FC Porto despede-se da Liga com goleada no derby

"Dragões" bateram o Boavista, no Estádio do Dragão, e fecharam o campeonato na terceira posição, com 73 pontos.

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Layún festeja o segundo golo do FC Porto Francisco Leong/AFP

Deu em goleada o primeiro derby matinal da mui nobre e sempre leal Invicta, o que traduzido para mandarim passa uma imagem claramente inflacionada daquilo que foi uma das mais tristes épocas do FC Porto, pese embora o retrato final (4-0 ao Boavista) sirva na perfeição os intentos dos mentores desta colagem aos interesses asiáticos.

A avaliar pela imagem que se entranha na retina - invariavelmente a última -, a experiência só pode ser considerada como altamente promissora, pois foi na segunda parte, em especial depois do golo de Layún, que o espectáculo ganhou uma dimensão mais cénica e menos cínica.

Se, para o Boavista, o castigo foi demasiado penalizador, cruel até dada a reacção das "panteras" logo a seguir à viragem da manhã para a hora de almoço, já para o "dragão" esta espécie de viagem pelos fusos horários resultou numa tremenda injecção de vitalidade, a inocular os tais índices de confiança tão ansiados para a final da Taça de Portugal.

Demorará, contudo, seguramente algum tempo até se perceber o verdadeiro impacto destes jogos matinais (seja a nível emocional ou fisiológico), se bem que, em boa verdade, a manhã se tenha dissipado entre o golo de Danilo e o cabeceamento falhado de Chidozie.

A mudança, eminentemente logística, trouxe, apesar de tudo, uma nova energia, que poderemos classificar como positiva. O estádio não encheu, mas vibrou com a boa entrada da equipa da casa, a derrubar o primeiro grande bloco de uma muralha que se impunha nesta história de apresentação oficial ao universo asiático.

Sim, porque nem tudo se resume à China, onde caía a noite quando Carlos Xistra apitou para o primeiro capítulo de mais manhãs que se anunciam para a próxima temporada.

Para lá da vitória portista, a domar o raro instinto felino de um vizinho que se apresentava com o desejo confessado de elevar a fasquia da época anterior, ressalta o golo de André Silva, a confirmar a goleada que Danilo Pereira sempre antecipa quando, como neste sábado, faz o gosto ao pé.

Um golo que ficará para sempre como o primeiro de um menino goleador, amado pela plateia, e que no seu jeito silencioso soube esperar pela deixa certa depois de o penálti que Brahimi converteu ter gritado bem alto o nome do jovem português.

André Silva já tinha, aliás, desbloqueado a equipa quando ofereceu o golo a Layún, libertando o FC Porto para uma última meia-hora a transbordar de talento, com o toque indelével de Rúben Neves e Brahimi, a elevar o rendimento e um apetite voraz, que a mesa já não aguentava mais a espera.

O cenário estava montado e nas bancadas também já se petiscava... o típico cachorro quente. O americano, como convém. Gastronomicamente, sábado é dia de tripas na cidade, iguaria que neste sábado poderia ser servida com um arroz frito para equilibrar os sabores.

Em campo e nos bancos não detectámos a camisola 4, um acaso feliz que cai sempre bem em culturas como a chinesa, até para não atrair o azar. E a assistência (26.122 espectadores) esteve longe de envergonhar a organização, especialmente numa fase de desalento como foi este adeus a uma prova frustrante, mas também de impressionar um continente superpovoado.

No fundo, tudo questões marginais, pois, no final, o que interessa mesmo é o resultado. E no Porto a história da vitória dos "dragões" narra-se direita como um fuso, ainda que nas entrelinhas tenha havido momentos de dúvida. A qualidade que se impõe em qualquer boa montra não foi sempre premium. O Boavista soube reagir, subir, aproveitando a boa mobilidade da ala direita, e adiar a certeza da terceira vitória portista nos duelos deste campeonato.

E mesmo uma certa angústia, numa manhã mais ou menos submersa num manto áspero, sempre desconfortável dentro de qualquer óptica mercantilista, teve o mérito de não afectar as audiências. Até porque o zapping, tirando o Portugal-Áustria em sub-17, não era propriamente uma opção na manhã deste sábado.

