As sondagens preferem Sanders, mas a luta é entre os "desonestos" Trump e Clinton

Quase sem hipóteses de roubar a nomeação pelo Partido Democrata a Hillary Clinton, Bernie Sanders bate Donald Trump nas sondagens do New York Times e da Fox News. Trump e Clinton muito próximos, mas com a maioria a dizer que não são honestos nem dignos de confiança.

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O senador do Vermont está praticamente afastado da nomeação Alvin Baez/Reuters

As duas sondagens mais recentes sobre as eleições para a presidência dos Estados Unidos mostram que a corrida poderá ser mais renhida do que se antevia se os principais candidatos forem Donald Trump e Hillary Clinton. Na Fox News o candidato do Partido Republicano surge à frente e no New York Times é a candidata do Partido Democrata quem lidera, ambos com péssimos índices de popularidade entre muitas camadas do eleitorado.

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As duas sondagens mais recentes sobre as eleições para a presidência dos Estados Unidos mostram que a corrida poderá ser mais renhida do que se antevia se os principais candidatos forem Donald Trump e Hillary Clinton. Na Fox News o candidato do Partido Republicano surge à frente e no New York Times é a candidata do Partido Democrata quem lidera, ambos com péssimos índices de popularidade entre muitas camadas do eleitorado.

Depois de ter andado sempre muito atrás de Hillary Clinton nas sondagens – e ainda mais atrás do outro candidato do Partido Democrata, Bernie Sanders – o magnata Donald Trump recebeu uma boa notícia da Fox News: apesar de os resultados estarem dentro da margem de erro, Trump tem 45% das intenções de voto e Clinton 42%.

As posições invertem-se na sondagem do jornal New York Times e da estação CBS, em que Hillary Clinton lidera com seis pontos de vantagem sobre Donald Trump (47% contra 41%).

A mais de cinco meses das eleições gerais – marcadas para 8 de Novembro –, sondagens deste género são fracos indicadores do que vai acontecer no dia em que cerca de 130 milhões de eleitores vão ajudar a decidir quem sucederá a Barack Obama.

Mais do que se ficar convencido de que o próximo Presidente vai ser o magnata que propõe a deportação de cerca de 11 milhões de imigrantes, incluindo os filhos já nascidos nos EUA, ou a antiga secretária de Estado que é acusada de ser uma extensão dos especuladores de Wall Street na política, importa destacar os baixos índices de popularidade de ambos.

Na sondagem New York Times/CBS, quase dois terços dos 1300 adultos que foram contactados por telefone um pouco por todo o país disseram que Donald Trump e Hillary Clinton não são honestos nem dignos de confiança.

No caso de Donald Trump, três em cada dez eleitores que votaram em outros candidatos do Partido Republicano nas primárias dizem que nem sequer pensam em votar no magnata nas eleições gerais – o mais provável é que fiquem em casa no dia das eleições.

Trump é mal visto entre o eleitorado feminino, tendo apenas 21% das mulheres inquiridas do seu lado. No extremo oposto, com uma opinião extremamente desfavorável, estão 60%. Mas o magnata sofre ainda mais para agradar aos mais jovens (dos 18 aos 29 anos) e aos negros, hispânicos e asiáticos – só 18% dos jovens e 12% do eleitorado descrito como "não-branco" têm uma opinião positiva sobre ele.

Ainda assim, a esmagadora maioria dos eleitores do Partido Republicano exige que os líderes do partido comecem a apoiar sem reservas a candidatura de Donald Trump. Numa altura em que o chamado establishment ainda procura uma forma de engolir a vitória do magnata nas primárias, oito em cada dez inquiridos na sondagem New York Times/CBS que votam no Partido Republicano dizem que chegou a altura de reunir as tropas e preparar a batalha contra Hillary Clinton ou Bernie Sanders.

Trump e o establishment acabam primeiro encontro com promessas mas sem beijinhos

Mas Clinton tem também vários problemas, quase todos reflexos dos de Donald Trump – se o magnata é impopular entre as mulheres, a antiga secretária de Estado é impopular entre os homens (só 26% têm uma opinião favorável sobre ela); se o primeiro tem péssimos números entre as minorias, a segunda é penalizada pelos eleitores brancos (23% de popularidade).

