Carlos Moedas vai criar Conselho Europeu de Inovação

Objectivo é flexibilizar regras para permitir acolher projectos interdisciplinares inovadores.

Foto
Carlos Moedas João Silva

A Comissão Europeia deverá constituir até ao Verão um Conselho Europeu de Inovação destinado a acolher pessoas e entidades que procuram financiamento comunitário para projectos científicos inovadores.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Comissão Europeia deverá constituir até ao Verão um Conselho Europeu de Inovação destinado a acolher pessoas e entidades que procuram financiamento comunitário para projectos científicos inovadores.

Este “balcão único europeu” vai permitir que, em vez de andarem perdidos a bater a várias portas para obter financiamento, os projectos inovadores passarão a ter um organismo único que será a porta de entrada para os seus projectos.

O anúncio deste Conselho Europeu de Inovação foi feito nesta quinta-feira, em Bruxelas, pelo comissário europeu Carlos Moedas, que tem precisamente o pelouro da Investigação, Ciência e Inovação, durante um encontro com jornalistas.

“Até agora, as regras eram demasiado verticais e dirigistas”, disse Carlos Moedas, admitindo que quem tivesse projectos mais interdisciplinares, que não encaixavam bem numa determinada área, corria o risco de ficar excluído.

Ora o comissário quer privilegiar precisamente a interdisciplinaridade e a apresentação de projectos que sejam uma ruptura. “Até agora a Europa tem dado financiamento às empresas que melhoram produtos em vez de uma aposta nos produtos disruptivos, que são aqueles que ninguém está à espera”, disse.

“Hoje em dia a inovação deixou de ser só tecnológica, pois os grandes inovadores vêm das áreas das ciências sociais ou da intersecção entre as artes e as ciências sociais.” E daí a abertura a projectos inovadores não necessariamente relacionados com um único ramo do saber.

Carlos Moedas disse que uma das suas grandes “angústias” é constatar na Europa o avanço do extremismo e do populismo, com os seus consequentes apelos aos nacionalismos e ao proteccionismo. Daí que tenha, no âmbito da Comissão Europeia, apresentado uma estratégia contrária baseada em três pontos: ciência aberta, inovação aberta e abertura ao mundo.

Defendendo que o conhecimento deve ser partilhado, pretende que se legisle para que as universidades não tenham que pagar pela leitura de revistas científicas, promovendo assim a abertura dos seus conteúdos. “Uma coisa é o conhecimento, outra são as ideias [científicas]. A primeira deve ser gratuita, a outra deve ser protegida”, disse.

Outra prioridade é interacção entre diplomacia e ciência. Carlos Moedas diz que visitou na Jordânia um centro de investigação onde jordanos, israelitas e iranianos trabalhavam em conjunto, provando que “à volta de uma mesa todos conseguem falar de ciência”. Por isso, diz, “a ciência pode ser uma maneira de continuar as pontes na relação entre países onde a diplomacia falhou”.

Questionado pelo PÚBLICO sobre se, na perspectiva do comissário europeu, a fuga de cérebros ocorrida em Portugal durante os anos do ajustamento financeiro era um problema, Carlos Moedas disse que o país tem dos melhores cientistas do mundo com bolsas do Centro Europeu de Investigação que oscilam entre os dois e os três milhões de euros. “São entre 60 a 70 pessoas e o mais engraçado é que são não portugueses que querem ir fazer investigação em Portugal”, disse, acrescentando que esta é uma forma também de ajudar a reter cérebros.

Já quanto aos jovens cientistas portugueses que tiveram de emigrar, recordou que grande parte deles acabaram por ficar a trabalhar em países da Europa e com bolsas concedidas pela própria União Europeia.

“A profissão de cientista foi das primeiras a globalizar-se. Os cientistas, por definição, trabalham em todo o mundo e não têm de ficar no seu país. Aliás, há estudos que indicam que os cientistas que trabalharam noutro país ou tiveram contacto com outros países são 20% mais produtivos.”

O jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia