China – a relevância e o poder

É preocupante a débil noção que o Ocidente tem da presente China. Há uma perigosa subavaliação.

Preparar inteligentemente o futuro depende cada vez mais da nossa compreensão da actual China.

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Preparar inteligentemente o futuro depende cada vez mais da nossa compreensão da actual China.

Na maior parte da sua história de 4 mil anos a China permaneceu algo isolada. Há menos de 4 décadas esta nação, povoada por 1 quinto da Humanidade, decidiu integrar-se internacionalmente. Esta interacção transforma o Mundo e a própria China.

As escalas são imensas. A população chinesa é dupla da soma populacional da Zona Euro e dos Estados Unidos. Shandong, uma das 23 províncias chinesas, possui uma população superior à de qualquer país europeu. Xinjiang tem uma superfície maior que a área combinada da Alemanha, da França, do Reino Unido e da Itália.

Após 3 décadas de explosivo crescimento económico, a economia da província de Jiangsu é maior que a da Suíça. O PIB per capita de Xangai é superior ao da Arábia Saudita. Enquanto a economia da Zona Euro cresceu cumulativamente 0% durante os anos de crise (2009-2015) a da China cresceu 75,8% no mesmo período. Medida em paridade de poder de compra (ppp) a economia da China ultrapassou a dos Estados Unidos em 2014, tornando-se na maior do mundo. Os europeus, que praticamente não conseguem crescer economicamente, apontam enfaticamente a desaceleração da economia chinesa que em 2015 cresceu quase 7%, representando 30% do crescimento económico mundial.

No passado a China necessitava do investimento ocidental. Agora o mundo necessita do seu capital e dos seus consumidores. Em 2015 a China investiu na Europa quase 500 milhões de Dólares por semana.

Há décadas quase todos os chineses eram pobres. Agora formam a maior classe média do mundo, que já é superior à população dos Estados Unidos. O poder de compra dos chineses tornou-se num motor de crescimento da economia global. É o maior mercado mundial de produtos de luxo.

Os chineses fazem agora turismo no estrangeiro. Em 2015 foram 120 milhões e são o grupo que mais gasta nos destinos. Em armazéns famosos de Paris há letreiros em chinês e em Roma estão polícias chineses para ajudar na segurança dos seus turistas.

O desenvolvimento acelerado induziu poluição que pesa sobre muitas cidades. Mas a China aprende com os erros e em 2013 tornou-se no líder mundial do investimento em energias limpas. Este país é o maior emissor de gases de efeito de estufa, mas em parte porque a sua população é enorme. Se calcularmos aquelas emissões per capita vemos que, em média, cada chinês polui menos que um alemão, um holandês ou um dinamarquês, metade de um norueguês e 1 terço de um norte-americano.

O Ocidente tende a reter uma imagem ultrapassada da China, de mero produtor de bens de mão-de-obra intensiva e baixa tecnologia. A China é agora o maior produtor global de uma vasta gama de altas tecnologias. É o maior exportador mundial de tecnologias da informação e ascende ao topo de tecnologias do séc. XXI como a genómica, a nanotecnologia, as energias renováveis ou a biotecnologia. Produz 71% dos telemóveis no mundo e, desde 2013, é o maior investidor do mundo em robots industriais.

A China está a construir o maior radiotelescópio do mundo, tem 4 bases científicas na Antárctida, em 2007 enviou a primeira sonda à Lua, está a construir uma estação especial em órbita e o próximo astronauta a caminhar na Lua será provavelmente chinês.

Mais de 700 milhões de chineses utilizam já a Internet, mais do dobro da população da Zona Euro. Há 1,3 mil milhões de utilizadores de telemóveis na China, incluindo 500 milhões de utilizadores 4G.

Em poucas décadas a China conseguiu retirar da pobreza 500 milhões de seres humanos, o maior sucesso de erradicação de pobreza na história da Humanidade.

A China era rural, agora é urbana. Neste momento, 1 em cada 10 seres humanos vive numa cidade chinesa.

Nos estudos internacionais da OCDE sobe educação (PISA) Xangai ocupa o primeiro lugar global no domínio da matemática, da ciência e da leitura entre os jovens, muito acima de países como Portugal.

Enquanto a fragilidade financeira na Europa limita forças militares actualizadas e fortes, a pujança da China permite-lhe criar um enorme poder militar.

Durante muitos séculos a China, por vezes com arrogância, considerou-se como centro da civilização, um líder na cultura, na ciência, na tecnologia e na sofisticação administrativa. Mas nos séculos XIX e XX foi humilhada e derrotada por estrangeiros. Gerações chinesas viveram sob uma vergonha traumática e uma ferida identidade nacional. As actuais realidades da China não representam apenas poder material mas também aquilo que a generalidade dos ocidentais não compreende – orgulho, novamente. Os chineses sentem que retomaram um estatuto global que impõe influência e poder.

Os chineses desejam mais reformas mas a um ritmo prudente. Sempre tiveram pavor do caos. Vêem que as suas vidas melhoram a um nível que nem nos seus sonhos imaginavam. Não desejam precipitações que arrisquem a perda dos avanços que os tornaram mais ricos, seguros e orgulhosos.

A China deve compreender o Ocidente. Mas é preocupante a débil noção que o Ocidente tem da presente China. Há uma perigosa subavaliação.

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