Costa defende reorientação das políticas económicas da União Europeia
Numa clara viragem à esquerda, a moção do líder do PS defende o regresso à coesão europeia. Já a nível partidário propõe novas formas de organização não hierárquicas.
Na moção de estratégia global que apresenta ao 21.º Congresso do PS, António Costa coloca em cima da mesa todas as cartas e assume sem subterfúgios nem meias-palavras que defende uma “mudança profunda” na “orientação das políticas económicas e sociais”, bem como “nas estruturas institucionais de governação política e económica da União Europeia e da União Económica e Monetária”.
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Na moção de estratégia global que apresenta ao 21.º Congresso do PS, António Costa coloca em cima da mesa todas as cartas e assume sem subterfúgios nem meias-palavras que defende uma “mudança profunda” na “orientação das políticas económicas e sociais”, bem como “nas estruturas institucionais de governação política e económica da União Europeia e da União Económica e Monetária”.
Isto, para que, sustenta o secretário-geral do PS, sejam mantidos “os valores e os desígnios do ideal europeu” que, acrescenta, “permanecem inteiramente válidos, actuais e necessários”. Costa defende mesmo que seja encontrado um “Novo Impulso para a Convergência”, já que “sem essa ideia de convergência, sem a ambição de mais prosperidade para todos e de mais coesão económica, social e territorial, o projecto europeu não faz sentido”.
O texto estratégico para a orientação política do PS nos próximos dois anos, que foi redigido por Pedro Silva Pereira, com os contributos de uma equipa coordenada por Ana Catarina Mendonça Mendes e que foi integrada por Eduardo Cabrita, João Galamba, João Tiago Silveira, Paulo Pedroso, Pedro Nuno Santos, Porfírio Silva e Rui Santos, assume a “fidelidade aos valores e ao ideal europeu” que caracteriza como “eminentemente solidário, animado pela ambição da prosperidade, da melhoria da qualidade de vida, da coesão social e territorial, da convergência”, no qual “a partilha de soberania é posta ao serviço da prossecução de interesses comuns, em benefício de todos”.
Num posicionamento claramente mais à esquerda do que é tradição nas moções de líderes do PS, o documento expressa críticas à situação actual na União Europeia, afirmando que se constata "que muitas vezes, e em especial nos momentos mais difíceis em que a União Europeia é chamada a gerir crises de enorme complexidade - da crise económico-financeira à crise dos refugiados, da ameaça terrorista à cooperação para o desenvolvimento - a solidariedade europeia fica muito aquém da dimensão dos problemas”. Tanto que “frequentemente nem chega a dar sequência às decisões tomadas em sucessivas cimeiras ditas 'decisivas’”.
Nasce assim, de acordo com a visão estratégica de Costa, um “sentimento de desagregação” a que se junta “o agravamento explosivo e intolerável das assimetrias económicas e sociais entre os países do Norte e do Centro e os da periferia do Sul, no seguimento da crise financeira e, antes disso, das próprias dinâmicas induzidas pela moeda única”.
O tom crítico da moção assume mesmo que, “actualmente, a União Europeia parece quase indiferente à divergência causada por um quadro de regras de governação económica”, o qual “vai cavando ainda mais o fosso entre centro e periferia e vai transformando o diálogo europeu entre iguais numa constante negociação conflitual entre credores e devedores”. E advoga que “o espírito de solidariedade parece substituído pela ditadura do ‘risco moral’, o esforço de coesão suplantado pelo império da austeridade”.
Como solução para o futuro da UE, Costa assume um caminho frontalmente em choque com as orientações actuais. “A resposta socialista perante esta deriva europeia não pode ser outra senão a de retomar a bandeira da convergência”, defende, explicando que “convergir significa compensar as diferenças que permanecem entre as economias europeias, absorver os choques assimétricos que o euro potencia e mitigar os persistentes desequilíbrios macroeconómicos no seio da União Económica e Monetária”. Para isso, sustenta que “é preciso inverter urgentemente este estado de coisas e conquistar condições para uma política orçamental mais favorável ao crescimento e ao emprego.”
Confronto neoliberal
Em coerência com o discurso sobre o futuro da UE surge a visão para o país apresentada por Costa, para quem a estratégia europeia não é o “ perfilhar uma atitude de confronto”, mas tão-só de “garantir o respeito pelo princípio da igualdade e não abdicar da defesa do interesse nacional”.
Assim, o também primeiro-ministro garante que o PS “coloca no centro da sua agenda o combate por uma sociedade mais justa e mais igualitária”. E assume “o confronto com a ideologia neoliberal”, bem como a defesa da “proposta política de um Estado mínimo ou de uma função meramente assistencialista do Estado”.
E proclama que, para atingir esse objectivo, “o PS faz questão de cumprir a Constituição e de honrar o contrato social; defende com determinação o Estado Social e os serviços públicos; mobiliza as políticas públicas e reforça as políticas sociais; conquista novos direitos e combate todas as formas de discriminação”.
Já a nível partidário, a moção elege como batalhas eleitorais as regionais e as autárquicas e lança um desafio partidário inovador em termos de organização. “Em vez de um modelo hierárquico de partido, fechado e centrado na sua direcção, queremos um modelo de organização em rede, aberto à participação e em contacto permanente com a sociedade”, defende a moção apostando assim na abertura a cidadãos em geral e não apenas aos militantes e não organizada apenas na estrutura de aparelho partidário tradicional. Assim como apela a que os militantes participem em organizações sociais e laborais como os sindicatos.
Para isso, promete: “Proporemos à Comissão Nacional que inicie um processo de remodelação da estrutura partidária e do modelo de vinculação ao partido”, considerando que “os modelos tradicionais de vinculação, assentes na contribuição financeira para o partido, com o pagamento de quotas, e na disponibilidade para o exercício de funções partidárias, geraram efeitos perversos bem conhecidos, e que importa contrariar”.
Adrião quer código de conduta para militantes
Daniel Adrião candidata-se a secretário-geral do PS para poder apresentar uma moção defendendo a reforma do sistema político. Um dos pilares da vida política em democracia são os partidos e Adrião faz questão de centrar neles, em particular no PS, uma das linhas reformistas que propõe. Entre estas destaca-se a criação de um Código de Conduta e Ético a ser assinados por todos os militantes. Neste documento deverá ficar enquadrado “os comportamentos aceitáveis (e não aceitáveis), princípios, valores” e previstas “situações de conflito de interesses”. Além desta inovação Adrião avança também com a criação de comissões de ética, de um tribunal arbitral e a figura do provedor do militante.