Elefantes desaparecem em alguns anos se a caça furtiva continuar
Quénia incinerou 105 toneladas de marfim para combater caça furtiva e comércio ilegal do “ouro branco”. O P3 falou com uma organização dedicada à conservação de animais selvagens: se nada for feito, os elefantes podem desaparecer em menos de duas décadas
Caça, sangue e contrabando. Três palavras descrevem o processo, e uma basta para o resumir: extinção. É assim que se encontrará o elefante africano — extinto — e o Quénia quer alertar o mundo para isso, reduzindo a cinza 105 toneladas de marfim.
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Caça, sangue e contrabando. Três palavras descrevem o processo, e uma basta para o resumir: extinção. É assim que se encontrará o elefante africano — extinto — e o Quénia quer alertar o mundo para isso, reduzindo a cinza 105 toneladas de marfim.
No dia 30 de Abril, o presidente queniano Uhuru Kenyatta deu ordem para incinerar quase toda a reserva de marfim do país acumulada desde 1989, uma fortuna avaliada em 150 milhões de dólares (aproximadamente 130 milhões de euros).
O acontecimento está a ter lugar em pleno Parque Nacional de Nairóbi, sendo que o “simbolismo” do gesto, afirma Kenyatta numa entrevista à BBC, “é uma forma de luta pela preservação espécie”.
Nada disto é inédito: já em 2011, o Quénia havia dizimado cinco toneladas de presas de elefante, na altura pela mão de Mwai Kibaki, e num mesmo acto de protesto face ao contrabando e à caça desenfreada. O mesmo aconteceu em 1989.
Todos os anos, dezenas de milhares de elefantes são mortos muitas vezes com recurso a verdadeiros arsenais de guerra. Quando encontrados, as equipas de guardas ou conservacionistas deparam-se com o mesmo cenário: um rosto cortado, um solo ensanguentado, um paquiderme frio.
A peso de ouro
O assunto não é novo, é atemporal e é de agora —– mas parece longe de estar resolvido. Este campo de morte em que se transformou África é motivado pelo corrupio no mercado negro asiático. Ao longo das décadas, e apesar da proibição do comércio de marfim, o problema adensou-se: a procura aumenta, o preço dispara, o tráfico intensifica-se.
A China é o maior consumidor, tendo no mercado de Hong Kong e Pequim o seu epicentro. Fácil de esculpir, o marfim é transformado em peças religiosas, cutelaria, bolas de bilhar, pentes e outras bugigangas.
As organizações quenianas locais muito pouco podem fazer. É o caso da The David Sheldrick Wildlife Trust (DSWT), que se dedica à conservação e protecção dos animais selvagens e dos seus habitats. No terreno, há nove equipas de combate à caça furtiva e ainda uma de vigilância aérea. Mas é, sobretudo, pelo projecto do orfanato de elefantes que a DSWT é mundialmente conhecida.
Uma vez identificadas, as crias são acolhidas e tratadas durante vários anos. O acompanhamento é um processo sério e dilatado no tempo: “Tanto acolhemos bebés prematuros, com dias de vida, como elefantes com três anos. Em média, eles permanecem aqui até aos 9-10 anos de idade, altura em que já estão confiantes para regressar à vida selvagem”, explica Rob Brandford, director executivo da DSWT em entrevista ao P3.
Estima-se que, actualmente, a população de elefantes africanos ronde os 400 a 500 mil e que, por ano, cerca de 30 mil sejam vítimas de caça furtiva. As contas são fáceis de fazer: em menos de duas décadas a espécie estará extinta.
E, até lá, o massacre continua? “Nós não conseguimos vencer a batalha sozinhos”, admite Brandford. “A proibição total do comércio de marfim seria a única forma de protegermos os nossos animais e China e Hong Kong seriam a chave para garantir o futuro dos elefantes (...). Por outro lado, é vital estarmos conscientes de que, apesar de falarmos disto, ainda não vimos nada escrito em qualquer roteiro ou proibição nacional a ser aprovada”.