Provas de aferição deverão ser realizadas em pelo menos metade das escolas

Decisão pertence aos directores. Processo dividiu as escolas e vai dividir o país, alerta responsável por uma das associações de dirigentes escolares.

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As provas de aferição estão todas marcadas para 6 e 8 de Junho Fernando Veludo/NFactos

Professores contra, directores a favor. Estará a ser esse o desfecho da decisão sobre a realização das provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º ano, que o Ministério da Educação (ME) decidiu colocar nas mãos das escolas, depois de num primeiro momento ter anunciado que já seriam obrigatórias este ano lectivo. Estas provas não contam para a nota final dos alunos.

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Professores contra, directores a favor. Estará a ser esse o desfecho da decisão sobre a realização das provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º ano, que o Ministério da Educação (ME) decidiu colocar nas mãos das escolas, depois de num primeiro momento ter anunciado que já seriam obrigatórias este ano lectivo. Estas provas não contam para a nota final dos alunos.

Como a decisão pertence aos directores, depois de ouvido os Conselhos Pedagógicos, onde estão representados os professores, muitas escolas irão realizar as provas de aferição, marcadas para Junho, prevê o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, que aponta para uma adesão da ordem dos 50% ou mesmo superior. Já Filinto Lima, que preside à Associação Nacional dos Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), prevê que sejam mais as escolas que não realizarão as provas de aferição do que aquelas que o farão, embora a diferença possa ser pouca.

Os directores que optarem por não realizar as provas terão que comunicá-lo ao Ministério da Educação até esta sexta-feira. Antes disso, o ME não divulgará qualquer balanço, embora Filinto Lima acredite que, por esta altura, “já quase todas as escolas tomaram posição”.

O retrato que traça é também o de uma “profunda divisão”. “Os professores dividiram-se, as escolas dividiram-se, o país vai dividir-se”, frisa. Foi o que sucedeu no seu agrupamento, como também no que é dirigido por Manuel Pereira. Ambos decidiram realizar as provas já este ano lectivo, uma opção que, dizem, foi aprovada pelos pais, embora também aqui se tenham registado fracturas. “Existem seis associações de pais no meu agrupamento [Dr. Costa Neves, em Vila Nova de Gaia] e também elas se dividiram”, relata Filinto Lima. 

“Tenho a solidariedade da escola [agrupamento General Serpa Pinto, de Cinfães], mesmo estando esta contra a sua realização”, diz Manuel Pereira, que, para além do Conselho Pedagógico, ouviu os professores numa reunião geral e ainda o Conselho Geral, o órgão que elege o director e onde também têm assento os pais e representantes da comunidade local.  

“A opinião dos professores foi maioritariamente contra, por razões que são compreensíveis e que eu também partilho como docente. Têm a ver com a mudança de regras, quando o ano lectivo já ia a meio, ou com a percepção de que os alunos não estão preparados psicologicamente para as realizar neste ambiente”, descreve Manuel Pereira.

Ele próprio criticou o ministro da Educação por ter decidido mudar a avaliação dos alunos do ensino básico, quando já se tinha entrado no 2.º período, pondo fim aos exames nacionais no 4.º e 6.º ano, e introduzindo provas de aferição no 2.º, 5.º e 8.º ano. Por que decidiu então realizar estas provas? “Temos que defender a escola pública e não permitir que uma decisão contrária fosse vista como facilitista. Por outro lado, não posso afirmar que das provas não resultem dados que possam ajudar a preparar o próximo ano lectivo e essa é uma oportunidade que não posso deitar fora”, responde.

Filinto Lima, que também foi um crítico do timing adoptado pelo ministro Tiago Brandão Rodrigues, subscreve: “As provas são uma mais-valia para os alunos e para as escolas. Por causa delas, em Setembro vou ter mais informação sobre o desempenho dos alunos e as suas dificuldades.” Mas o presidente da ANDAEP deixa um recado a Tiago Brandão Rodrigues: “Qualquer decisão tomada pelos directores é a correcta. O ministro não a poderá contestar.” 

Para Manuel Pereira, agora é tempo de “motivar os alunos para que realizem as provas de aferição”. Acrescenta que é o que estão a tentar fazer no seu agrupamento, “embora seja sempre possível que alguns acabem por faltar, porque não há consequências”.

Calculadora só para os mais velhos

Os dois dirigentes escolares coincidem na percepção de que, ao contrário do que se passará com a aferição, a “esmagadora maioria” das escolas não realizará as provas finais do 4.º e 6.º ano, que têm o modelo dos antigos exames nacionais, embora também não contem para a nota final dos alunos. A possibilidade destas serem aplicadas foi anunciada em Março, quando da aprovação do regime transitório que adiou a aplicação obrigatória das provas de aferição para o próximo ano lectivo. Como a avaliação externa no final do 1.º e 2.º ciclo deixará de existir, as escolas optaram por deixá-la cair já este ano, indicou Filinto Lima.

As provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º ano estão marcadas para 6 e 8 de Junho. Os mais novos fazem-nas a partir das 10h30; os mais velhos durante a tarde. Todas terão 90 minutos e só no 2.º ano existirá um intervalo pelo meio.

Os alunos de sete anos começam por realizar uma prova que testará em simultâneo o que sabem de Português e Estudo do Meio. Uma componente que voltará a aparecer também na prova de Matemática e onde serão abordados temas como a” descoberta dos outros e das instituições” ou a “descoberta de si próprio”.

No 5.º e no 8.º ano, as provas são de Português e Matemática. Nesta última, só será permitido o uso da calculadora aos alunos do 8.º ano.

Estas informações já estão disponíveis na página electrónica do Instituto de Avaliação Educacional, o organismo responsável pela elaboração das provas de aferição e dos exames nacionais do 9.º ano e do ensino secundário, que começam a 15 de Junho.