Sanders continua a caminho de uma derrota com sabor a vitória

Senador do Vermont venceu no Indiana, mas tem uma tarefa quase impossível pela frente para ultrapassar Hillary Clinton. Objectivo é forçar mudanças no programa político do Partido Democrata.

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Bernie Sanders tem conquistado o voto dos eleitores com menos de 45 anos John Sommers II/AFP

Depois de ter sido afastada da Casa Branca em 2008 por Barack Obama a gritos de "Yes, We Can", Hillary Clinton acreditava que a sua segunda vida como candidata à presidência seria um passeio.

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Depois de ter sido afastada da Casa Branca em 2008 por Barack Obama a gritos de "Yes, We Can", Hillary Clinton acreditava que a sua segunda vida como candidata à presidência seria um passeio.

É verdade que a porta está escancarada este ano, mas o seu único adversário, Bernie Sanders, insiste em adiar-lhe o sonho – mais cedo ou mais tarde, Clinton deverá garantir a nomeação, mas esta semana, no estado do Indiana, o senador voltou a ultrapassá-la pela esquerda e a dizer-lhe que, por enquanto, "no, you can't".

Depois de ter liderado praticamente todas as sondagens das primárias no Indiana – embora por margens curtas –, Hillary Clinton sofreu uma inesperada derrota, ficando cinco pontos percentuais atrás do senador do Vermont (52,7% contra 47,3%).

Mas o que conta nas primárias dos dois maiores partidos dos EUA é o número de delegados que essas percentagens traduzem, e o sistema do Partido Democrata torna a vida ainda mais difícil para quem vem de trás – ao contrário do que acontece no Partido Republicano, nenhum estado entrega todos os seus delegados ao vencedor; como essa distribuição é feita de forma proporcional, quem perde ganha sempre alguma coisa.

Nesta fase da corrida nas primárias do Partido Democrata, a questão já não é tanto quem será o representante do partido nas eleições gerais, em Novembro, mas sim até que ponto pode o socialista Bernie Sanders capitalizar a enorme base de apoio que conseguiu formar no último ano.

Depois de sete vitórias consecutivas nas primárias entre 22 de Março e 9 de Abril, o candidato que tem entusiasmado uma legião tipicamente mais jovem, branca e instruída sofreu nas últimas duas semanas a machadada final no seu sonho presidencial – uma derrota no estado de Nova Iorque e quatro derrotas em cinco no dia 26 de Abril.

É praticamente impossível que Sanders recupere desse golpe, e a nomeação de Clinton é dada como certa por analistas e por qualquer pessoa que saiba utilizar uma máquina de calcular – precisa de 2383 delegados para garantir a nomeação, já tem 1700 e sobram apenas 1114. Devido à tal distribuição proporcional de delegados, Clinton nem sequer deverá precisar da ajuda dos 520 superdelegados que já lhe jurararam fidelidade, contra os 39 fiéis a Bernie Sanders. Ao contrário dos delegados que vão sendo conquistados nas primárias, estes superdelegados (que só existem no Partido Democrata) têm liberdade de voto na convenção nacional.

E é por isso que, apesar da derrota no Indiana, Clinton já fala mais sobre o duelo com Donald Trump em Novembro do que sobre o pesadelo que ainda tem de aguentar até ao final das primárias no seu partido, em Junho. Num cenário ideal, a candidata queria estar livre para se concentrar apenas em Trump, mas Bernie Sanders não tem qualquer razão para lhe facilitar a vida – o senador até pode estar afastado da luta pela nomeação, mas a sua surpreendente campanha dá-lhe todas as condições para tentar influenciar algumas mudanças no programa político democrata.

"O que me tem entusiasmado é que primária após primária, caucus após caucus, acabamos por vencer o voto das pessoas com menos de 45 anos. Isso é importante porque diz-me que as ideias pelas quais estamos a lutar são as ideias para o futuro da América e para o futuro do Partido Democrata", disse Sanders no discurso após a vitória no Indiana.

O principal objectivo do senador é forçar Hillary Clinton – e o Partido Democrata – a aceitar a ideia de que é preciso limitar o poder do sector financeiro reduzindo a dimensão dos grandes bancos, para que as consequências das suas falências não sejam tão penalizadoras para os cidadãos.