A tartaruga e a lebre, uma fábula que durou até aos últimos metros
Rui Vitória e Jorge Jesus corporizam duas ideias de jogo distintas, duas formas de estar no futebol e duas estratégias de gestão emocional. Hoje, só um sairá vencedor de um duelo que extravasou as quatro linhas.
Há uma frase da autoria de Albert Einstein que ajuda a identificar a essência do que separa Rui Vitória de Jorge Jesus: “Viver é como andar de bicicleta: é preciso estar em movimento para manter o equilíbrio”. Recorrendo a esta imagem, poderá dizer-se que o treinador do Sporting será a aceleração permanente, os pedais em alta rotação; o do Benfica, ao invés, um adepto da velocidade moderada, com os dedos pousados sobre o travão para a eventualidade de um despiste. Independentemente da estratégia, ambos foram capazes de manter bem vivos os dois candidatos na longa caminhada que hoje culminará com a entrega do título nacional.<_o3a_p>
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há uma frase da autoria de Albert Einstein que ajuda a identificar a essência do que separa Rui Vitória de Jorge Jesus: “Viver é como andar de bicicleta: é preciso estar em movimento para manter o equilíbrio”. Recorrendo a esta imagem, poderá dizer-se que o treinador do Sporting será a aceleração permanente, os pedais em alta rotação; o do Benfica, ao invés, um adepto da velocidade moderada, com os dedos pousados sobre o travão para a eventualidade de um despiste. Independentemente da estratégia, ambos foram capazes de manter bem vivos os dois candidatos na longa caminhada que hoje culminará com a entrega do título nacional.<_o3a_p>
Não há como esconder que Jorge Jesus é um treinador de vertigem, no campo e fora dele. Já era assim no Felgueiras, nos anos 1990, e assim continuou em clubes com outras ambições, como o Sp. Braga, o Benfica e agora o Sporting. O upgrade na carreira serviu apenas para o técnico nascido na Amadora ter um palco mais próximo da dimensão do seu ego. Com os holofotes a si apontados, em contínuo, manteve-se fiel a um estilo guerreiro, provocador, mas, acima de tudo, tremendamente autoconfiante.<_o3a_p>
A entrada de supetão na temporada sublimou-lhe o atrevimento. Subitamente, o discurso que proferira no relvado de Alvalade, no dia da apresentação aos adeptos — “A partir de agora não vamos ter dois, mas três candidatos aos título” — já parecia curto. A conquista da Supertaça e, mais tarde, o triunfo categórico sobre o Benfica no campeonato e depois na Taça de Portugal elevaram o tom do despique verbal. “Era fácil pôr o Rui Vitória deste tamanhinho, mas não o vou fazer”. <_o3a_p>
A seu favor, Jesus tinha um passado recente de respeito no Estádio da Luz e uma entrada de leão na presente época, já do outro lado da Segunda Circular. “Eu, quando cheguei, mudei tudo”, começou por dizer, ainda na véspera do primeiro jogo oficial, traçando uma fronteira clara entre o seu trabalho e o do antecessor, Marco Silva. O Sporting tinha mudado, de facto. E muito rapidamente. O 4x4x2 acutilante de Jesus já era uma realidade e os automatismos que injectou na equipa rapidamente foram assimilados. O processo de organização ofensiva, uma espécie de cartão de visita do seu futebol, não tardou a fazer estragos nas defesas adversárias, com as trocas posicionais e o jogo interior já muito mecanizados para uma fase tão precoce da temporada.<_o3a_p>
Jorge Jesus, “a lebre”, tinha o seu plano em marcha, posto em prática com a mesma sofreguidão com que agarrara o desafio no Estádio da Luz, seis anos antes. E o sprint foi de tal ordem que ameaçou não só a concorrência como, a dada altura, o equilíbrio da luta pelo título. Com o Benfica a sete pontos de distância, à 13.ª jornada, o treinador dos “leões” foi reforçando a autoridade e dirigiu a Rui Vitória, afogado num mar de dúvidas, a última das provocações: “Não o qualifico como treinador, por isso não sou mau colega. Para ser treinador, ele tem de ser muito mais”, atirou, no início de Janeiro.<_o3a_p>
Mas a corrida ainda ia a meio. Rui Vitória, que desde o início do braço-de-ferro adoptara um registo mais cauteloso e pouco reactivo, foi deixando cair uma ou outra respostas pelo caminho.“Não quero ser comido de cebolada, pois o Benfica merece respeito”, ripostou após a eliminação da Taça de Portugal. “Perguntas incómodas deveriam ter sido feitas em Maio de 2011, 2012 ou 2013, a quem cá estava na altura”, acrescentaria dois meses depois.<_o3a_p>
Ao contrário de Jesus, porém, o discurso foi-se suavizando à medida que iam chegando as vitórias. Importando alguns dos princípios de jogo do antecessor, mas dando mais liberdade individual aos criadores, Rui Vitória pavimentou o palco para Jonas, Mitroglou, Pizzi e Gaitán brilharem bem alto, todos eles a tirarem partido do equilíbrio que a aposta ousada em Renato Sanches garantiu no centro do meio-campo. <_o3a_p>
De repente, o Benfica tinha feito o clique. A equipa disparara para uma longa sequência de triunfos e para uma segunda volta invulgar, em que aproveitou quase na plenitude cada jornada para amealhar os pontos que lhe fugiram na metade inicial da temporada. Resultado? Não só recuperou os sete pontos de desvantagem que chegou a ter, como ainda ganhou uma margem de dois sobre um rival que desacelerara demasiado cedo.<_o3a_p>
Alicerçado num tom tranquilizador e quase sempre voltado para dentro, Rui Vitória foi gerindo o plantel (e as muitas lesões que o afectaram) e as renovadas expectativas com pinças, sem euforias. Até porque parte da missão, que passava por ser competitivo com um investimento claro nas jóias da formação, estava cumprida. Mas o essencial é que a “tartaruga”, paciente e imperturbável, estava de novo na corrida e cada vez mais perto da meta. Hoje, quando terminar a fábula 2015-16, ficará a saber-se se a história desta Liga será fiel ao guião original.<_o3a_p>