Luís Todo Bom: “O MBA representou uma alteração radical da minha vida profissional”
Luís Todo Bom, hoje administrador da Galp Energia mudou-se da engenharia químico-industrial para a gestão depois de ter feito o primeiro curso, em 1980/81. Foi secretário de Estado da Indústria e Energia, presidente da PT e administrador de várias empresas. Este é o seu testemunho
Tinha-me licenciado em Engenharia Químico-Industrial no Instituto Superior Técnico em 1971 e, nessa altura, estava no Gabinete da Área de Sines, que tinha actividades nas áreas da gestão e do investimento. Já tinha feito um conjunto de programas curtos de formação para executivos, e, entretanto, também tinha feito um programa na área da Engenharia do Ambiente nos EUA. A certa altura, começou a ser óbvio para mim que precisava de ter uma formação estruturada em Gestão, que é o que o MBA nos dá. Portanto, candidatei-me ao MBA da Universidade Nova de Lisboa, na sequência dessa preocupação que já tinha.
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Tinha-me licenciado em Engenharia Químico-Industrial no Instituto Superior Técnico em 1971 e, nessa altura, estava no Gabinete da Área de Sines, que tinha actividades nas áreas da gestão e do investimento. Já tinha feito um conjunto de programas curtos de formação para executivos, e, entretanto, também tinha feito um programa na área da Engenharia do Ambiente nos EUA. A certa altura, começou a ser óbvio para mim que precisava de ter uma formação estruturada em Gestão, que é o que o MBA nos dá. Portanto, candidatei-me ao MBA da Universidade Nova de Lisboa, na sequência dessa preocupação que já tinha.
Andava há dois anos a preparar-me para ir fazer o MBA para os EUA, que era o país onde este tipo de programas funcionava normalmente. Estava nessa altura a ver como obtinha bolsas que pudessem financiar essa formação e a perceber como organizava a minha vida pessoal e profissional para poder estar fora de Portugal um ano. Por isso, quando abriu um MBA em Lisboa, com professores americanos, a decisão era óbvia. Aliás, alguns dos meus colegas dessa primeira turma do MBA da Nova também estavam na mesma situação: tinham detectado o interesse e a necessidade de fazer um MBA e preparavam-se para ir para os EUA.
Além do custo, ir para os EUA fazer um MBA implicava muita coisa em termos pessoais e profissionais. Lembro-me que na altura as conversas entre nós eram neste sentido: ainda bem que este programa abriu, porque responde às nossas preocupações e evita que nos desloquemos os EUA, permitindo manter alguma estabilidade da vida pessoal e profissional.
O modelo do MBA na Nova era completamente americano, o que quer dizer que mantinha a sua característica fundamental: as bases teóricas de todas as disciplinas são instrumentais para a tomada de decisão. Ou seja, aprende-se finanças não para ser um financeiro, mas para tomar decisões na área financeira. Eu lembro-me que o que os professores faziam era colocarem-nos um estudo de caso e diziam: que decisão é que toma? O que distingue o MBA de uma licenciatura é a tomada de decisão. E nós fomos preparados para tomar decisões.
Quase todos os professores eram americanos. E tínhamos a vantagem de que, em algumas áreas, estudávamos pelos livros escritos pelos próprios professores que nos davam aulas. Tínhamos aulas em inglês, exames em inglês, trabalhos em inglês, era uma situação completamente diferente daquilo a que estávamos habituados. Na altura, nenhuma universidade portuguesa tinha cursos em inglês. Além disso, o curso era muito exigente e muito intenso. Havia uma regra: por casa hora de aula, era suposto termos duas horas de trabalho individual. Portanto, o programa tinha 15 horas de aulas por semana e era suposto as pessoas trabalharem 45 horas por semana. Havia duas modalidades: uma em full-time, na qual o aluno não fazia mais nada, e havia também a possibilidade de fazer o curso em dois anos. Como não podia dar-me ao luxo de fazer o curso em full-time, fiz em dois anos. Tínhamos, de facto, muito trabalho. Foram dois anos muito intensos.
No primeiro curso, a maioria das pessoas tinha como licenciaturas de base engenharias, Gestão e Economia. Para os que, como eu, vinham de Engenharia, a formação em Matemática era já muito densa e todas as áreas quantitativas da Gestão eram para nós muito fáceis. As áreas qualitativas eram mais complicadas, porque nós estamos sempre mais preparados para falar em números. Mas isso tem uma vantagem: tudo é novidade. Finanças, Contabilidade, Marketing, Operações, etc., foram um complemento de conhecimento e de formação muito importante.
O MBA foi completamente decisivo para a minha carreira. Depois do MBA, fui para presidente do Fundo de Turismo. Era um banco de investimento do turismo e o que fazia era uma gestão financeira. Portanto, saí completamente da engenharia e entrei completamente na área financeira. E a partir daí toda a minha vida se alterou profundamente e passei completamente para a gestão. Agora estou na administração da Galp e acho piada porque, quando vou visitar a refinaria, já sei pouquíssimo dos aspectos tecnológicos da engenharia química.
No meu caso pessoal, o MBA representou uma alteração radical da minha vida profissional, mas diria que isso aconteceu com todos nós. Os primeiros alunos do MBA acabaram por ter um papel muito determinante na economia nacional. Grande parte de nós assumiu responsabilidades muito grandes na economia portuguesa. Na área das telecomunicações, eu fui presidente da Portugal Telecom e o António Carrapatoso foi presidente da Telecel/Vodafone, por exemplo. Mas também na área da banca e da energia estiveram muitos dos nossos colegas. Nessa altura também abriu o mercado de capitais e os principais corretores vinham do primeiro MBA. Éramos poucos, éramos uma novidade e éramos muito bem preparados. Saímos para a vida real preparados para tomar decisões e isso foi uma alteração qualitativa fundamental em relação à prática da gestão em Portugal até essa altura.
Depoimento recolhido por Samuel Silva