Cameron pede aos britânicos para não votarem na "autodestruição"
Relatório do Ministério das Finanças avisa que saída da UE poderia custar meio milhão de postos de trabalho em apenas dois anos. Falta um mês para o referendo.
A um mês da decisão mais estratégica que tiveram em mãos nas últimas décadas, os eleitores britânicos foram confrontados nesta segunda-feira com um novo relatório que avisa para as desastrosas consequências económicas da saída do Reino Unido da União Europeia. Nas previsões do Ministério das Finanças – já contestadas pelos partidários do Brexit – a economia do país pode contrair-se até 6% e pelo menos meio milhão de empregos podem desaparecer no prazo de dois anos.
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A um mês da decisão mais estratégica que tiveram em mãos nas últimas décadas, os eleitores britânicos foram confrontados nesta segunda-feira com um novo relatório que avisa para as desastrosas consequências económicas da saída do Reino Unido da União Europeia. Nas previsões do Ministério das Finanças – já contestadas pelos partidários do Brexit – a economia do país pode contrair-se até 6% e pelo menos meio milhão de empregos podem desaparecer no prazo de dois anos.
“Seria uma recessão ao estilo faça-você-mesmo”, avisou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, na apresentação do relatório sobre as consequências de curto prazo do corte de relações com Bruxelas, escolhendo uma metáfora apropriada ao local escolhido para o evento, a sede de uma das maiores cadeias de lojas de bricolage do país.
As previsões do Governo são mais pessimistas do que as apresentadas por outras entidades – o governador do Banco de Inglaterra admitiu no início do mês que a saída da UE desencadearia uma recessão técnica no país –, à semelhança do que já aconteceu em Abril, quando as Finanças divulgaram o seu estudo sobre as consequências de longo prazo da saída. Mas enquanto aquele analisava cenários possíveis em 2030, o novo relatório confronta os eleitores com o que pode acontecer mal a contagem termine, provando que o executivo continua apostado em jogar a campanha no terreno económico – a despeito das tentativas da campanha pelo “não” de centrar o debate na imigração e controlo das fronteiras, tema que lhes é mais favorável.
Não poupando nas palavras, o líder conservador disse que optar pela saída, como defendem alguns ministros do seu executivo, deitará por terra “a dor e o sacrifício” que o país suportou para recuperar a economia depois da crise financeira internacional de 2008. “Onde está a moralidade de pôr tudo isso em risco em nome de um futuro incerto? Seria como sobreviver a uma queda, apenas para ir a correr de novo para a beira do precipício”, afirmou. “Seria a opção pela autodestruição.”
A mensagem foi reforçada por George Osborne, ministro das Finanças e principal aliado de Cameron, lembrando que passaram apenas “oito anos desde que o Reino Unido entrou na sua pior recessão desde a II Guerra Mundial”. “Quando falta exactamente um mês para o referendo, os britânicos devem fazer-se esta pergunta: podemos votar conscientemente pela recessão?”.
Tal como o anterior, o novo relatório apresenta vários cenários, o menos pessimista dos quais antevê a possibilidade de Londres concluir um novo acordo comercial com a UE dentro de dois anos, e um de “grande choque” em que o país perderia o acesso ao mercado único europeu. No primeiro caso, o Governo prevê que, em 2018, o PIB do país estaria 3,6% abaixo do que é actualmente expectável, teriam sido perdidos 520 mil postos de trabalho, os preços das casas caído 10% e a libra desvalorizado 12%. No segundo cenário, o PIB poderia contrair-se até 6% e 820 mil empregos desapareceriam.
O relatório foi atacado pelos responsáveis da campanha pela saída da UE, com o ex-mayor de Londres Boris Johnson a denunciar o estudo como “mais propaganda” de um Ministério que, sob a batuta de Osborne, tem “errado sistematicamente” as suas previsões. O ex-ministro da Segurança Social Ian Duncan Smith falou também num documento “injusto e parcial”, que não tem em conta as poupanças que Londres obteria por deixar de contribuir para o orçamento comunitário quer possíveis crises na zona euro. Vários economistas sublinham também que o relatório não tem em conta medidas de ajustamento que poderiam ser adoptadas pelo Banco de Inglaterra para compensar o impacto da saída, mas mais do que o rigor das previsões é a força da mensagem que o executivo pretende sublinhar.
As últimas sondagens dão alguma margem de conforto a Cameron, que joga a 23 de Junho não só o seu futuro como o futuro do país, mas os analistas insistem que a diferença entre os dois campos é ainda demasiado pequena para antecipar um resultado – as casas de aposta, outro dos arautos seguidos atentamente no país, colocam as hipóteses de vitória do “sim” à permanência entre os 80 e os 85%.
Os estudos de opinião indicam também que a preocupação com o futuro da economia tem vindo a destacar-se como o principal factor de ponderação dos eleitores, perdendo terreno a imigração. Uma tendência que o campo do “não” tenta inverter, trazendo para o debate a possível adesão a breve prazo da Turquia à UE, em consequência do acordo firmado com Ancara para o controlo da crise de refugiados. Cameron respondeu nesta segunda-feira à insinuação e, num tom pouco diplomático, disse que “ao ritmo a que as coisas avançam, será preciso esperar até ao ano 3000” para que isso aconteça.