Delírio abençoado

O oitavo álbum dos King Gizzard & The Lizard Wizard abre realmente as portas.

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Os King Gizzard And The Lizard Wizard em loop contínuo JAMIE WDZIEKONSKI

Nonagon Infinity opens the door”: a frase há-de ser ouvida uma vez e outra e outra. E é verdadeira. Nonagon Infinity, o oitavo álbum em quatro anos dos King Gizzard & The Lizard Wizard abre realmente as portas: a banda que se reinventa disco após disco (do ataque garageiro frenético de I’m in Your Mind Fuzz às suites prog de Quarters, destas a folk-rock de base acústica no óptimo Paper Mâché Dream Balloon) assina aqui o ponto mais alto de um percurso que é difícil acompanhar passo a passo, tal a torrente de produtividade do septeto.

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Nonagon Infinity opens the door”: a frase há-de ser ouvida uma vez e outra e outra. E é verdadeira. Nonagon Infinity, o oitavo álbum em quatro anos dos King Gizzard & The Lizard Wizard abre realmente as portas: a banda que se reinventa disco após disco (do ataque garageiro frenético de I’m in Your Mind Fuzz às suites prog de Quarters, destas a folk-rock de base acústica no óptimo Paper Mâché Dream Balloon) assina aqui o ponto mais alto de um percurso que é difícil acompanhar passo a passo, tal a torrente de produtividade do septeto.

Apresentado como álbum em loop contínuo, ou seja, um disco cuja última canção é ponte para a que lhe dá início, Nonagon Infinity não é um delírio de psicadélicos com sonhos de grandeza. Nonagon Infinity é o delírio que criaram sete australianos com a cabeça cheia de ideias e música, muita música, a transbordar cá para fora, para nossa eterna gratidão. A lista de canções indica que o álbum é constituído por nove, mas esse é um pormenor que poderemos negligenciar. Nonagon Infinity é um disco à antiga, para ouvir do princípio ao fim — até porque não há qualquer momento, nenhuma pausa disponível para que o possamos abandonar sem remorsos. É, também, um álbum-síntese, moderníssimo nesse sentido. Nele, tudo se mistura e se reenquadra para que, da colisão, nasça algo novo.

A secção rítmica parece ter estagiado na Alemanha da década de 1970 e acelera infatigável “Autobahn” fora. As guitarras tanto serpenteiam um blues-rock para ritual vudu — Captain Beefheart ergue o polegar em aprovação — como se atiram a riffs de heavy metal clássico em maravilhosa libertinagem headbanger. Depois, há órgãos a borbulhar o bom groove do velho rhythm’n’blues, há harmónicas sopradas a plenos pulmões, há planares space-rock que desembocam em pop de câmara com a velha Inglaterra no horizonte: a dos Kinks, dos Small Faces, dos Tomorrow, dos Soft Machine, todos reunidos nos antípodas.

Avançamos música a música e no álbum, neste álbum frenético, tudo prazer e zero descanso, repetem-se porções das letras e excertos de canções são enxertados noutras. Avançamos sem saber que recuamos e, na verdade, não queremos saber para onde nos encaminham os King Gizzard And The Lizard Wizard. Álbum-síntese, álbum-delírio, álbum em estado de graça, Nonagon Infinity confirma-nos que algo de especial está a acontecer nessa Austrália que nos ofereceu em anos recentes Tame Impala, Pond ou Courtney Barnett.

Nonagon Infinity terminará ao fim de nove canções. Voltamos ao início que é fim. Recomeça a viagem. E assim sucessivamente. Não nos cansaremos.