Agora as panelas batem por Michel Temer

A mobilização contra um vice-presidente que trabalhou abertamente pelo afastamento de Dilma deverá aumentar nos próximos tempos no Brasil

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A contestação ao Presidente interino do Brasil, Michel Temer, saiu à rua este domingo AFP/Miguel Schincariol

No domingo à noite, enquanto o Presidente interino do Brasil, Michel Temer, dava a sua primeira entrevista televisiva num popular programa da TV Globo, vários brasileiros foram para as janelas de casa bater panelas. O “panelaço” tem sido uma forma de protesto político muito utilizada no último ano – mas contra o Governo de Dilma Rousseff, ao ponto de a Presidente brasileira ter desistido de fazer comunicações ao país ou dar entrevistas na televisão, segundo a imprensa.

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No domingo à noite, enquanto o Presidente interino do Brasil, Michel Temer, dava a sua primeira entrevista televisiva num popular programa da TV Globo, vários brasileiros foram para as janelas de casa bater panelas. O “panelaço” tem sido uma forma de protesto político muito utilizada no último ano – mas contra o Governo de Dilma Rousseff, ao ponto de a Presidente brasileira ter desistido de fazer comunicações ao país ou dar entrevistas na televisão, segundo a imprensa.

Mas Dilma foi afastada do cargo na passada quinta-feira de madrugada e quando o seu vice-presidente, Michel Temer, tomou posse nessa tarde e fez o seu primeiro discurso como Presidente da República, ouviram-se as primeiras e espontâneas batidas de panelas, sinalizando que o protesto tinha mudado de mãos.  No domingo à noite, o “panelaço” foi mais sonoro – e, se não foi o protesto de escala nacional noticiado pelos media ligados à esquerda, pelo menos replicou nas principais cidades brasileiras: Rio, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. Várias pessoas gritaram “Fora Temer” ou “golpistas” durante o protesto.

O impeachment de Dilma gerou um clima de desgaste e melancolia entre os que defendiam a Presidente. A mobilização contra um vice-presidente que trabalhou abertamente pelo afastamento de Dilma começou tímida e dispersa, mas deverá aumentar nos próximos tempos, insistindo na ilegitimidade do seu Governo. A contestação tem sido intensa nas redes sociais: nos últimos dias, a página de Facebook do PMDB, partido de Temer, e de várias figuras políticas que votaram no impeachment ou estão ligadas ao novo governo, foram alvo de um “vomitaço”: milhares de pessoas publicaram bonequinhos vomitando nas secções de comentários. A página de Facebook do Fantástico, o programa de variedades e reportagem que transmitiu a entrevista com Michel Temer, também registou um “vomitaço”.

Na entrevista, gravada na sexta-feira no palácio da vice-presidência em Brasília, Temer reconhece que não tem o apoio da população e que, para obtê-lo, terá de “produzir efeito benéfico para o país”. Mas também garantiu que não pretende recandidatar-se em 2018. “Isso dá-me maior tranquilidade, eu não preciso praticar gestos ou actos conducentes a uma eventual reeleição. Eu posso ser até, digamos assim, impopular”, afirmou.

Questionado sobre a polémica ausência de mulheres à frente dos ministérios no seu executivo – o primeiro Governo desde a ditadura militar exclusivamente masculino –, o Presidente interino afirmou que pretende trazer “uma representante do mundo feminino” para algumas secretarias, como a Cultura (o seu Governo acabou com o estatuto de ministério desta área), Ciência e Tecnologia, e Cidadania. Ele também antecipou que, se Dilma perder definitivamente o mandato presidencial daqui a seis meses, quando o Senado proceder ao seu julgamento, a sua mulher de 32 anos, Marcela Temer, irá assumir “funções na área social”. Marcela Temer tem sido uma fixação da imprensa brasileira ainda antes de Temer assumir a Presidência. Há um mês, a revista Veja publicou um perfil que causou controvérsia pelo seu enaltecimento de um modelo feminino domesticado e retrógrado – Marcela, 43 anos mais nova do que o marido, foi descrita como “bela, recatada e do lar”.

O filho de sete anos do casal, conhecido como Michelzinho, foi quem escolheu o logótipo institucional do novo Governo, que aparecerá em todos os documentos e actos oficiais: um globo igual ao da bandeira do Brasil, com a faixa “Ordem e Progresso”, em azul resplandecente. “Se uma criança gosta, é porque a gente tem algo puro, tem algo bom na mão. Foi o Michelzinho quem escolheu a marca”, disse, “extasiado”, Elsinho Mouco, o publicitário por trás da imagem do novo Governo, à Folha de S. Paulo. Mas o logo foi criticado por designers, que o consideram retrógrado e parecido com a identidade visual da TV Globo, e está a ser parodiado nas redes sociais. “"O doutor Michel queria uma marca límpida, clara, simples como ele é", disse Elsinho Mouco. "Não fiz nada demais, mas estou vendo que bombou mesmo."