E, tal como n'O Mandarim de Eça, em que as vantagens financeiras apresentam os seus conflitos morais, as consciências ditarão a orientalização do futebol europeu.

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Deu em goleada o primeiro derby matinal da mui nobre e sempre leal Invicta, o que traduzido para mandarim passa uma imagem claramente inflacionada daquilo que foi uma das mais tristes épocas do FC Porto, pese embora o retrato final (4-0 ao Boavista) sirva na perfeição os intentos dos mentores desta colagem aos interesses asiáticos.

A avaliar pela imagem que se entranha na retina - invariavelmente a última -, a experiência só pode ser considerada como altamente promissora, pois foi na segunda parte, em especial depois do golo de Layún, que o espectáculo ganhou uma dimensão mais cénica e menos cínica.

Se, para o Boavista, o castigo foi demasiado penalizador, cruel até dada a reacção das "panteras" logo a seguir à viragem da manhã para a hora de almoço, já para o "dragão" esta espécie de viagem pelos fusos horários resultou numa tremenda injecção de vitalidade, a inocular os tais índices de confiança tão ansiados para a final da Taça de Portugal.

Demorará, contudo, seguramente algum tempo até se perceber o verdadeiro impacto destes jogos matinais (seja a nível emocional ou fisiológico), se bem que, em boa verdade, a manhã se tenha dissipado entre o golo de Danilo e o cabeceamento falhado de Chidozie.

A mudança, eminentemente logística, trouxe, apesar de tudo, uma nova energia, que poderemos classificar como positiva. O estádio não encheu, mas vibrou com a boa entrada da equipa da casa, a derrubar o primeiro grande bloco de uma muralha que se impunha nesta história de apresentação oficial ao universo asiático.

Sim, porque nem tudo se resume à China, onde caía a noite quando Carlos Xistra apitou para o primeiro capítulo de mais manhãs que se anunciam para a próxima temporada.

Para lá da vitória portista, a domar o raro instinto felino de um vizinho que se apresentava com o desejo confessado de elevar a fasquia da época anterior, ressalta o golo de André Silva, a confirmar a goleada que Danilo Pereira sempre antecipa quando, como neste sábado, faz o gosto ao pé.

Um golo que ficará para sempre como o primeiro de um menino goleador, amado pela plateia, e que no seu jeito silencioso soube esperar pela deixa certa depois de o penálti que Brahimi converteu ter gritado bem alto o nome do jovem português.

André Silva já tinha, aliás, desbloqueado a equipa quando ofereceu o golo a Layún, libertando o FC Porto para uma última meia-hora a transbordar de talento, com o toque indelével de Rúben Neves e Brahimi, a elevar o rendimento e um apetite voraz, que a mesa já não aguentava mais a espera.

O cenário estava montado e nas bancadas também já se petiscava... o típico cachorro quente. O americano, como convém. Gastronomicamente, sábado é dia de tripas na cidade, iguaria que neste sábado poderia ser servida com um arroz frito para equilibrar os sabores.

Em campo e nos bancos não detectámos a camisola 4, um acaso feliz que cai sempre bem em culturas como a chinesa, até para não atrair o azar. E a assistência (26.122 espectadores) esteve longe de envergonhar a organização, especialmente numa fase de desalento como foi este adeus a uma prova frustrante, mas também de impressionar um continente superpovoado.

No fundo, tudo questões marginais, pois, no final, o que interessa mesmo é o resultado. E no Porto a história da vitória dos "dragões" narra-se direita como um fuso, ainda que nas entrelinhas tenha havido momentos de dúvida. A qualidade que se impõe em qualquer boa montra não foi sempre premium. O Boavista soube reagir, subir, aproveitando a boa mobilidade da ala direita, e adiar a certeza da terceira vitória portista nos duelos deste campeonato.

E mesmo uma certa angústia, numa manhã mais ou menos submersa num manto áspero, sempre desconfortável dentro de qualquer óptica mercantilista, teve o mérito de não afectar as audiências. Até porque o zapping, tirando o Portugal-Áustria em sub-17, não era propriamente uma opção na manhã deste sábado.

E, tal como n'O Mandarim de Eça, em que as vantagens financeiras apresentam os seus conflitos morais, as consciências ditarão a orientalização do futebol europeu.

 

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