialistas proporciona. No caso de eventos como uma feira de arte contemporânea há um outro factor de sucesso, difícil de aferir e quantificar, que é a forma como estes eventos são capazes de mobilizar as cidades onde acontecem e ser motor de exposições, debates, happenings, festas. Em Lisboa a questão é saber se o público, atraído por uma nova feira numa cidade que passou a encabeçar todos os tops das cidades turísticas do mundo, tem mais oferta cultural para além do previsível kitsch turístico.
Se localmente a ArcoLisboa pode ser entendida como festa da arte, há um público especializado internacional (é pelo menos essa a nossa esperança) que para além dos pastéis de Belém, das casas de fado e das excursões à beira rio num muito típico tuk-tuk, procura um contexto de cultura contemporânea a que é preciso corresponder: não basta garantir coleccionadores com bolsos bem recheados e as galerias certas na feira, mas é preciso que a arte, dentro e fora dela, seja boa.
Na ArcoLisboa uma parte desta equação do sucesso parece estar resolvida: ainda que não haja projectos especiais e inéditos de artistas, nem um programa de conferências apelativo (com as evidentes e devidas excepções), as galerias souberam escolher obras excelentes que, de algum modo, anulam aquele mal estar e confusão tão típica de feira que cega o visitante tornando-o incapaz de ‘ver-arte’ e a aposta em apresentações rigorosas e nada feirantes é de congratular.
Resta saber se fora das portas da Cordoaria a cidade, os museus, as galerias, e os próprios artistas, conseguem corresponder à ambição de uma feira internacional de arte contemporânea. O programa paralelo proposto pela ArcoLisboa, cuja comunicação é má e feita misteriosamente, percorre as principais zonas da cidade onde existem galerias, museus e espaços expositivos. As exposições abertas marcam um ponto importante na programação anual e a simultaneidade da Arco criou um dinamismo que há muito não se via em Lisboa.
Há exposições notáveis e globalmente nota-se uma cena artística com uma imensa vontade de se renovar. As propostas, como interessa num meio que se quer dinâmico e contrário à repetição de lógicas e fórmulas dominantes, são muito variadas e entre exposições de artistas conceituados, novos artistas, portugueses e estrangeiros, com e sem curador, podem encontrar-se projectos de tipologias muito diferenciadas.
Por exemplo, em Xabregas é possível ver a exposição do artista histórico brasileiro Arthur Luiz Piza (Baginski), o famoso Miguel Rio Branco (Filomena Soares) ou a portuguesa Carla Filipe (Murias Centeno), mas é estranho que o espaço gerido pelos artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira não esteja neste programa nem seja sequer mencionado: com uma programação estimulante e muito arriscada e têm uma proposta para este final de semana organizada por Pedro Faro com o título If You Are So Smart, Why Aren’t You Rich?
Mas a estranheza relativamente a algumas omissões continua: a exposição da galeria 111, Os Índios da Meia-Praia, comissariada por Nuno Faria, é ignorada; não há qualquer menção ao novo Museu do Dinheiro com uma exposição de Pedro Paixão; ou a Ana Vidigal na Galeria Diferença, entre outras estranhezas.
Apesar dos problemas com a comunicação e selecção de projectos fora da feira — a que deveria ser dada maior e melhor atenção - as galerias mostraram um importante profissionalismo e entusiasmo ao conseguirem criar na cena artística de Lisboa um dinamismo importante. Contrariamente aos museus e instituições que parecem não querer fazer parte deste momento. Excepção feita às exposições que a EGEAC programou para estes dias: uma na Cordoaria, em que a partir do acervo do Museu da Marioneta convidou três artistas para construir obras novas e, a segunda, no Pavilhão Branco em que Julião Sarmento comissaria uma exposição de pintura de Eduardo Batarda.
Se a escolha da Cordoaria é excelente porque garante a sua inclusão num eixo museológico importante e histórico da cidade, ele tem de ser acompanhado por um maior investimento, qualidade e diversidade numa Arco fora da Arco, porque esta é uma forma não só de ultrapassar as limitações físicas, mas também porque pode constituir a singularidade e notoriedade deste tão importante acontecimento.