Há seis meses a repetir os adjectivos "estável, legítimo e coerente"
Desde que tomou posse, o primeiro-ministro centralizou discurso e evitou crises comunicacionais. Segue ao sabor da estabilidade da solução governativa e vive um antes e um depois de Marcelo.
“Portugal não é a Grécia” foi talvez a frase que Passos Coelho adoptou como slogan para o início de mandato. António Costa preferiu carregar em dois adjectivos – “legítimo” e “coerente” –, ao mesmo tempo que usa substantivos como “diálogo” e “compromisso”. Apurou a comunicação para chegar ao “Governo estável”, que faz dele um primeiro-ministro “confiante”. A mensagem do Governo de Costa corre ao sabor das circunstâncias diferentes da vida deste Executivo, quando comparado com o anterior: Passos queria mostrar aos mercados que era diferente do outro Estado sob tutela da troika, a Grécia, Costa quer mostrar à Europa que é rebelde q.b. e para não a irritar insiste que a solução é original, mas não perigosa. Mas afinal como vive este Governo no espaço público? Como comunica com os portugueses?
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“Portugal não é a Grécia” foi talvez a frase que Passos Coelho adoptou como slogan para o início de mandato. António Costa preferiu carregar em dois adjectivos – “legítimo” e “coerente” –, ao mesmo tempo que usa substantivos como “diálogo” e “compromisso”. Apurou a comunicação para chegar ao “Governo estável”, que faz dele um primeiro-ministro “confiante”. A mensagem do Governo de Costa corre ao sabor das circunstâncias diferentes da vida deste Executivo, quando comparado com o anterior: Passos queria mostrar aos mercados que era diferente do outro Estado sob tutela da troika, a Grécia, Costa quer mostrar à Europa que é rebelde q.b. e para não a irritar insiste que a solução é original, mas não perigosa. Mas afinal como vive este Governo no espaço público? Como comunica com os portugueses?
Nestes seis meses há um activo que entra nesta nova equação política. Há um antes e um depois de Marcelo na vida comunicacional e política do Governo. “Há um momento antes das eleições presidenciais, em que o espaço mediático é centralizado no primeiro-ministro. E depois há um segundo momento, depois das presidenciais em que há alguém que ocupa o espaço mediático. O que permitiu ao Governo recuar e dar seguimento à estratégia de não comunicar”´, defende Rodrigo Moita de Deus, consultor de comunicação que esteve ligado às campanhas de Passos Coelho.
O foco no Presidente da República acaba por ter influência na forma de comunicar do Executivo, mas sobretudo do primeiro-ministro: “Nota-se que está mais discreto. A proactividade comunicativa não é tão voraz, mas é normal até se perceber o espaço do Presidente da República”, acredita Vasco Ribeiro, professor de comunicação politica da Universidade do Porto e antigo assessor do grupo parlamentar do PS. E o espaço de Marcelo tem sido um espaço grande. Mas não o tem sido só na forma, é-o também no conteúdo. O Presidente da República tem apoiado inúmeras vezes as posições do Governo e o Governo “convive muito bem com isso. Espera que o Presidente comente e só depois o faz”, diz Moita de Deus.
E nesta estratégia desde o início do mandato, há sobretudo uma centralidade na figura do primeiro-ministro. É ele quem mais fala, mesmo que tenha sido contido nas entrevistas dadas – desde que é primeiro-ministro deu quatro -, mas várias têm sido as declarações aos jornalistas em eventos, sejam do Governo ou do partido. A última deu-lhe trabalho. Depois da entrevista ao DN/TSF, teve de se desdobrar em esclarecimentos por ter contado que tinha contratado o amigo Diogo Lacerda Machado como consultor e também por ter defendido a criação de um banco mau para o crédito malparado. "Costa sabe que, quanto mais aparecer, mais críticas virão", diz o consultor.
Será por isso que neste Governo, Costa fala e os ministros são mais discretos. Apesar de haver um núcleo duro, com Vieira da Silva ou Augusto Santos Silva, tem menos impacto mediático do que em Governos anteriores. "Há ministros muito discretos. A ministra da Justiça, por exemplo, é discretíssima", nota Moita de Deus. Mesmo assim, há ministros com mais presença mediática, como o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, o ministro das Finanças, Mário Centeno, ou o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. Aliás, a Educação tem sido um dos temas de crítica mais forte para a oposição.
Acresce ainda que foi do ministério da Educação que saiu uma das crises deste Governo: a demissão com estrondo do secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Wengorovius Meneses. As outras, na mesma altura, foram a demissão de João Soares, depois de ameaçar com “bofetadas” dois colunistas do PÚBLICO e a demissão do chefe de Estado Maior do Exército. “Na verdade, este Governo ainda não teve uma crise política grave. Houve alguns resquícios de crise com os dois casos de demissão, mas foram bem resolvidas. Nos anteriores governos demoravam muito a resolver”. A “agilidade” na resposta notada por Vasco Ribeiro enquadra-se na própria argumentação dada por António Costa, que fez questão de se referir aos problemas como passado: “Foi uma semana com problemas, mas que chegou ao fim com todos eles resolvidos”.
Os problemas a que se referiu não foram só políticos, foram também de comunicação. Até porque os dois governantes que saíram fizeram-se ouvir na rede social Facebook – João Soares a provocar a sua demissão com uma opinião partilhada na rede social, Wengorovius a contar as razões do “desacordo” com o ministro, fragilizando-o. E tudo, exactamente numa altura em que o Governo quer uma nova maneira de comunicar com os cidadãos. Mas não assim.
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Falar directamente para as pessoas
No Governo, a informação está centralizada na secretária de Estado adjunta do primeiro-ministro, Mariana Vieira da Silva. É ela que está em permanente ligação com os ministérios para saber o que vai sendo feito. Trata-se de "coordenação política e comunicação", diz ao PÚBLICO. "Vamos falando com todos os ministros para identificar problemas ou o que pode ser comunicado", acrescenta.
E uma das acções da governante foi lançar nos ministérios uma comunicação mais directa com os portugueses. Desde Abril que as áreas de Governo (não necessariamente correspondentes a ministérios) têm vindo a abrir uma conta na rede social Twitter. O último foi o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos. O Facebook fica para mais tarde. Além disso, o primeiro-ministro já tem uma conta no Instagram, com fotografias dos fotógrafos oficiais de São Bento.<_o3a_p>
"É um aspecto interessante porque força os gabinetes a comunicar de forma rápida e ágil, distribuindo mensagens para um determinado sector", diz Vasco Ribeiro, que acrescenta no entanto tratar-se de uma tentativa de “anular a mediação jornalística. É bem feito aproveitar a comunicação directa”, diz. Para a secretária de Estado, ajuda a que as pessoas procurem informação das áreas que querem seguir. <_o3a_p>
Mas para que esta comunicação seja eficiente, tem de haver uma harmonização da mensagem. Mariana nega que exista um código de conduta do Governo, há sim o bom-senso dos gabinetes para evitarem problemas. A pequena escala, já aconteceram. Por exemplo, no início deste mês, a conta no Twitter do Ministério do Planeamento foi alvo de críticas por fugido ao padrão e ter opinado sobre o programa de televisão Prós&Contras.
<_o3a_p>Depois de seis meses, há diferenças também no conteúdo. Se Passos passava muito tempo a defender a postura do "bom aluno", Costa leva o tempo a defender a solução de Governo, para que este seja "coerente, estável e duradouro" para a legislatura.