É normal que o apelo à união surja mais cedo no Partido Republicano. Afinal, Donald Trump ficou sozinho na corrida à nomeação e deverá conquistar o número suficiente de delegados para ser nomeado sem contestação na convenção nacional do Partido Republicano, em Julho. Do outro lado a luta continua, e apesar da vantagem quase intransponível de Hillary Clinton no número de delegados, Bernie Sanders promete levar a luta até ao fim, o que atrasa o início de uma candidatura virada apenas para o adversário nas gerais.

A única categoria importante em que Trump e Clinton surgem com valores positivos é a avaliação da capacidade de liderança, e ambos com valores muito aproximados – 55% para Trump e 54% para Clinton. E a única categoria em que o magnata é muito mais penalizado do que a sua adversária é na que tenta avaliar o temperamento dos candidatos – 70% dos inquiridos dizem que Trump não tem o temperamento certo para ser Presidente, enquanto 49% dizem o mesmo sobre Clinton.

Sanders atrás nas primárias e à frente nas gerais

Sem grandes surpresas em relação às sondagens que foram sendo publicadas nos últimos meses – mas que pode surpreender quem vê Clinton como a mais do que provável nomeada do Partido Democrata –, é Bernie Sanders quem recolhe as preferências dos eleitores inquiridos. Quando se atiram todos os inquiridos para o mesmo saco (do Partido Republicano e do Partido Democrata), o socialista que propõe uma revolução política nos Estados Unidos recolhe 41% de opiniões favoráveis e 33% desfavoráveis. Sanders não só é o mais popular como é o único dos três com opiniões favoráveis superiores às desfavoráveis – à frente de Clinton (31% contra 52%) e Trump (26% contra 55%).

O senador Sanders teria de operar uma reviravolta de fazer cair o queixo a qualquer pessoa para travar Clinton e ser ele o nomeado do Partido Democrata, mas numa hipotética corrida entre ele e Donald Trump, a sondagem New York Times/CBS não deixa dúvidas – 51% para Sanders e 38% para Trump.

Fox dá vantagem a Trump

Na sondagem da Fox News, o magnata surge três pontos à frente da antiga secretária de Estado – e dentro da margem de erro –, mas este resultado é significativo porque há um mês a diferença na mesma sondagem era de sete pontos de vantagem para Clinton.

As divisões entre os grupos eleitorais são semelhantes às registadas na sondagem New York Times/CBS, mas o estudo da Fox News avança que os independentes inquiridos preferem Donald Trump em relação a Hillary Clinton (46% contra 30%). Apesar destes valores, um em cada cinco dizem que preferiam votar num terceiro candidato ou que vão abster-se.

O senador Bernie Sanders mantém a sua vantagem em relação a Donald Trump na sondagem da Fox News, apesar de a distância ser substancialmente mais curta – 46% contra 42%. Em Abril, a vantagem do senador do Vermont na mesma sondagem era muito superior – 53% contra 39%.

Apesar de liderar hipotéticos frente-a-frente com Donald Trump em inúmeras sondagens (a média do site Real Clear Politics é de 11,6% de vantagem), o problema de Bernie Sanders é que muito dificilmente chegará às eleições gerais, pelo menos como nomeado do Partido Democrata.

Durante a fase de eleições primárias o que importa é conquistar delegados – são eles quem vão nomear o candidato oficial na convenção do partido, em Julho. Quando faltam apenas nove votações, Hillary Clinton já conquistou 1768 delegados (daqueles que são obrigados a votar nela na convenção) contra os 1494 de Bernie Sanders. Para garantir a nomeação, um candidato tem de conquistar pelo menos 2383 delegados, pelo que Bernie Sanders só conseguirá dar a volta à situação se vencer dois terços dos estados que faltam por margens esmagadoras.

Para além da vantagem em delegados com disciplina de voto, Clinton tem ainda uma enorme vantagem entre os chamados "superdelegados" – mais de 700 membros das estruturas do Partido Democrata que têm liberdade de voto na convenção. Desses, 525 já disseram que vão apoiar Clinton e 39 vão apoiar Sanders, segundo a contagem mais recente, o que eleva a vantagem de Clinton para uns praticamente intransponíveis 2293 contra 1533. 

Clinton é também líder no voto popular – tanto em relação a Bernie Sanders como em toda a fase das primárias até agora. A antiga secretária de Estado recebeu quase 13 milhões de votos, mais três milhões do que Sanders e mais dois milhões do que Trump.