Trump navega com nomeação à vista mas enfrenta protestos violentos

O magnata do imobiliário venceu as primárias no estado de Washington sem surpresa, mas foi recebido no Novo México por uma multidão furiosa com as suas propostas radicais.

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Quase um ano depois de ter sido tratado como uma anedota e de ter sido posto de lado como se fosse um aprendiz de político morto à nascença, Donald Trump está a apenas duas semanas de conseguir o que muitos julgavam ser tão impossível como ver uma vaca a voar – o magnata do imobiliário e antiga estrela da televisão vai mesmo conquistar os delegados necessários para ser o candidato oficial do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos da América em 2016.

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Quase um ano depois de ter sido tratado como uma anedota e de ter sido posto de lado como se fosse um aprendiz de político morto à nascença, Donald Trump está a apenas duas semanas de conseguir o que muitos julgavam ser tão impossível como ver uma vaca a voar – o magnata do imobiliário e antiga estrela da televisão vai mesmo conquistar os delegados necessários para ser o candidato oficial do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos da América em 2016.

Já sozinho na corrida no seu partido, Trump venceu as primárias de terça-feira no estado de Washington com 76,2% dos votos e vai amealhar a maioria dos 44 delegados em jogo.

Os seus últimos adversários, o senador Ted Cruz e o governador John Kasich, atiraram a toalha ao chão no início de Maio, mas como os seus nomes ainda aparecem nos boletins, um e outro receberam votos dos que ainda não conseguem engolir a ideia de ver Trump como seu representante nas eleições gerais – Cruz teve 10,1% e Kasich 9,9%.

Até o antigo neurocirurgião Ben Carson, que se afastou da luta no início de Março, recebeu votos (3,8%), num estado onde os eleitores do Partido Republicano são tipicamente muito conservadores.

Donald Trump venceu com uma larga margem em Washington não por ser um candidato muito conservador mas porque está sozinho na corrida e porque a base do Partido Republicano começa a perceber que a melhor hipótese de vencer as eleições gerais é unir-se o mais rapidamente possível à volta do seu inevitável candidato.

Ao contrário do que é comum ouvir-se em discussões sobre a figura de Donald Trump, o magnata não é o típico candidato ultraconservador – esse papel estava reservado a Ted Cruz, que tinha o apoio da maioria do movimento Tea Party e esperava obter bons resultados no estado de Washington devido à sua visão extremamente conservadora em termos sociais e muito ligada à religião. Mas Cruz saiu da corrida depois da derrota no Indiana, a 3 de Maio, e deixou o caminho livre para a nomeação de Trump.

Trump é um candidato populista, com propostas intolerantes e xenófobas e uma visão sobre a política externa que muitos dos seus detractores no Partido Republicano consideram ser potencialmente catastrófica. E os seus comícios têm sido marcados por protestos com alguma violência, como aconteceu terça-feira à noite em Albuquerque, no Novo México, onde centenas de pessoas se manifestaram contra o candidato – umas bloquearam ruas e lançaram pedras e garrafas contra a polícia e outras entraram no centro de convenções da cidade e foram interrompendo o discurso do candidato.

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Jonathan Ernst/Reuters

Mas o facto de Trump ter sido casado três vezes e de ter defendido, em tempos, posições liberais em temas como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo causou muitos atritos com o eleitorado ultraconservador – uma divisão que se foi esbatendo à medida que a maioria do eleitorado do Partido Republicano ia dando vitórias atrás de vitórias ao magnata.

"Nomeado" a 7 de Junho

Desde que as primárias começaram, no dia 1 de Fevereiro, Trump já conseguiu conquistar 1131 delegados, segundo as estimativas da Associated Press, ficando a faltar-lhe apenas 106 para chegar à convenção nacional do partido, em Julho, e ser nomeado sem contestação.

A marca dos 1237 delegados vai ser atingida no dia 7 de Junho, quando o Partido Republicano realizar as suas últimas cinco votações – Califórnia, Montana, Nova Jérsia, Novo México e Dacota do Sul.

Desses cinco estados, três vão atribuir todos os seus delegados ao candidato mais votado; e como Donald Trump é o único candidato, é mais provável ver uma vaca a voar do que esperar um resultado final sem o seu nome no topo da lista.

Nesses três estados (Montana, Nova Jérsia e Dacota do Sul) estão em jogo, ao todo, 107 delegados. Essas três vitórias deverão ser suficientes para dar a Donald Trump os 1237 delegados necessários, mas o magnata tem ainda como reserva, no mesmo dia, a gigantesca Califórnia e os seus 172 delegados (onde o vencedor conquista a maioria) e o Novo México, com os seus 24 delegados distribuídos de forma proporcional.

Depois das votações de 7 de Junho, o Partido Republicano terá de esperar sete semanas até à sua convenção nacional, que este ano vai decorrer em Cleveland, no estado do Ohio, entre 18 e 21 de Julho. É nesta convenção – que há apenas um mês era apontada como possível palco de uma batalha pela nomeação entre Donald Trump e Ted Cruz – que o magnata do imobiliário será confirmado como candidato oficial do Partido Republicano.

Clinton precisa dos apoiantes de Sanders

No outro grande partido norte-americano, Hillary Clinton é a mais do que provável nomeada, mas o seu adversário, Bernie Sanders, promete levar a luta até ao fim das primárias. Clinton tem uma vantagem quase insuperável no número de delegados com disciplina de voto (1768 contra 1497, sendo necessários 2383 para a nomeação), e joga ainda com uma esmagadora maioria de "superdelegados" do seu lado (537 delegados sem disciplina de voto apoiam-na, contra os 42 que estão ao lado de Sanders).

A candidatura de Bernie Sanders insiste na hipótese de chegar à convenção nacional do Partido Democrata (entre 25 e 28 de Julho, em Filadélfia, no estado da Pensilvânia) e conseguir convencer muitos desses "superdelegados" a mudar de campo, desequilibrando a balança a favor do senador.

Essa estratégia impede Clinton de se concentrar apenas nas eleições gerais e de tentar conquistar os votos dos fervorosos apoiantes de Bernie Sanders, um candidato com propostas de combate às desigualdades e da regulação de Wall Street muito mais à esquerda do que a antiga secretária de Estado.

Em parte, essa divisão no Partido Democrata explica a aproximação de Donald Trump a Hillary Clinton nas sondagens para as eleições gerais nos últimos tempos – Trump tem beneficiado pelo facto de estar sozinho na corrida no seu partido, mas Clinton tem ainda margem para subir, se vir confirmada a sua nomeação e se conseguir unir o partido à sua volta.

Esse trabalho parece estar a ser feito pela senadora Elizabeth Warren, que chegou a ser muito pressionada pela ala mais progressista do partido a candidatar-se contra Hillary Clinton, quando Bernie Sanders não era ainda conhecido da maioria dos eleitores. Apesar de ainda não ter declarado o seu apoio a nenhum dos candidatos, Warren proferiu um discurso na terça-feira com muitos pontos de contacto com as propostas de Clinton e com uma torrente de ataques contra Donald Trump, a quem acusou de ser "um homem pequeno, inseguro e avarento que não quer saber de quem é prejudicado desde que ele lucre com isso".

Vários jornais, como o Washington Post, dizem que o timing do discurso de Elizabeth Warren e a "convergência" de opiniões com Clinton "não é inteiramente uma coincidência". "E pode servir um duplo propósito para Clinton: ajudá-la a iniciar a batalha contra Trump, mas também a começar a difícil tarefa de unir um Partido Democrata fracturado."