Tiro a José Rodrigues dos Santos
Típico raciocínio socialista: isto não se admite num canal controlado pelo Estado.
Desde que em Março de 2014 José Rodrigues dos Santos decidiu interromper o solilóquio de José Sócrates na televisão pública para fazer perguntas de jornalista a um ex-primeiro-ministro que conduziu o país à bancarrota, a sua popularidade caiu a pique entre as hostes socialistas.
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Desde que em Março de 2014 José Rodrigues dos Santos decidiu interromper o solilóquio de José Sócrates na televisão pública para fazer perguntas de jornalista a um ex-primeiro-ministro que conduziu o país à bancarrota, a sua popularidade caiu a pique entre as hostes socialistas.
Em pouco mais de meio ano, tivemos: 1) O caso do cabeça de lista do PS Porto, Alexandre Quintanilha (Outubro de 2015), acerca do qual o pivô da RTP afirmou em directo ter sido “eleito ou eleita pelo PS”, um lapso evidente de tão estúpido, mas que logo foi transformado num ataque homofóbico contra o candidato socialista. 2) O caso Maria do Rosário Gama (Janeiro de 2016), militante do PS, que se queixou à ERC por José Rodrigues dos Santos ter tido “um comportamento indigno” num debate televisivo em que fez perguntas chatas a Sampaio da Nóvoa. 3) E agora (Maio de 2016) o caso do temível gráfico sobre a dívida portuguesa, classificado pelo ex-deputado do PS José Magalhães como “vigarice extrema”, a que se seguiram bonitas considerações pessoais sobre o jornalista da RTP, variando entre o “talibã” (Magalhães) e o “especialista em desinformação” (do deputado e porta-voz do PS João Galamba).
Mas, afinal, que coisas tão horríveis disse Rodrigues dos Santos acerca da dívida portuguesa? Disse que “a dívida é um problema central na nossa crise”. Disse que “no ano 2000, a dívida pública portuguesa correspondia a 48 por cento do PIB”. Disse que em 2005 já tinha ultrapassado “o limite dos 60 por cento estabelecido em tratado e isto obrigava Portugal a travar o endividamento”. Disse que, “em vez de travar, Portugal fez exactamente o contrário: o endividamento disparou”. Disse que, “como consequência, em 2011, quando a troika chegou a Portugal, a dívida pública já estava nos 185 mil milhões de euros, correspondentes a 108 por cento do PIB”. Disse que “vários países, incluindo Portugal, estavam a esconder a dívida em empresas públicas, dívida que não era incluída nas contas nacionais”. E disse que quando o perímetro orçamental foi alargado por Bruxelas a dívida disparou, “de tal modo que no mês passado a dívida pública portuguesa atingiu os 233 mil milhões de euros, um valor que deverá rondar os 130 por cento do PIB, o que é mais do dobro dos 60 por cento a que Portugal se comprometeu por tratado”.
E foi isto. Ou seja, José Magalhães chama “vigarice extrema” à descrição factual da evolução da dívida portuguesa nos últimos 15 anos. Reparem que Rodrigues dos Santos não falou em José Sócrates. Nem falou em governos PS. Limitou-se a mostrar números, com a sua habitual entoação melodramática, num ecrã panorâmico do Telejornal. Foi o que bastou para pôr vários socialistas à beira da apoplexia. E quando em estado apopléctico, logo surgem os tiques de Donos Disto Tudo – para eles, a atitude de José Rodrigues dos Santos é grave sobretudo por acontecer na RTP. Maria do Rosário Gama: “Mancha a informação da televisão pública, paga por todos os contribuintes.” José Magalhães: “Passá-la na RTP à hora de maior audiência é um enxovalho para o serviço público.” Típico raciocínio socialista: isto não se admite num canal controlado pelo Estado.
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Benditos péssimos livros de José Rodrigues dos Santos. Os seus romances podem dar mau nome às letras portuguesas, mas pelo menos fizeram dele um homem rico, um homem que não precisa do emprego na RTP, ou seja, um homem livre. E é isso, e só isso, que os adeptos de Telejornais domesticados têm tanta dificuldade em engolir.