Venezuela: uma economia naufragada, ultradependente do petróleo
Durante mais de dez anos, o petróleo encheu os cofres do Governo de Caracas. Mas a queda do preço do barril e a falta de investimento levaram o país a uma situação caótica.
A Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo, cerca de 300 mil milhões de barris, um maná que alimentou uma década de prosperidade, a mais longa num século de exploração petrolífera. Mas o país está hoje exangue: um barril de petróleo vale quase menos dois terços do que valia há dois anos, os investimentos nas infra-estruturas foram insuficientes e o Governo não fez poupanças suficientes para se preparar para os períodos de vacas magras. A inflação exibe taxas de três dígitos e os venezuelanos fazem face à grave escassez de produtos alimentares e de primeira necessidade; as reservas de divisas utilizadas para pagar importações derreteram-se.
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A Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo, cerca de 300 mil milhões de barris, um maná que alimentou uma década de prosperidade, a mais longa num século de exploração petrolífera. Mas o país está hoje exangue: um barril de petróleo vale quase menos dois terços do que valia há dois anos, os investimentos nas infra-estruturas foram insuficientes e o Governo não fez poupanças suficientes para se preparar para os períodos de vacas magras. A inflação exibe taxas de três dígitos e os venezuelanos fazem face à grave escassez de produtos alimentares e de primeira necessidade; as reservas de divisas utilizadas para pagar importações derreteram-se.
Ouro negro
O petróleo é o motor de actividade da economia venezuelana: representa 96% das exportações do país. Entre 2004 e 2015, Caracas recebeu, graças a isso, algo como 750 mil milhões de dólares (674 mil milhões de euros), de acordo com os dados oficiais.
Membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a Venezuela vende 40% dos seus hidrocarbonetos aos EUA. Para a primeira potência económica mundial, as importações de petróleo venezuelano não representam mais do que 7,7% do total das suas importações de crude, segundo os dados oficiais norte-americanos. A China e a Índia são os dois outros grandes clientes da Venezuela.
Hiperinflação
O Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela contraiu-se 5,7% em 2015 e deverá cair ainda mais este ano, para 8%. A inflação venezuelana era em 2015 a mais alta do mundo, com uma taxa de 180%, segundo Caracas. Deve atingir os 720% em 2016, segundo Alejandro Werner, director do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O défice público situa-se entre os 18 e os 20% do PIB, segundo os analistas privados. Para se financiar, e pagar os programas sociais, o Governo “tem de imprimir dinheiro”, dizem.
Reservas de divisas em baixa
A capacidade do país para defender a sua moeda e honrar a dívida diminui rapidamente. Caracas usou quase quatro mil milhões de dólares das suas reservas cambiais nos últimos quatro meses, reduzindo o seu volume total para 12,7 mil milhões de dólares, ou seja, um terço do nível de 2009. Uma grande parte das reservas é constituída por lingotes de ouro.
Oficialmente, um dólar vale dez bolívares, de acordo com a taxa de câmbio mais favorável entre as várias utilizadas pelo Governo. Mas na do mercado negro, a mais utilizada, um dólar vale mil bolívares, se não mais.
A impossibilidade de as empresas terem as suas contas em dólares impede-as de importar bens e matérias-primas, o que provoca a escassez nas lojas, supermercados e farmácias.
Dívida
A dívida externa da Venezuela alcançou 250 mil milhões de dólares (224 mil milhões de euros) em Abril de 2015, de acordo com a empresa Ecoanalitica. Apenas no ano passado, o Governo socialista pagou 27 mil milhões de dólares de juros, segundo o Presidente, Nicolás Maduro.
Se Caracas até agora honrou a sua dívida e promete continuar a fazê-lo, o fim do ano promete mostrar-se complicado: o Governo e a empresa pública petrolífera PDVSA devem pagar cerca de 5,3 mil milhões de dólares em Outubro e Novembro.