FITEI 2016 mostra novo teatro chileno
Na sua 39.ª edição, a segunda dirigida pelo encenador Gonçalo Amorim, o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica quis dar visibilidade à cenografia.
Numa edição cujo assumido fio condutor é este ano a cenografia, o FITEI 2016, que decorrerá de 28 de Maio a 19 de Junho, aposta na nova dramaturgia chilena, com duas peças significativas de uma geração que tem conseguido tratar os temas da história política com um distanciamento crítico ainda hoje difícil num país onde está bem viva a memória do golpe que levou, em 1973, à sangrenta ditadura de Pinochet.
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Numa edição cujo assumido fio condutor é este ano a cenografia, o FITEI 2016, que decorrerá de 28 de Maio a 19 de Junho, aposta na nova dramaturgia chilena, com duas peças significativas de uma geração que tem conseguido tratar os temas da história política com um distanciamento crítico ainda hoje difícil num país onde está bem viva a memória do golpe que levou, em 1973, à sangrenta ditadura de Pinochet.
El Señor Galíndez, um texto de 1973 do recém-desaparecido dramaturgo e psicanalista argentino Eduardo Pavlovsky, agora encenado pela companhia chilena Teatro Amplio, do jovem actor e encenador Antonio Altamirano, abre no próximo dia 15 de Junho, no Teatro Carlos Alberto, a presença do Chile nesta 39.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Dois homens de aspecto comum, sentados a uma mesa, conversam sobre a família e outros temas triviais, incluindo a ocupação profissional que partilham: são ambos torturadores profissionais ao serviço da ditadura. “É uma peça muito violenta em que não há nenhuma violência visível”, resumiu esta terça-feira o director do FITEI, o encenador Gonçalo Amorim, na apresentação da programação do festival, no Teatro Municipal Rivoli.
E será de novo um espectáculo chileno a marcar o encerramento do festival, que terá lugar a 19 de Junho no Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos. Los Millonarios, uma peça escrita e encenada por Alexis Moreno para o Teatro La María, conta a história de um escritório de ricos e corruptos advogados que decide representar a causa do espoliado povo indígena mapuche, defendendo um homicida mapuche efectivamente culpado do crime de que é acusado, não porque acredite na sua inocência, mas para servir os seus próprios interesses e os dos seus abastados clientes.
A América Latina está ainda representada no FITEI pela peça Las Ideas, do argentino Federico León, na qual uma mesa de pingue-pongue é ao mesmo tempo o desktop de um computador e o local de trabalho onde um artista e o seu colaborador discutem projectos criativos num incessante pingue-pongue de ideias. A ver nos dias 1 e 2 de Junho no Teatro Nacional de São João (TNSJ), que é, com o Teatro Rivoli, um dos parceiros artísticos do FITEI. Este ano o festival estabeleceu ainda uma parceria com a Associação Portuguesa de Cenografia (APCEN), que possibilitou a organização de uma série de conversas pós-espectáculo nas quais se falará das peças que o público acabou de ver, olhando-as a partir da respectiva cenografia.
O discurso sobre o teatro vai estar particularmente em destaque nos dias 10 e 11 de Junho, no TNSJ, onde decorrerá uma extensão, coordenada por Rui Pina Coelho com a colaboração de Jorge Louraço Figueira e Ana Pais, do colóquio Lançar Diálogos: Crítica de Artes do Espectáculo e Esfera Pública, promovido pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O festival abre no dia 28, no Rivoli, com Suite Nº2, de Joris Lacoste e do colectivo Encyclopédie de la Parole, um espectáculo centrado nos sons de um arquivo áudio construído pela própria companhia, e que neste segundo andamento do projecto se centra em palavras que, para o melhor e para o pior, marcam o nosso quotidiano. No mesmo dia, o grupo musical portuense Palankalama actua no renovado Teatro do Bolhão.
Concerto para Estrelas, do Teatro do Frio, que na noite de 29 levará o FITEI aos belos jardins da sede das Águas do Porto, onde os espectadores, munidos de auscultadores sem fios, ouvirão a música composta por Filipe Lopes e Rodrigo Malvar enquanto olham as estrelas, é um bom exemplo, neste FITEI concebido sob o signo da cenografia, do alcance que se quis dar ao conceito. Outro exemplo dessa visão heterogénea da cenografia vem também do Teatro do Frio, com Sal, um solo de teatro-dança criado e interpretado por Catarina Lacerda a partir da poesia de Mário de Sá-Carneiro, no qual o verdadeiro espaço cenográfico é o corpo da actriz.
Pirandello, do grupo Mala Voadora, baseado no romance Ele Foi Mattia Pascal, do dramaturgo e ficcionista italiano (Rivoli, dias 3 e 4), Lost Dog, do colectivo espanhol Cal y Canto (integrado no Serralves em Festa, nos dias 4 e 5), Segunda-Feira: Atenção à Direita, de Cláudia Dias, primeiro de uma série de sete espectáculos que evocarão os diferentes dias da semana, este tendo como artista convidado o poeta galego Pablo Fidalgo (Rivoli, dias 10 e 11) ou O nosso desporto preferido – Presente, de Gonçalo Waddington (Rivoli, dia 17), são alguns dos outros espectáculos escolhidos para este 39.º FITEI, que apresenta no dia 15 de Junho, no TNSJ a peça Não Mates o Mandarim, do Teatro Experimental do Porto, encenada por Gonçalo Amorim a partir da novela O Mandarim, de Eça de Queirós. A peça estreia no TNSJ no dia 9, mas só se integra no FITEI de dia 15 a dia 17.
Se em 2015, quando assumiu a direcção do FITEI, Gonçalo Amorim quis abrir o veterano festival portuense às questões que interessavam mais à sua própria geração, e se agora optou por dar visibilidade à cenografia, a conferência de imprensa desta terça-feira serviu ainda para levantar um pouco o véu sobre o que poderá ser, em 2017, a edição comemorativa dos 40 anos do FITEI, que terá como tema-chave - isso já se sabe - a “comunidade”.