Um Governo de homens
O executivo de Michel Temer é uma ruptura total com o Governo do Partido dos Trabalhadores.
O executivo de Michel Temer é uma ruptura total com o Governo do Partido dos Trabalhadores e vinca a opção liberal depois de 13 anos que o Brasil viveu orientado por uma política de esquerda. Afastado do Planalto, o PT já fez saber que vai assumir o papel de oposição e votar contra todas as iniciativas do Presidente interino.
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O executivo de Michel Temer é uma ruptura total com o Governo do Partido dos Trabalhadores e vinca a opção liberal depois de 13 anos que o Brasil viveu orientado por uma política de esquerda. Afastado do Planalto, o PT já fez saber que vai assumir o papel de oposição e votar contra todas as iniciativas do Presidente interino.
Para sustentar a sua presidência, Michel Temer teve que negociar uma base de apoio no Congresso, repartindo ministérios e secretarias de Estado pelos seus novos aliados. São 21 os ministros já conhecidos do Governo. Os nomeados são todos homens — uma ironia, perante o processo de impeachment à primeira Presidente mulher do país.
Finanças: Henrique Meirelles
Tem 70 anos e é considerado o ministro mais importante da equipa de Temer. Ex-presidente do Banco Central do Brasil (2003-11), tem uma excelente reputação junto dos mercados que, segundo a AFP, acalmaram depois de ser confirmado que seria a escolha para as Finanças. Membro do PMDB, trabalhou directamente com Lula da Silva, com quem estabeleceu uma relação próxima — chegou a ser considerado para o lugar de vice-presidente após a eleição de Dilma Rousseff, mas esta preferiu Michel Temer.
Engenheiro e gestor, assume o cargo um período particularmente difícil para a economia do Brasil e para o ambiente político. Mas a experiência política que acumulou ao longo dos anos, assim como as capacidades técnicas, tornam-no apto para “enfrentar o furacão que ameaça a primeira economia da América Latina”, diz a AFP no perfil que lhe dedicou.
O Brasil está mergulhado numa recessão que fez encolher o seu crescimento para 3,8% em 2015, o pior resultado em 25 anos. Este ano é esperado um PIB da mesma ordem, depois uma estagnação em 2017. Será o pior período de recessão num século. Para agravar este cenário, a inflação ronda os 10% e o desemprego os 11%. A prioridade de Henrique Meirelles será o de fazer aprovar um ajustamento orçamental, que Dilma Rousseff tentou implementar mas que o Congresso não aceitou.
Desporto: Leonardo Picciani (PMDB)
Tem 36 anos, é líder do PMBD na Câmara dos Deputados, e tido como aliado de Dilma Rousseff desde o ano passado. Foi, aliás, um dos últimos no partido a voltar-se contra Presidente. Eleito pelo Rio de Janeiro – o “quintal” mais importante do partido, e onde dentro de três meses arrancam os Jogos Olímpicos –, votou contra o processo de destituição. Ele e o seu pai, Jorge Picciani, deputado estadual, bem como o seu irmão, Rafael Picciani, responsável dos Transportes do município do Rio de Janeiro, estão a ser investigados por angariação e gastos ilícitos na campanha eleitoral de 2014.
“Sou de uma geração que não viveu o arbítrio da ditadura, de uma geração que acompanhou, ainda na infância, o processo de impedimento de Collor. Não imaginava que minha geração viria a viver um momento como esse, mas quis o destino que aqui estivéssemos”, disse Leonardo Picciani, citado pela Agência Brasil. A sua mulher, a actriz Janine Salles, causou um pequeno escândalo, ao atacar Michel Temer e Eduardo Cunha no Facebook depois da votação na câmara baixa do Congresso, em Abril, que abriu caminho ao impeachment.
Negócios Estrangeiros: José Serra (PSDB)
Um dos caciques do PSDB e um dos políticos mais conhecidos dos brasileiros, José Serra já concorreu duas vezes à presidência do país: perdeu em 2002 contra Lula da Silva, e novamente em 2010 contra Dilma Rousseff. Mas essas derrotas são a excepção na sua longa carreira eleitoral: foi eleito deputado federal, relator da Constituinte, senador, prefeito de São Paulo, a maior cidade do país, e depois governador do estado. Em 2014 regressou ao Senado, batendo nas eleições Eduardo Suplicy, uma figura simbólica do PT.
No Governo de Fernando Henrique Cardoso, de quem é próximo, assumiu as pastas do Planeamento e da Saúde – durante o período de composição do novo executivo provisório, o seu nome foi frequentemente citado para regressar a esse ministério, onde incentivou os medicamentos genéricos. É um veterano: homem polémico, envolveu-se na política enquanto estudante de engenharia e com o golpe militar de 1964 teve de fugir para o exílio, por perseguição da ditadura. Esteve em França, no Chile e nos Estados Unidos, onde trabalhou para a ONU.
Justiça e Cidadania: Alexandre de Moraes (PSDB)
Outro homem do PSDB de São Paulo, actual responsável pela secretaria de Segurança Pública do governo estadual, Alexandre de Moraes foi advogado em 123 processos ligados ao temível PCC – o Primeiro Comando da Capital, uma das mais perigosas facções criminosas da América do Sul, envolvida no tráfico de droga, assassínios e crime organizado. Também foi advogado do presidente da Câmara de Deputados afastado de funções, Eduardo Cunha, e é amigo pessoal de Michel Temer.
O seu será um super-ministério, que passará a incluir as anteriores secretarias das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. A indicação de Alexandre de Moraes, 48 anos, mereceu o assobio imediato de movimentos estudantis, por causa das suas ordens para intervenções “musculadas” em escolas ocupadas por estudantes em São Paulo, onde a Polícia Militar carregou sobre os alunos. Também as suas descrições das manifestações de apoio a Dilma como “criminosas” e “actos de guerrilha” causaram polémica.