Ban Ki-moon pede “mais compaixão e solidariedade” aos líderes europeus
“Nunca percam a esperança de um dia voltar ao vosso país”, pediu o secretário-geral das Nações Unidas no final de um encontro em Lisboa com dezenas de universitários sírios a estudar em Portugal.
O secretário-geral da ONU quis ouvir os universitários sírios que estudam em Portugal e esta quinta-feira eles vieram de todo o país falar com ele. Pediram-lhe que apoie a Plataforma Global de Assistência a Estudantes Sírios, lançada por Jorge Sampaio em 2013, para que outros tenham a oportunidade de acabar os seus estudos, como eles; lembraram as crianças que vivem em campos de refugiados e todos, sem excepção, disseram querer voltar à Síria.
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O secretário-geral da ONU quis ouvir os universitários sírios que estudam em Portugal e esta quinta-feira eles vieram de todo o país falar com ele. Pediram-lhe que apoie a Plataforma Global de Assistência a Estudantes Sírios, lançada por Jorge Sampaio em 2013, para que outros tenham a oportunidade de acabar os seus estudos, como eles; lembraram as crianças que vivem em campos de refugiados e todos, sem excepção, disseram querer voltar à Síria.
Dos perto de 100 estudantes em Portugal (mais 50 estudam noutros países que se juntaram à Plataforma), vieram uns 70 e houve 18 que subiram ao palco do auditório do Museu do Oriente com Ban e Sampaio. Alguns falaram das suas experiências, outros chamaram a atenção para o sofrimento dos refugiados que fugiram do seu país. Ban admitiu que a situação na Síria “é inaceitável” e afirmou-se “inspirado pela resistência e pelos sonhos” dos que ouviu.
Insistindo que “uma solução política para a Síria é o único caminho sustentável”, garantiu que a ONU vai continuar a trabalhar para isso, procurando “elementos comuns” para sentar as partes à mesa. “As negociações entre o regime e a oposição têm sido muito difíceis”, disse, e “ainda deverão levar muito tempo”. Mas “só o diálogo político” porá fim ao conflito que dura há mais de cinco anos e já fez pelo menos 400 mil mortos.
Explicando a gigantesca tarefa que é dar assistência a todos os sírios que dela necessitam (10 milhões de pessoas dentro da Síria, 4,6 milhões destas em zonas cercadas ou de difícil acesso, para além dos 4,5 milhões de refugiados), o secretário-geral da ONU pediu “mais compaixão e solidariedade aos líderes europeus”. Defendeu que a crise de refugiados “é mais uma crise de solidariedade do que de números”.
Ban vinha de um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e agradeceu “a contribuição positiva dos portugueses” no acolhimento de refugiados”. Portugal disponibilizou-se para receber 10 mil refugiados e já acolhe 211 vindos no âmbito dos acordos para distribuir pela União Europeia as mais de 900 mil pessoas que chegaram à Europa em 2015 em fuga de conflitos.
O ex-Presidente português aproveitou a vinda de Ban Ki-moon a Portugal para o mobilizar para a criação de um mecanismo de resposta rápida para a educação superior nas emergências a partir da experiência da Plataforma. Só com mecanismos deste tipo se assegura “a criação de uma nova geração de líderes” que todos os países em conflito vão precisar para se voltar a erguer, disse Sampaio na abertura do encontro. No momento em que se enfrenta a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra, com 60 milhões de pessoas, só 1% dos refugiados tem acesso à educação superior.
A ideia é conseguir discutir o ensino superior na Cimeira Mundial sobre Questões Humanitárias, este mês, em Istambul, onde se vai repensar toda a lógica do auxílio humanitário.
Sonhos e esperanças
Adam al-Alou estuda Ciência Política e hoje partilha “um sonho com milhões de sírios”, o de “ver e talvez fazer parte de uma transição política que dê à Síria um Estado democrático que realmente represente as aspirações dos sírios”. O sonho de Sara Hummeid, que estuda Farmácia na Covilhã, é “tão simples”: “Ter um país onde possamos viver livremente e escolher o que queremos, uma democracia. Não queremos um país onde vivemos todos os dias com medo, de morrer por bombardeamentos nas escolas ou hospitais".
Mounir Affaki, que chegou em Outubro de 2014 vindo de Alepo, contou que ainda vivia na cidade quando a Faculdade de Arquitectura foi atacada a primeira vez. “Hoje, a situação ainda é pior. A universidade voltou a ser atacada, a estrada para lá chegar é muito perigosa, mas nada pára os estudantes que arriscam tudo para tentar acabar os seus estudos. Só que já quase não há professores. E eles merecem poder fazê-lo num ambiente seguro”, disse Mounir, que vive e estuda em Coimbra. Tareq, outro estudante, disse que não sente “falta de ser reprimido e detido só por pensar livremente” e lembrou os amigos e familiares mortos.
“Nunca percam a esperança de um dia voltar ao vosso país”, pediu aos universitários, contando que quando era criança também teve de fugir, dentro do seu país, durante a guerra das Coreias. “Fomos para a montanha, não éramos atacados, mas via como os meus pais e avós se preocupavam com a falta de comida. A ONU chegou com alimentos, livros, cadernos, e tornou-se numa espécie de salva-vidas”, disse. “As Nações Unidas vão estar sempre lá para vos ajudar, como estiveram comigo. Mas isso não chega, vocês precisam de poder regressar à Síria.”