Para os adolescentes norte-americanos o racismo está para durar

Passados 50 anos, a revista norte-americana Newsweek voltou a fazer um inquérito aos adolescentes sobre a sua vida e os problemas da sociedade. O futuro parece mais sombrio.

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Um dos vários protestos que aconteceram em Ferguson Michael Thomas/Getty Images/AFP

Eles estavam a meio da década de 1960, definida pela luta pelos direitos civis, por personalidades como Martin Luther King e John F. Kennedy, pela guerra do Vietname e a um ano do famoso Verão do amor, que marcou a cultura hippie nos Estados Unidos. Eram, portanto, tempos de revolta e de mudança. Mas em 1966, os adolescentes norte-americanos eram mais esperançosos em relação ao racismo do que hoje, segundo um inquérito da Newsweek, publicado nesta semana, que mostra que 82% dos adolescentes acredita que o racismo vai ser um problema da sua geração. Há 50 anos, a percentagem de jovens que tinha a mesma posição era de apenas 44%, de acordo com o questionário que a revista fez na altura e que agora foi replicado.

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Eles estavam a meio da década de 1960, definida pela luta pelos direitos civis, por personalidades como Martin Luther King e John F. Kennedy, pela guerra do Vietname e a um ano do famoso Verão do amor, que marcou a cultura hippie nos Estados Unidos. Eram, portanto, tempos de revolta e de mudança. Mas em 1966, os adolescentes norte-americanos eram mais esperançosos em relação ao racismo do que hoje, segundo um inquérito da Newsweek, publicado nesta semana, que mostra que 82% dos adolescentes acredita que o racismo vai ser um problema da sua geração. Há 50 anos, a percentagem de jovens que tinha a mesma posição era de apenas 44%, de acordo com o questionário que a revista fez na altura e que agora foi replicado.

“Uma vez, estava sentada no meu quarto com uma T-shirt, e a minha avó veio e disse que a razão para a cor da minha pele era porque eu não tomava banhos suficientes. Ou porque eu estava suja. Ela pensava que se eu me limpasse mais teria uma pele com uma cor mais clara”, disse à Newsweek Leuna Rahman, uma rapariga de 17 anos de Queens, Nova Iorque, numa das declarações mais fortes do artigo What do american teens want? Less racism, (qualquer coisa como “O que é que os adolescentes norte-americanos querem? Menos racismo”).

“Mas não é assim. Eu nasci como sou”, sublinha a adolescente, que se identifica como sendo de origem sul-asiática, já que os seus pais são do Bangladesh. E qual é a resposta que dá à avó? “Ignoro. Ouves isto tão frequentemente que acabas por desistir de lutar contra [estas coisas]. Mas não deixo que isto me incomode, porque aprendi a gostar de mim própria.”

A Newsweek fez o questionário a 2057 adolescentes norte-americanos dos 13 aos 17 anos vindos de “diferentes contextos e áreas geográficas, sobre tudo, desde política até educação, os pais, o sexo, a saúde mental e a cultura popular”. Em 1966, um questionário semelhante foi feito pela revista a 755 adolescentes.

Ambos os inquéritos deram origem a dois dossiês com vários artigos. Há 50 anos, foram feitas entrevistas jornalísticas mais aprofundadas a alguns adolescentes sobre a sua vida, os seus hábitos, as angústias e a forma como viam a sociedade. O resultado traduziu-se na capa da edição de 21 de Março de 1966, com uma rapariga loira, sentada à pendura numa mota, a olhar para trás e a sorrir. “Os Adolescentes. Um inquérito da Newsweek sobre como eles realmente são”, lê-se na antiga capa.

“A cena resume a experiência adolescente estereotipada da década de 1960: rápida, com um pensamento voltado para o futuro, excitante, e aparentemente despreocupada”, observa o artigo da edição de 2016, cuja capa é muito mais cerebral: a fotografia mostra as caras coladas de duas adolescentes, uma negra e outra branca, com o título “Ligados pela cor. Adolescentes e a raça na América.”

É uma América diferente, defende a Newsweek, onde a questão da raça passa por todos os sectores da sociedade e é o grande enfoque de acontecimentos como Ferguson, onde um jovem negro não armado foi baleado por um polícia branco, como a última edição dos Óscares, dominados por actores e profissionais da indústria brancos, na interpretação de Beyoncé da canção Formation, no intervalo do Super Bowl, e no movimento Black Lives Matter.

Ajudada pela tecnologia, dos smartphones às redes sociais, esta realidade penetra no quotidiano dos adolescentes como nunca antes tinha acontecido. Em 1966, apenas um terço dos adolescentes negros (uma subpopulação de todos os adolescentes) sentia que o racismo era um problema da sua geração. Hoje, a percentagem é de 91%, quase o triplo, de acordo com os resultados da revista.  

Mas apesar deste sentimento generalizado, a tecnologia também permitiu aos adolescentes fazerem parte da mudança. “Não é apenas o facto de os adolescentes poderem ir a mil sites, mas também poderem ir ao Twitter e ao Instagram, e reagirem sobre o que está a acontecer à medida que estão a viver as coisas”, diz à Newsweek Cornell William Brooks, presidente da National Association for the Advancement of Colored People, uma associação afro-americana que luta pelos direitos civis desde 1909. “Isto representa uma mudança tectónica na forma como os jovens gerem os desafios à justiça social do seu tempo. Não é uma mudança graciosa, é uma mudança maciça.”