As nossas costas
As costas serão duas (a superior e a inferior)? Não.
Em francês, inglês e italiano a parte do nosso corpo a que chamamos as nossas costas não são muitas nem várias nem poucas nem duas. É só uma. Le dos, the back e la schiena ou il dorso estão no singular. Pois é. Assim como temos um rabo, apesar de conter duas nádegas, deveríamos ter uma só costa, apesar de não se dividir tão facilmente.
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Em francês, inglês e italiano a parte do nosso corpo a que chamamos as nossas costas não são muitas nem várias nem poucas nem duas. É só uma. Le dos, the back e la schiena ou il dorso estão no singular. Pois é. Assim como temos um rabo, apesar de conter duas nádegas, deveríamos ter uma só costa, apesar de não se dividir tão facilmente.
Em português alguém pode dizer "tenho uma dor nas costas" e a pessoa com quem está a falar pode perguntar "em quais, ao certo?" ou "só nalgumas ou em todas?"
O outro lado das costas não são as frentes. Temos dois olhos, ombros, braços e duas pernas, orelhas e mãos porque, embora semelhantes, estão separadas: umas e uns à esquerda, outros e outras à direita.
Será que dizemos as costas por pensarmos que temos uma costa do lado esquerdo e outra do lado direito, como uma ilha? Espero que não.
As costas serão duas (a superior e a inferior)? Não. Há quem fale em costelas e em costados. Há quem fale numa dúzia de costas, entrecostos e costeletas.
Se nós, os que falam português, sentirmos, singularmente, uma única dor num único sítio do nosso dorso, temos a estranhia mania de pluralizar e de dizer que estamos com "dores" (apesar de ser só uma) nas costas (não obstante ser só uma).
O que é que se passa connosco e com a nossa língua? É a eterna pergunta interessante e irrespondível. Que tristeza seria acharmos que, nalgum dia do futuro, outros saberão responder por nós - ou, pior, que deixarão de perguntar.