Querem ver a declaração de impostos de Trump? "Não há nada interessante"
O magnata admite revelar a situação fiscal no final da auditoria do IRS, mas não acredita que isso aconteça antes das eleições. Analistas desconfiam que Trump é muito menos rico do que diz, o que poria em causa um dos principais argumentos da sua campanha.
O mais do que provável candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, é conhecido por ter uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa, mas há pelo menos um tema que não lhe merece qualquer interesse – as suas próprias declarações de impostos.
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O mais do que provável candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, é conhecido por ter uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa, mas há pelo menos um tema que não lhe merece qualquer interesse – as suas próprias declarações de impostos.
A pressão para que revele essas declarações tem crescido nos últimos dias, depois de ter afirmado que não está a pensar em divulgá-las antes das eleições gerais, marcadas para 8 de Novembro. Numa entrevista à agência Associated Press, Trump avançou uma explicação muito simples: "Não há nada interessante."
O magnata argumenta que não poderia revelar as declarações de impostos mesmo que quisesse, porque estão a ser auditadas pela agência responsável, o IRS. Em Fevereiro, Trump disse que o IRS está a passar a pente fino milhares de páginas referentes aos últimos seis anos, e que tudo será publicado quando esse trabalho estiver concluído – que o candidato não acredita ser antes das eleições.
Mas, ainda em Fevereiro, a agência que está a auditar os impostos de Donald Trump deixou claro que "nada impede qualquer pessoa de partilhar as suas próprias informações fiscais" – em suma, os eleitores norte-americanos não podem saber o que está nas declarações de Trump através de funcionários do IRS, mas o próprio candidato tem toda a liberdade para satisfazer essa curiosidade antes das eleições.
Apesar de os cidadãos dos EUA terem direito a não revelar os seus impostos publicamente, nos últimos 40 anos não houve um único candidato à Casa Branca que não tivesse revelado as suas declarações – muitas vezes os políticos revelam esses dados mesmo antes de garantirem a nomeação pelos seus partidos.
Mas Donald Trump tem resistido a cumprir uma "tradição moral com 40 anos", como lhe chamou no jornal New York Times o director da organização sem fins lucrativos Tax Analysts, que reúne no seu site cópias das declarações de impostos de Barack Obama e de ex-presidentes, e de actuais e antigos candidatos. Estão lá os de vários adversários de Donald Trump nas primárias do seu partido (Jeb Bush, Ted Cruz, Marco Rubio, Carly Fiorina e John Kasich) e dos dois candidatos do Partido Democrata (Hillary Clinton e Bernie Sanders). Mas de Trump, nem sinal, o que tem deixado jornalistas e analistas a tentar avançar explicações.
Mas a hipótese repetida mais vezes como sendo a mais provável não é a que a maioria das pessoas estará a pensar: sendo Trump um conhecido magnata há quase 40 anos, não seria de espantar que tentasse usar todos os meios ao seu alcance para pagar o mínimo possível em impostos.
"Os impostos poderiam mostrar quanto é que Trump ganha num ano. Como o próprio Trump clarifica, isso não serve para medir a riqueza total. Mas o dinheiro que ele ganha por ano pode ser significativamente mais baixo do que seria de esperar para alguém que diz valer mais de dez mil milhões de dólares", escreve Richard Rubin no Wall Street Journal.
E qual é o interesse desta informação para as eleições? "Em última análise, é muito importante porque o argumento de Trump como candidato baseia-se muito na sua alegada mestria no mundo dos negócios", escreve o jornalista Matthew Yglesias no site Vox.
O mesmo argumento é avançado pelo economista Paul Krugman no New York Times: "A minha opinião, que é partilhada por vários observadores, é que o segredo sujo que está escondido naquelas declarações é o facto de ele não ser tão rico como diz ser. No mundo de Trump, a revelação de que ele vale apenas dois mil milhões – ou mesmo menos de mil milhões – seria uma enorme humilhação."
Há pelo menos um jornalista que sabe a resposta. O problema é que não pode dizer nada publicamente, porque foi obrigado a assinar uma cláusula de silêncio quando um tribunal forçou Trump a entregar-lhe os documentos no âmbito de um processo por difamação. Timothy L. O'Brien, director executivo dos sites Bloomberg Gadfly e Bloomberg View, escreveu um artigo esta semana em que contorna a cláusula do tribunal com pouca discrição: "Trump transformou o tamanho da sua fortuna na peça central da sua campanha presidencial, sugerindo que é uma medida do seu sucesso como homem de negócios."