Numa prisão do regime sírio, 800 presos resistem a assalto para acabar com motim
Na cadeia de Hama está um grande número de presos políticos. ONU diz que "estão em risco centenas de vida" e pede alternativas ao uso de força.
Os cerca de 800 prisioneiros da cadeia de Hama, sob controlo do regime sírio, que se revoltaram na segunda-feira e mantêm dez guardas reféns, conseguiram resistir ao assalto lançado sexta-feita à noite pelas forças de segurança para tentar retomar o controlo da prisão, diz o Observatório Sírio dos Direitos do Homem.
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Os cerca de 800 prisioneiros da cadeia de Hama, sob controlo do regime sírio, que se revoltaram na segunda-feira e mantêm dez guardas reféns, conseguiram resistir ao assalto lançado sexta-feita à noite pelas forças de segurança para tentar retomar o controlo da prisão, diz o Observatório Sírio dos Direitos do Homem.
Um grande número das pessoas que ali estão são considerados prisioneiros políticos pelos governos ocidentais, salienta a agência AFP. O Governo de França apelou aos aliados de Damasco – a Rússia, concretamente – para pressionar “e evitar um novo massacre na Síria”. A ONU já manifestou também a sua preocupação.
Os prisioneiros amotinaram-se em protesto contra a transferência de cinco detidos para a prisão militar de Saydnaya, perto de Damasco, segundo uma declaração divulgada sexta-feira pelo Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein. Provavelmente, iam para Saydnaya para serem executados – sabe-se que muitos dos que para ali vão são mortos, diz o Observatório. Além disso, exigem ser julgados – estão detidos sem nunca terem sido levados perante um juiz, dizem os Comités Locais de Coordenação, uma importante rede de militantes da oposição síria.
Um vídeo do interior do estabelecimento prisional de Hama mostra um comprido e sombrio corredor, em betão, e um grande número de homens neste espaço estreito, no meio de muito gás lacrimogénio usado pelas forças de segurança na tentativa de dominar o motim, e ouvem-se gritos de "Allahu Akbar” (Deus é grande”). A oposição síria, que divulgou as imagens, diz que datam de 6 de Maio, e fala em casos de asfixia. Não há uma confirmação independente da veracidade destas imagens.
“Estão em risco centenas de vidas, e apelo às autoridades para tentarem a mediação, ou outras alternativas à força”, pediu Zeid Ra’ad Al Hussein. “A Síria devia ser denunciada ao Tribunal Penal Internacional, para que houvesse um caminho claro de punição para os que cometem crimes como este.”
“A tensão permanece muito elevada e as forças de segurança mantêm-se no interior da prisão, mas no exterior das celas”, disse à AFP Rami Abdel Rahmane, director do Observatório sírio. No perímetro da prisão juntaram-se familiares dos presos, inquietos com o que se vai passar ali. Desde o início do motim, as autoridades libertaram 46 prisioneiros, diz o Observatório.
O regime sírio deteve mais de 200 mil pessoas desde o início do conflito, em 2011, segundo o Observatório, que tem uma vasta rede de informadores no terreno. Pelo menos 14 mil presos políticos terão sido torturados e mortos, segundo esta organização.