Palavras em família

O novo filme de Joachim Trier faz-nos ter saudades de Oslo, 31 de Agosto.

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De certa maneira, Ensurdecedor (que aparentemente vai buscar o título original, Louder than Bombs, a um album dos Smiths), é o contrário de Oslo, 31 de Agosto, o belo filme que trouxe o norueguês Joachim Trier à primeira linha do cinema internacional. O que nesse filme era contemplação assombrada, matéria de pura observação sem grande interferência psicológica, cede aqui lugar a uma intrincada (intrincadíssima) teia dramática, onde se observa menos o mundo ou uma porção dele do que a psicologia das personagens, os seus traumas e os seus lutos. É uma produção “internacional”, com elenco transatlântico de luxo (de Isabelle Huppert a Jesse Eisenberg), que troca o “localismo” tão bem indicado no título do filme de Oslo pela ambientação nos Estados Unidos (imediações de Nova Iorque), mas com muito pouco interesse em restituir um olhar sobre essa geografia (o que é atestado pela preponderância de cenas em interiores). E, dados estes trâmites, é a narração de uma história de recomposição familiar, pouco anos depois da morte da mãe (Huppert), uma fotógrafa de guerra falecida em circunstâncias misteriosas, que são o “trauma” escondido.

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De certa maneira, Ensurdecedor (que aparentemente vai buscar o título original, Louder than Bombs, a um album dos Smiths), é o contrário de Oslo, 31 de Agosto, o belo filme que trouxe o norueguês Joachim Trier à primeira linha do cinema internacional. O que nesse filme era contemplação assombrada, matéria de pura observação sem grande interferência psicológica, cede aqui lugar a uma intrincada (intrincadíssima) teia dramática, onde se observa menos o mundo ou uma porção dele do que a psicologia das personagens, os seus traumas e os seus lutos. É uma produção “internacional”, com elenco transatlântico de luxo (de Isabelle Huppert a Jesse Eisenberg), que troca o “localismo” tão bem indicado no título do filme de Oslo pela ambientação nos Estados Unidos (imediações de Nova Iorque), mas com muito pouco interesse em restituir um olhar sobre essa geografia (o que é atestado pela preponderância de cenas em interiores). E, dados estes trâmites, é a narração de uma história de recomposição familiar, pouco anos depois da morte da mãe (Huppert), uma fotógrafa de guerra falecida em circunstâncias misteriosas, que são o “trauma” escondido.

Tudo é feito com rigor e inteligência na construção e na escrita, mas a ambivalência em relação ao filme nasce do excesso de construção e de escrita, precisamente. Ensurdecedor é um filme que nunca encontra uma boa maneira de dar vida à sua complexidade: os flashbacks, os raccontos e as histórias individuais, as sequências oníricas, as montagens fotográficas do trabalho da personagem de Huppert (onde mais evidentemente passa uma vontade de comentar o “estado do mundo”), tudo isto, dado numa economia narrativa sempre “cumulativa”, tem o condão de abafar o filme (não no sentido “abafado”, em estufa, que ele aparentemente pretende ter) e de cansar o espectador, diminuindo-lhe progressivamente o interesse por aquelas personagens e anulando o impacto dos diálogos, que são o processo que mais faz mover um filme muito, muito palavroso. Não é razão para descartar Joachim Trier, mas que acabamos de ver Ensurdecedor com saudades daquele estilo muito directo e muito físico de Oslo, 31 de Agosto, ai isso acabamos.