Os vis futurólogos
Ontem foi dia de tudo. Era dia da mãe, dia do trabalhador, domingo, primeiro dia de Maio e um belíssimo dia de sol.
Ontem foi dia de tudo. Era dia da mãe, dia do trabalhador, domingo, primeiro dia de Maio e um belíssimo dia de sol.
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Ontem foi dia de tudo. Era dia da mãe, dia do trabalhador, domingo, primeiro dia de Maio e um belíssimo dia de sol.
Tudo isto era previsível. As pessoas que queriam almoçar nos restaurantes de praia tiveram o cuidado de reservar as mesas com antecedência. Nós tivemos a sorte de apanhar a última mesa disponível.
Enquanto almoçávamos, a única paisagem que pudemos admirar era inteiramente humana. Eram infindas famílias de barradores de vistas que chegavam entre a uma e as duas da tarde para indagar se podiam almoçar "cá fora". E os empregados, sempre, "Tem mesa reservada?". E as famílias respondiam orgulhosamente que não.
Algumas aceitavam estoicamente a impossibilidade. Outras achavam que tinham tido azar. Umas desconfiavam abertamente, apesar de todas as mesas estarem cheias de gente.
Uma senhora, olhando fixamente para nós, disse "se fôssemos estrangeiros, arranjavam-nos logo mesa..."
Todas estas pessoas tinham-se dado ao trabalho de deslocar-se à praia, de arranjar estacionamento e de marchar até ao restaurante com a ideia lunaticamente optimista de que talvez houvesse uma mesa vazia à espera deles. No dia da mãe. Num domingo de sol. No primeiro dia de Maio.
Sendo portuguesas não se despediram sem olhar com desprezo para os clientes com mesas, como se fôssemos máquinas de calculismo, sem alma nem espontaneidade, daquelas que reservam mesa para datas que pertencem ao futuro.
E nós? Sendo também portugueses, sim, sentimo-nos culpados.