Olafur Eliasson é o senhor que se segue em Versalhes

A partir de 5 de Junho, o artista toma conta dos jardins e do palácio mandado construir por Luís XIV.

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As suas obras exploram a luz, a percepção e o movimento para criar experiências que ficam – nos olhos e na cabeça – de quem as vê. Intervenções como a do grande hall da Tate Modern de Londres – The Weather Project (2003) – ou a que “uniu” Manhattan e Brooklyn, The New York City Waterfalls (2008), revelam-no como um mestre da ilusão, sempre disponível para plantar dúvidas e para surpreender.

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As suas obras exploram a luz, a percepção e o movimento para criar experiências que ficam – nos olhos e na cabeça – de quem as vê. Intervenções como a do grande hall da Tate Modern de Londres – The Weather Project (2003) – ou a que “uniu” Manhattan e Brooklyn, The New York City Waterfalls (2008), revelam-no como um mestre da ilusão, sempre disponível para plantar dúvidas e para surpreender.

Olafur Eliasson tem agora a grande responsabilidade de ser o senhor que se segue no programa de exposições com que o Palácio de Versalhes, em França, tem vindo a marcar o calendário de artes plásticas do Verão desde 2008. A partir de 5 de Junho, o artista de 49 anos, nascido em Copenhaga, toma conta dos jardins e deste imponente conjunto mandado construir por Luís XIV.

Eliasson vem substituir Anish Kapoor, que no ano passado causou polémica, e passará a integrar uma lista de que fazem parte artistas como Jeff Koons, Lee Ufan, Takashi Murakami e a portuguesa Joana Vasconcelos.

“Com Olafur Eliasson as estrelas colidem, o horizonte escorrega e a nossa percepção fica enublada. O homem que brinca com a luz fará com que os contornos do palácio do Rei-Sol dancem”, disse na apresentação da exposição a presidente do Palácio de Versalhes, Catherine Pégard.

Na conferência em que apresentou o projecto, Eliasson sublinhou a “singularidade” de expor em Versalhes, reconhecendo a carga histórica e simbólica deste espaço público e explicando o que o levou a aceitar o convite: “Sempre me interessei pela teatralidade do barroco, mais como um estilo que permite amplificar a presença de uma ideia, dizer tudo num detalhe, aprofundar uma capacidade sensorial e crítica, do que como um escape melancólico para o passado”, disse o artista, aqui citado pelo diário francês Le Figaro. O que quer fazer neste monumento e nos seus jardins permitirá, aliás, uma ligação directa ao mundo de hoje, numa França que, depois dos atentados de Novembro, vive ainda em estado de emergência. A proposta visa uma abordagem contemporânea de uma tradição icónica que obriga o visitante a olhar, mas também a experimentar.

No palácio, que visitou à noite, vazio, longe das multidões que o “invadem” todos os dias, Olafur Eliasson descobriu um espaço cheio de segredos. Para os jardins criou três instalações. Sem avançar muitos pormenores, revelou, por exemplo, que uma delas será uma grande cascata artificial e que outra, no bosque, recorrerá também à água, mas “sob a forma de bruma, orvalho, nevoeiro”. Diz Eliasson que, neste conjunto de projectos para a casa de Luís XIV, a água será absolutamente central e “estará declinada em três ‘estados’  líquido, bruma e gelo”.

No interior, o próprio palácio será o tema da intervenção e as peças, garante, estarão tão integradas na arquitectura pré-existente que é bem provável que muitos dos visitantes nem dêem por elas  o que decerto não o perturba. Ao contrário dos arquitectos e artistas que trabalharam para o Rei-Sol, Eliasson está habituado à imaterialidade – um dos principais ingredientes do seu trabalho é a luz, recorde-se , ao transitório, ao efémero. O invisível não é coisa que o preocupe.