Um incêndio fora de controlo, uma cidade vazia e um país à espera da chuva
O incêndio na província canadiana de Alberta "está fora de controlo" e pode duplicar de tamanho, tornando-se no maior desastre natural do país.
Está prestes a tornar-se o maior desastre natural da História do Canadá. O incêndio em Fort McMurray, na província de Alberta, ocupa uma área de mais de mil quilómetros quadrados de floresta e zona habitacional. As autoridades receavam que até ao final deste sábado pudesse duplicar de tamanho, atingindo o equivalente a três vezes o tamanho da cidade de Toronto.
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Está prestes a tornar-se o maior desastre natural da História do Canadá. O incêndio em Fort McMurray, na província de Alberta, ocupa uma área de mais de mil quilómetros quadrados de floresta e zona habitacional. As autoridades receavam que até ao final deste sábado pudesse duplicar de tamanho, atingindo o equivalente a três vezes o tamanho da cidade de Toronto.
“A situação continua imprevisível e perigosa”, afirmou o ministro da Segurança Pública, Ralph Goodale. “O incêndio está fora de controlo”. Desde que deflagrou, no domingo passado, que já consumiu 1560 quilómetros quadrados, metade dos quais em 24 horas. “Prevê-se que se continuar a progredir a este ritmo possa duplicar”, continuou.
“Só a chuva poderá deter o incêndio de Fort McMurray”, escrevia o jornal Toronto Sun. O vento começou a soprar de nordeste, o que o afastava das áreas residenciais, onde já arrasou quase dois mil edifícios. Mas ao mesmo tempo, fazia as chamas aproximarem-se de zonas florestais ainda mais densas, “dando-lhe mais combustível para crescer”, adianta. Há 40 focos em toda a província.
O responsável pela prevenção de incêndios de Alberta, Chad Morrison, afirmou na sexta-feira ao mesmo jornal que não há tanques nem aceiros que possam deter o fogo. A esperança estava nas condições meteorológicas: o boletim apontava para uma probabilidade de 40% de haver chuva durante o fim-de-semana.
A maior parte dos 88 mil habitantes de Fort McMurray já estão sem segurança – incluindo dois portugueses que o Consulado em Vancouver confirmou terem saído da cidade (há cerca de 18 mil portugueses e lusodescendentes a viver na província de Alberta).
Todos tiveram de abandonar as suas casas. No local estão 1200 bombeiros, apoiados por 110 helicópteros e 27 aviões. Será o suficiente para proteger edifícios e as principais infra-estruturas, mas não para circunscrever as chamas.
O incêndio começou no início da semana, e levou imediatamente milhares de habitantes de Fort McMurray a deixarem as suas casas. Mas o êxodo foi-se fazendo muito lentamente, com vários carros a ficarem parados na beira da estrada por falta de combustível. Mais de vinte mil pessoas optaram por procurar refúgio nos campos petrolíferos, a norte, que acabaram por ficar super-lotados.
Na sexta-feira, até mesmo essa zona deixou de estar segura, e durante a madrugada, uma coluna de 1500 veículos começou a deixar a cidade para percorrer os 50 quilómetros da única auto-estrada que permite sair da região. A operação acabou por ser interrompida quando chamas de 60 metros se interpuseram no caminho. Depois retomou, em direcção ao sul.
“Fazia lembrar uma zona de guerra”, comentou à Reuters Marisa Heath, que passou 36 horas num camião na beira da estrada com o seu marido, dois cães, e um gato com sete crias. “Tudo o que conseguíamos ver foram as fundações em betão das casas”.
Bairros habitacionais inteiros ficaram em ruínas, sem que os seus donos pudessem levar muito mais do que alguns bens, por vezes tendo de deixar os animais de estimação para trás. Mas nem tudo ficou destruído. “O centro da cidade está em grande parte intacto, a central telefónica igualmente, o hospital ainda está de pé”, afirmou a chefe do governo de Alberta, Rachel Notley, citada pela AFP.
Os danos são consideráveis. “Não é seguro regressar à cidade de Fort McMurray, nem será durante um período significativo de tempo”, adianta Notley. Serão necessários vários meses para a reconstrução, que tem um custo previsto de nove mil milhões de dólares canadianos (seis mil milhões de euros).
O realojamento será outro dos desafios, admitia Don Iveson, presidente da câmara de Edmonton, a capital de Alberta, que equipou centros de acolhimento com 4400 camas.
Apesar das semelhanças com um campo de batalha, não há registo de vítimas do incêndio, mas uma colisão de automóveis durante a evacuação fez dois mortos.
FOTOGALERIA: uma cidade cercada pelo fogo
Pelo menos dez operadores de campos de areais betuminosas (das quais se extrai o petróleo) foram obrigados a suspender a produção, devido à evacuação e também pela dificuldade de manter o transporte de petróleo através das linhas férreas, de oleodutos ou de estrada. A Reuters estima que cerca de metade da produção petrolífera do Canadá tenha sido interrompida.
Em Toronto, o primeiro-ministro, Justin Trudeau, afirmou que tenciona visitar Fort McMurray nas próximas semanas, mas para já as equipas de emergência estão ocupadas a combater os incêndios. “Percebemos que esta é ainda uma situação a decorrer”, disse Trudeau. “Os incêndios estão intensos”.
O El Niño e as alterações climáticas contribuíram para a catástrofe, explica a BBC. Com um tempo muito mais seco do que o normal, Alberta já teve 330 incêndios este ano, mais do dobro da média dos últimos anos.
O ano passado foi de seca, de tal forma que teve de ser decretado o estado de emergência, e o Inverno teve pouca chuva e pouca neve, com a região ocidental do país a sentir o impacto do El Niño. As temperaturas normais para esta altura do ano rondam os 14ºC; no início da semana chegaram aos 32,6ºC.
“Tivemos um Inverno incrivelmente seco, e sem neve suficiente”, comentou Judith Kulig da Universidade de Lethbridge em Alberta. Isto foi “a tempestade perfeita” para o incêndio.