Suspeitas de corrupção nos Jogos de Tóquio 2020

Jornal Guardian revela pagamento de 1,3 milhões de euros da candidatura japonesa ao filho do antigo presidente da IAAF.

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O momento em que Jacques Rogge anunciou Tóquio como a sede dos Jogos de 2020 Fabrice Coffrini/Reuters

Depois da FIFA e da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), agora é o Comité Olímpico Internacional (COI) que está envolvido em suspeitas de corrupção no processo de atribuição dos Jogos Olímpicos de 2020 a Tóquio, de acordo com revelações feitas ontem pelo Guardian. Segundo o jornal britânico, um ou mais depósitos no valor total de 1,3 milhões de euros, e que estão a ser investigados pelas autoridades francesas, foram feitos pela candidatura da cidade japonesa numa conta bancária ligada a Papa Massata Diack, filho do senegalês Lamine Diack, na altura o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).

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Depois da FIFA e da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), agora é o Comité Olímpico Internacional (COI) que está envolvido em suspeitas de corrupção no processo de atribuição dos Jogos Olímpicos de 2020 a Tóquio, de acordo com revelações feitas ontem pelo Guardian. Segundo o jornal britânico, um ou mais depósitos no valor total de 1,3 milhões de euros, e que estão a ser investigados pelas autoridades francesas, foram feitos pela candidatura da cidade japonesa numa conta bancária ligada a Papa Massata Diack, filho do senegalês Lamine Diack, na altura o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).

Esta revelação sugere que a candidatura japonesa poderá ter comprado votos para garantir a organização dos Jogos de 2020, cujo processo de escolha terminou com uma votação a 7 de Setembro de 2013, com Tóquio a derrotar Istambul e Madrid. Na altura, Diack, como presidente da IAAF, era também um membro influente do Comité Olímpico Internacional (COI), e o seu filho era um consultor de marketing do organismo que tutela o atletismo internacional, e ambos também atingidos no encobrimento de casos de doping no atletismo russo.

A confirmarem-se estas alegações, o COI volta a estar, assim, envolvido num escândalo de compra de votos para a organização de Jogos Olímpicos. O último caso afectou a candidatura vencedora de Salt Lake City aos Jogos de Inverno de 2002 e que conduziu à demissão de vários membros do COI depois de ter ficado provado que aceitaram subornos em troca de votos na proposta norte-americana em prejuízo das propostas de Sion, Ostersund e Quebeque. Depois deste escândalo, o próprio COI estabeleceu regras mais rígidas sobre o que os membros do COI podem aceitar das candidaturas, entre viagens e outras prendas.

A conta em que foram detectados estes depósitos da proposta japonesa já antes fora associada aos Diack na investigação à IAAF sobre o doping russo, caso que motivou o afastamento em 2015 do senegalês da liderança do organismo que presidia desde 1999 — foi substituído no cargo por Sebastian Coe. A conta foi registada pela “Black Tidings”, do empresário de Singapura Ian Tan Hong Han, que é tido como muito próximo de Massata Diack e membro de uma estrutura de poder informal que existia dentro da própria IAAF, antes do relatório de uma comissão independente da Associação Mundial Antidopagem ter revelado vários escândalos dentro do organismo que implicaram Diack e os seus dois filhos e Gabriel Dollé, na altura director médico da IAAF. Por esta conta, acrescenta o Guardian, terão passado dezenas de milhões de euros.

Do lado japonês ninguém comenta estas revelações. O Comité Olímpico do Japão adiou uma resposta às questões do Guardian alegando que não tinha ninguém disponível no seu departamento de imprensa, enquanto o Comité Organizador dos Jogos de Tóquio respondeu através da sua porta-voz Hikariko Ono, que declarou acreditar que “os Jogos foram atribuídos a Tóquio porque a cidade apresentou a melhor proposta”. O COI, por seu lado, diz que não comenta “uma investigação que está a decorrer”, reforçando que está “em contacto com todas as partes interessadas para clarificar quaisquer condutas impróprias”.

Os Jogos da XXXII Olímpiada, que vão decorrer entre 24 de Julho e 9 de Agosto, serão a segunda vez que a capital japonesa recebe o evento, depois de 1964. Para além dos Jogos de Verão, o Japão recebeu ainda por duas vezes os Jogos Olímpicos de Inverno, em 1972 (Sapporo) e em 1998 (Nagano), cujo processo de candidatura também foi bastante polémico. Antes da votação final, a candidatura japonesa pagou viagens e alojamento de luxo na cidade aos membros do COI, instalando, por exemplo, o então presidente Juan António Samaranch numa suite que custava 2700 dólares por noite. Também antes da decisão final, a candidatura de Nagano também terá angariado patrocínios de empresas japonesas para a construção de um museu olímpico em Lausana.