As buzinas não eram muitas mas soaram alto contra obras no Eixo Central
Os lisboetas estão divididos. Entre buzinões, o PÚBLICO ouviu as vozes de quem apoia e quem critica as obras de requalificação do Eixo Central.
Uma semana depois do início das obras de requalificação no Eixo Central de Lisboa, estava marcado para o final da tarde, na rotunda do Marquês de Pombal, o buzinão convocado por um grupo de moradores que se sentem afectados. Com cinco minutos de atraso, pelas 18h35, começa a ouvir-se protestos mais prolongados do que o normal, naquela que é uma das zonas com trânsito mais intenso na cidade. Convocado através das redes sociais, o buzinão não foi consensual e isso reflectiu-se na sua mobilização. Não eram muitos os carros que buzinavam, numa marcha lenta à volta da rotunda do Marquês de Pombal.
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Uma semana depois do início das obras de requalificação no Eixo Central de Lisboa, estava marcado para o final da tarde, na rotunda do Marquês de Pombal, o buzinão convocado por um grupo de moradores que se sentem afectados. Com cinco minutos de atraso, pelas 18h35, começa a ouvir-se protestos mais prolongados do que o normal, naquela que é uma das zonas com trânsito mais intenso na cidade. Convocado através das redes sociais, o buzinão não foi consensual e isso reflectiu-se na sua mobilização. Não eram muitos os carros que buzinavam, numa marcha lenta à volta da rotunda do Marquês de Pombal.
Maria Gonçalves mora na Avenida da República e queixa-se de falta de informação e da velocidade das obras. A solução? “Suspender as obras ou trabalhar de dia e noite. Com certeza que os moradores não se importam de ter barulho durante três meses, não durante 18”, defende.
Francisco Teixeira, um dos moradores afectados, defende que a obra “carece de um pensamento mais profundo”. “Eu nunca começaria umas obras destas sem resolver primeiro o problema de Lisboa e o problema de Lisboa é as pessoas não terem sítio para deixar o carro e não terem transportes eficazes”, aponta. “Se as pessoas não têm essas duas necessidades básicas vão perder qualidade de vida”, considera. A viver no Saldanha, compara as obras à água de um rio cujas margens se estreitam e levam à inundação das imediações. “Os passeios são mais largos, mas a que custo?”, questiona, defendendo que os peões na zona das Avenidas Novas não tinham problemas.
Entre as críticas à falta de informação contam-se as do Automóvel Club de Portugal, que aponta ainda a “inadequação técnica de algumas das soluções propostas”. O clube queixa-se das “condições mais desfavoráveis para a circulação do transporte colectivo” e da “supressão de um elevado número de lugares de estacionamento, sem que se apresente qualquer análise sobre os níveis de ocupação e rotação dos lugares existentes e sem se definirem alternativas”.
“Estar num carro a buzinar é uma coisa facílima e apela ao pior instinto da pessoa.” Esta é a opinião de Rui Martins, um dos ciclistas da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mubi), que marcou presença no protesto silencioso contra o buzinão. Rui Martins condena os protestos dos moradores e acredita que estes acontecem por “uma mistura de ignorância”. “É uma visão de cidade diferente do que as outras pessoas querem. É o aproveitamento das forças políticas que querem fazer oposição à Câmara.” Além disso, “falam muito do número de lugares de estacionamento”, mas o número de lugares que se perde, comparativamente com o universo dos que estão disponíveis, é uma coisa completamente ridícula”, sublinha.
A mesma opinão partilha José Manuel Caetano. O presidente da Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente não compreende os protestos e desvaloriza a mobilização conseguida pelo movimento “Lisboa - Estaleiro Eleitoral” e nem a escolha do local escapa às críticas. Um protesto no Marquês de Pombal, “onde existem os mais elevados índices de poluição atmosférica e sonora da cidade de Lisboa” é, para os ambientalistas, “uma contradição aos princípios e aos objectivos daqueles que desejam uma cidade ambientalmente sã e com cidadãos esclarecidos”. Para José Manuel Caetano é simples: “Querem locais de estacionamento? Comprem. Se querem mudar a cidade, comecem agora a aplicar essa mudança”. O lisboeta mostra-se ainda céptico quanto às reais motivações que levaram à organização do protesto. “Eu não sou político, mas já percebi que estão aqui as próximas eleições autárquicas em causa. Isto é um jogo político. Se isto fosse sentido por um bairro qualquer a sério estava aqui muita gente. Mas não está”, conclui.
João Gonçalves Pereira, vereador da Câmara de Lisboa eleito pelo CDS, diz-se satisfeito com o resultado da iniciativa. “Há um mérito que foi conseguido: colocar o tema na agenda, fazer com que os lisboetas soubessem que intervenção vai ser feita”, afirma ao PÚBLICO o vereador. João Gonçalves Pereira sublinha ainda que o partido não está contra as obras de requalificação do Eixo. O que o vereador critica é "a forma como o processo foi conduzido”. “Não houve uma proposta que tivesse ido à câmara para discussão do projecto”, nem houve “uma consulta pública”. O CDS afirma-se, essencialmente, preocupado com a sobreposição de obras a decorrer, além das que estão ainda previstas, durante os próximos meses. Mas defende: “A obra deve continuar”. Por isso, esta quarta-feira, o CDS apresentará uma proposta de “recalendarização das grandes obras”. A moção sugere “a alteração do calendário das obras da Segunda Circular e de Sete Rios, por forma a não degradar ainda mais a mobilidade em Lisboa pela sua simultaneidade com as obras já em curso no Cais do Sodré e no Eixo Central”.
No documento, o CDS afirma que a paralisação da cidade lisboeta “é inevitável se o executivo socialista prosseguir este frenético calendário de obras”. “No mês de Setembro a vida dos Lisboetas e das suas famílias, com o regresso ao trabalho e às aulas, será infernal", antevê. O interesse dos cidadãos deve “estar sempre acima de qualquer calendário eleitoral, e este súbito afã de mostrar obra […] promete trazer o caos à vida dos lisboetas”.