Ministro do Ambiente assistiu em Mértola à libertação de lince nascido em Espanha

São já mais de 120 os felinos no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico em Silves. Já foram libertados 18.

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O actual ministro do Ambiente João Matos Fernandes seguiu as pisadas do anterior responsável pela pasta Jorge Moreira da Silva para assistir, na Herdade da Cela em Mértola, à libertação de mais um lince ibérico (Lynx pardinus).

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O actual ministro do Ambiente João Matos Fernandes seguiu as pisadas do anterior responsável pela pasta Jorge Moreira da Silva para assistir, na Herdade da Cela em Mértola, à libertação de mais um lince ibérico (Lynx pardinus).

Matos Fernandes que se fez acompanhar pela secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Célia Ramos, abriu a porta da jaula ao felino – um gesto que interpretou como “um momento muito simbólico e de grande importância”. O ministro destacou ainda, citado pela Lusa, como este projecto de reintrodução do lince ibérico é “um sucesso”.

O lince agora libertado, “baptizado” com o nome Mistral, quando nasceu em 2015 no Centro de Reprodução de Zarza de Granadilla, em Espanha, é o 18.º animal a ser libertado no meio natural e em pleno Vale do Guadiana, o único local onde até agora foram reintroduzidos linces ibéricos no âmbito do projeto LIFE+Iberlince.

O ministro não escondia a sua satisfação por saber que, para além dos 18 linces devolvidos à natureza, “já nasceram crias sem ser em cativeiro”. Com efeito, entre 2 e 8 de Março deste ano, ocorreu o parto da fêmea Lagunilla, com 2 anos de idade, e que veio do Centro de Reprodução de Zarza da Granadilla em Espanha. A 12 de Maio os técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) conseguiram observar e fotografar duas crias que terão cerca de 2 meses “admitindo-se a existência de uma terceira”.

Poucos dias após o parto, a caminhada da mãe com os filhotes foi no sentido oeste, percorrendo cerca de 15 km em campo aberto e fixando-se a poucos metros da estrada nacional (N123) Castro Verde-Mértola. Como a situação constituía “um grande risco de atropelamento”, os técnicos do ICNF intervieram para retirar o lince do local conseguindo que a fêmea voltasse "para a zona do núcleo original e acabando por estabelecer o seu território junto aos restantes linces”.

Uma semana após a confirmação da primeira cria, filha de outra fêmea deste núcleo fundador de linces, a equipa de seguimento do ICNF conseguiu confirmar a existência da segunda ninhada e baptizou uma das crias como “Nosso”.  

Matos Fernandes adiantou que ao longo de 2016 vão ser soltos na natureza “mais alguns” linces, mas fez uma advertência: “Nunca podemos cantar vitória numa coisa destas. Temos que ter sempre muito cuidado com a forma como corre a reintrodução da espécie”, sublinhou.

O facto de praticamente todo o Vale do Guadiana estar sujeito à actividade cinegética não é problema para o ministro, ao considerar que a permanência do lince em estado selvagem é compatível com a actividade da caça, como está demonstrado pela forma como decorre programa de reintrodução desta espécie em Portugal, que considerou “o melhor exemplo” dessa convivência.

E exemplificou: “Esta é uma zona de caça e, por ser uma zona de caça, tem alimento para o lince” e o animal “pode ser aqui lançado”, ao contrário de outras áreas. O governante garantiu que o Governo está a preparar um plano para reintroduzir o lince-ibérico na Serra da Malcata, o que poderá acontecer dentro de alguns anos.

Em meados dos anos 90 do século passado, foi estimado que os efectivos totais da espécie na última década se situariam “entre 1000 a 1200 indivíduos distribuídos por nove núcleos populacionais, três localizados em Portugal e os restantes em Espanha”, explicou o ICNF. A distribuição fragmentada desta espécie de felino e os núcleos populacionais “sem viabilidade” alertaram os responsáveis do ambiente dos dois países ibéricos para a situação de “ameaça da espécie” com apenas 350 fêmeas reprodutoras.

No início da década de 2000 foi conduzido um censo diagnóstico à escala ibérica, resultando de um esforço coordenado entre Portugal e Espanha. Este censo revelou que as populações de lince estavam reduzidas a dois núcleos, ambos situados na região da Andaluzia, com total inferior a 200 indivíduos.

A espécie encontrava-se em estado crítico, com uma iminência de extinção. A sua recuperação passaria inevitavelmente por um projecto de reprodução em cativeiro e reintrodução que seria a base para recuperar os núcleos históricos, bem como de um esforço alargado de recuperação de habitats e presas.

O programa de reprodução em cativeiro de lince-ibérico inicia-se formalmente em 2001 e a sua evolução conduziu à implementação de cinco centros de reprodução (entre os quais o porttuguês Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico em Silves) e a uma população cativa hoje em dia de mais de 120 animais.

Ao abrigo do Projecto LIFE+ “Recuperação da distribuição histórica de lince-ibérico em Espanha e Portugal” (Iberlince), co-financiado pela União Europeia, foram iniciadas acções de reintrodução em quatro áreas em Espanha e uma em Portugal em 2014 com um total de cerca de 140 animais libertados até à data. Assim, a situação actual do lince-ibérico conta com cerca de 300 indivíduos distribuídos por dois núcleos populacionais, ambos situados em Andaluzia: Doñana-Aljarafe e Cardeña-Andújar;

Populações reintroduzidas, ainda com efectivos reduzidos mas com reprodução confirmada em Guadalmellato e Guarrizas (Andaluzia), Matachel (Extremadura), Montes de Toledo (Castilla la Mancha), e Vale do Guadiana (Portugal).

O Centro Nacional de Reprodução em Silves forneceu, até à data, 44 exemplares para libertar na natureza.