Passos diz que nunca esteve em inaugurações, mas os factos dizem o contrário
Presidente do PSD afirma que, se fosse primeiro-ministro, não estaria na inauguração do túnel do Marão. Recusou convite de Costa por "questões de agenda".
O antigo chefe do Governo Pedro Passos Coelho disse na sexta-feira que, se fosse primeiro-ministro, "não estaria" na inauguração do túnel do Marão, indicava o ministro da Economia, defendendo que sobre uma obra "consensual" não se devem "reclamar louros".
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O antigo chefe do Governo Pedro Passos Coelho disse na sexta-feira que, se fosse primeiro-ministro, "não estaria" na inauguração do túnel do Marão, indicava o ministro da Economia, defendendo que sobre uma obra "consensual" não se devem "reclamar louros".
"Creio que o túnel do Marão é uma obra bastante consensual em Portugal. Não vale a pena reclamar louros sobre ela. Mesmo que eu fosse primeiro-ministro, coisa que hoje não sou, e a obra fosse inaugurada amanhã, eu não estaria lá", referiu Pedro Passos Coelho.
O ex-primeiro-ministro, que falava no Porto à margem da apresentação das publicações "Europa - Pela Nossa Terra" disse que "nunca" esteve numa obra de inauguração enquanto liderou o Governo. "Nem de estradas, nem de autoestradas, nem de pontes, nem de coisa nenhuma. Estaria lá com certeza o senhor ministro da Economia em representação do Governo", afirmou.
No entanto, tal não corresponde totalmente à realidade. Alguns exemplos: em Agosto do ano passado, a pouco mais de um mês das eleições legislativas, o então primeiro-ministro inaugurou a nova Ponte da Foz do Rio Dão, uma obra que custou mais de 10 milhões de euros e fica integrada no Itinerário Principal (IP) 3, entre Mortágua e Santa Comba Dão.
Um mês antes, compareceu na inauguração dos Edifícios Centrais do Parque Tecnológico de Óbidos e em Abril, inaugurou um bloco de rega do Alqueva acompanhado da então ministra da Agricultura, Assunção Cristas. Em Março de 2014, inaugurou a sede da Polícia Judiciária em Lisboa, e em Outubro do mesmo ano o novo quartel de Estremoz da GNR. No ano anterior, ainda durante a troika, discursou na inauguração das novas instalações da Porto Business School, em Matosinhos, e a lista não acaba aqui.
Já em Fevereiro deste ano, enquanto presidente do PSD, Passos Coelho foi ao Lordelo (Paredes) inaugurar uma escola que estava em funcionamento há três anos.
Questionado sobre se foi convidado para uma cerimónia na qual estarão presentes o actual primeiro-ministro, António Costa, e o antigo e também socialista José Sócrates, Passos Coelho confirmou que "sim", mas reiterou que são questões de agenda que não lhe permitem estar presente dado ter marcado para sábado uma sessão sobre os 42 anos do PSD e uma conferência sobre o Futuro da Europa.
Em declarações à agência Lusa também na sexta-feira, o ex-secretário de Estado das Obras Públicas Paulo Campos negou que o Governo de Passos Coelho tenha poupado mil milhões de euros na obra do túnel do Marão, contrapondo que os encargos do Estado até aumentaram. Isto depois de o presidente do PSD ter referido que o seu executivo resgatou a concessão para a construção da parte da autoestrada do Marão [Porto/Vila Real], "o que permitiu, apesar dos inconvenientes resultantes do atraso na conclusão da obra, ainda assim poupar cerca de mil milhões de euros ao erário público".
Confrontado com as declarações de Paulo Campos, Passos Coelho afirmou que remeteu para o que o presidente da Infraestruturas de Portugal terá dito no ano passado. "A obra está concluída e está paga. Estava inicialmente prevista em 2009 quando o contrato foi lançado como cerca de 1.300 milhões. Ela custou aproximadamente 300 milhões de euros. Portanto claramente que sim [que existe poupança]", afirmou.