Há dinossauros autárquicos que querem disputar as antigas câmaras

Alguns autarcas impedidos de se candidatarem em 2013 estão desejosos de voltar à luta pela câmara de sempre. Há quem já esteja na corrida e quem cause rebuliço só pelo facto de poder vir a estar, como Isaltino Morais.

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2013 foi o primeiro ano em que os autarcas com três mandatos se viram impedidos de se recandidatarem à presidência do mesmo município Daniel Rocha

Há quem se mantenha “cool” em relação às autárquicas de 2017, como aconselhou Pedro Santana Lopes no congresso do PSD sobre uma eventual candidatura em Lisboa, mas também há águas que se começam a agitar no mundo autárquico. Alguns ex-presidentes de câmara durante largos anos que foram impedidos, pela lei da limitação dos mandatos, de se recandidatem nos seus municípios nas eleições de 2013, estão disponíveis para voltar ao terreno e tentar reconquistar aos sucessores o lugar que costumava ser seu.

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Há quem se mantenha “cool” em relação às autárquicas de 2017, como aconselhou Pedro Santana Lopes no congresso do PSD sobre uma eventual candidatura em Lisboa, mas também há águas que se começam a agitar no mundo autárquico. Alguns ex-presidentes de câmara durante largos anos que foram impedidos, pela lei da limitação dos mandatos, de se recandidatem nos seus municípios nas eleições de 2013, estão disponíveis para voltar ao terreno e tentar reconquistar aos sucessores o lugar que costumava ser seu.

A mais de um ano das eleições, há quem diga que ainda é cedo para assumir uma posição definida. Mas há quem já esteja a colocar-se no tabuleiro, antes mesmo de os partidos pensarem a sério no assunto. Rondão de Almeida é candidato certo em Elvas; Narciso Mota forçará o PSD a uma escolha em Pombal; Litério Marques, em Anadia, não diz que não a um regresso; e António Bragança Fernandes, que cumpre o último mandato como presidente na Maia, está disponível para ser candidato noutra câmara.

Mas há ainda os casos mais conhecidos. Em Oeiras, desde que Isaltino Morais recusou o convite do sucessor Paulo Vistas para se manter à frente da Mesa da Associação Oeiras Mais à Frente, todos acreditam que o ex-autarca pondera uma candidatura e os eleitores com telefone fixo até já foram sondados. Na Amadora há quem suspire pelo socialista Joaquim Raposo, hoje deputado. E, em Braga, Mesquita Machado foi colocado numa sondagem, apurou o PÚBLICO, apesar de o ex-autarca se colocar de fora da corrida.

O regresso

Desfiliou-se do PS no dia 25 de Abril. “Tenho as faculdades todas, físicas e mentais, para poder trabalhar em prol do meu concelho”. Quem o diz é Rondão de Almeida. O histórico presidente da Câmara de Elvas, distrito de Portalegre, está zangado com o sucessor, que ele próprio escolheu: “Este mandato foi uma desilusão”, conta ao PÚBLICO. Não acredita que a renovação autárquica se faça só pela presidência, mas por um misto geral de juventude e experiência na equipa.  Por isso não vê com maus olhos o desafio que está a fazer ao actual presidente da câmara, Nuno Mocinha. “Tem de haver um certo respeito por quem lhe deu a mão. O meu pai tinha um ditado que era ‘se queres conhecer o teu amigo, dá-lhe algum poder’”.

O poder que diz ter dado ao seu sucessor foi o de ocupar o primeiro na lista ao executivo. Rondão de Almeida conta, quando este teve poder, “tentou humilhar em cada acção a pessoa que o trouxe para cima”. Rondão de Almeida continuou na vereação, funcionou como o presidente-sombra de Mocinha e a relação terminou em ruptura, com o presidente a retirar-lhe pelouros. A consumação do final da união será feita nas urnas em 2017. “Não estou preocupado com as divisões do eleitorado que se fidelizou ao PS”.

Rondão de Almeida foi presidente da Câmara durante 20 anos, entre 1993 e 2013, e há duas semanas criou o movimento “Elvas é o nosso partido”. Garante ao PÚBLICO que já tem pessoas para completar as listas à câmara municipal e à assembleia municipal. Luís Testa, presidente da Federação do PS de Portalegre, vê com “mágoa” esta decisão do ex-autarca. Defende a escolha de Nuno Mocinha como natural, argumentando que ele é o actual presidente “e não se mudam as regras a meio do jogo”.

Há maos dinossauros autárquicos que ficaram desiludidos com os sucessores. Muitos mantiveram-se como presidentes da assembleia municipal ou vereadores e continuam a ser sombras - alguns continuam até a serem tratados por “presidente”. Mas “uma câmara não pode ter dois presidentes”, diz Testa.

É essa “insatisfação” com o trabalho do autarca actual que leva também Narciso Mota a disponibilizar-se para avançar. Não o quer ainda dizer preto no branco, porque a reunião da concelhia do PSD de Pombal só acontece para a semana, mas assume ao PÚBLICO que vai lá explicar porque se considera uma boa opção: “Apresentarei as minhas razões para uma possível recandidatura”. Na conversa, Narciso Mota lembra que já tem 69 anos e que está “disponível”, esperando agora que haja uma onda de apoio do partido, se este entender “que é imperioso”. “Não estou satisfeito com o actual executivo que ajudei a eleger”, acrescenta.

A guerra em Pombal sobre quem vai ser o candidato do partido vai ser renhida. Diogo Mateus (PSD) é o actual presidente da câmara, mas Narciso Mota foi agora escolhido presidente da concelhia do partido. Diz que, se não for candidato pelo PSD, poderá sê-lo como independente. Ao PÚBLICO, o presidente da federação do PSD de Leiria, Rui Rocha, reconhece que prefere esperar pela decisão da concelhia para se pronunciar, de modo a perceber “a dimensão dessa divergência”. Em termos gerais admite ao PÚBLICO que “não é bom que existam divisões" no partido.

Já o coordenador autárquico do PSD, Carlos Carreiras, diz que a questão é extemporânea, porque falta o partido definir "um conjunto de princípios a que os candidatos têm de responder" - o que acontecerá até ao Verão num Conselho Nacional - e que, sem isso, não há candidatos anunciados. Excepção para "todos os presidentes, a não ser que não queiram" recandidatar-se. Carreiras diz apenas que o candidato em Pombal só será escolhido depois de todo o processo concluído.

O corte do cordão umbilical para estes autarcas é difícil e alguns deles estão mais cautelosos. Litério Marques (PSD), de Anadia, também atingiu o limite de mandatos em 2013. Agora é prudente nas respostas, mas lá vai dizendo que está “disponível”. É mais um caso de um presidente que, por causa da limitação dos mandatos, só pôde manter-se como vereador. Diz que “não está descontente com ninguém” e apoia a presidente. Mas lá vai desfiando que “a experiência nestes cargos é muito importante” e que acredita que não perdeu “as características”. O que quer isto dizer? Quer ser candidato? “É muito cedo para falar disso, mas não vou dizer nem que sim nem que não”. E mais: “Se quiserem, que me chamem”.

Se estes casos podem ser dores de cabeça para os partidos, há outros que podem até ser uma solução. Nas últimas eleições, alguns autarcas impedidos de se candidatarem foram candidatos nas terras vizinhas, alguns com sucesso. A fórmula pode agora ser repetida. Bragança Fernandes, actual presidente da Maia, está a atingir o limite de mandatos e diz ter disponibilidade para ajudar o partido onde este o quiser. “Estou aqui para dar e para ajudar o povo”, diz ao PÚBLICO.