OCDE diz que "Brexit" pode custar 3% do PIB ao Reino Unido até 2020

"O Brexit seria semelhante a um imposto", avisa a OCDE aos britânicos a menos de dois meses do referendo. Para o países da UE, o impacto negativo seria de 1%.

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David Cameron está em campanha pela permanência do Reino Unido na UE AFP / EMMANUEL DUNAND

Quebra na confiança, fuga de capitais, dificuldades nas trocas comerciais e perda dos efeitos positivos da imigração. Se em Junho os britânicos decidirem que chegou a hora de sair da União Europeia, a economia do Reino Unido sofrerá diversos impactos negativos que poderão resultar, no período de quatro anos, num valor do PIB inferior em 3%, calcula a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). E as restantes economias europeias também seriam afectadas.

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Quebra na confiança, fuga de capitais, dificuldades nas trocas comerciais e perda dos efeitos positivos da imigração. Se em Junho os britânicos decidirem que chegou a hora de sair da União Europeia, a economia do Reino Unido sofrerá diversos impactos negativos que poderão resultar, no período de quatro anos, num valor do PIB inferior em 3%, calcula a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). E as restantes economias europeias também seriam afectadas.

Num relatório em que analisa as consequências económicas de uma saída do Reino Unido da União Europeia (um cenário conhecido como "Brexit"), a OCDE dificilmente poderia ter sido mais generosa nos argumentos que oferece aos que defendem, no referendo que se irá realizar no dia 23 de Junho, que o país deve permanecer ao lado dos seus parceiros europeus.

O think tank internacional, que é financiado pelos governos de 34 países industrializados, traça um cenário muito sombrio para a evolução da economia britânica tanto no curto como no longo prazo se a opção for pela saída da UE. O que é assumido é que, depois de um referendo favorável ao "Brexit", as negociações para a saída oficial da UE teriam início rapidamente mas apenas poderiam estar concluídas na segunda metade de 2018, o que conduziria posteriormente ao estabelecimento de novos acordos comerciais e à imposição de novos obstáculos à circulação de pessoas.

Se este processo ainda pode demorar o seu tempo, já os efeitos económicos seriam imediatos, diz a OCDE, que vê vários motivos para pensar na existência de impactos negativos.

Em primeiro lugar, a incerteza que seria criada com uma saída conduziria a uma perda de confiança entre as famílias e as empresas, que os faria adiar decisões de consumo ou de investimento. E existe ainda o sério risco, alerta a OCDE, de uma fuga de capitais da economia britânica por parte dos investidores, o que poderia aumentar as dificuldades de financiamento de um país que regista há vários anos défices externos significativos.

Depois há o problema dos acordos comerciais. Ao sair da UE, o Reino Unido perderia no imediato o acesso sem restrições ao mercado único europeu e o acesso preferencial a 53 outros países que têm acordos favoráveis com a UE. É certo que, depois, pode tentar obter novos acordos com a UE e com outros países, mas, de acordo com a OCDE, no imediato veria as taxas cobradas às suas exportações subir fortemente e depois dificilmente conseguiria condições tão favoráveis como as actuais. O cenário considerado pela OCDE é o da obtenção com a UE de um acordo semelhante ao que actualmente tem o Canadá.

O último grande impacto negativo de curto prazo viria da imigração. Segundo a OCDE, a entrada de novos trabalhadores no país é responsável por metade do crescimento económico do Reino Unido desde 2005. Um efeito positivo que se pode perder, pelo menos parcialmente.

No longo prazo, a OCDE identifica também diversas desvantagens para o Reino Unido de uma saída da UE. Menos abertura da economia, menor capacidade de atrair trabalhadores qualificados e menor incentivo à inovação são tudo problemas que podem conduzir a uma redução do crescimento potencial da economia. E, a nível orçamental, o facto de o país deixar de contribuir para o bolo europeu não chegaria para compensar os efeitos negativos deste menor crescimento da economia.

Feitas as contas, as estimativas da OCDE apontam para que, até 2020, a perda do PIB britânico decorrente de uma saída seria equivalente a 3,3% do PIB, isto é, 2200 libras (cerca de 2800 euros) por agregado familiar.

No mesmo período, as restantes economias da UE sofreriam um impacto negativo nas suas economias equivalente a 1% do PIB, motivado em particular pelo cenário de incerteza em que se iria viver.

Num prazo mais longo, até 2030, o impacto para a economia do Reino Unido seria, num cenário base, de perda de 5,1% do PIB, isto é, menos 3200 libras (4100 euros) por família. Mas os efeitos poderiam ir de 2,7% num cenário optimista até 7,7% num cenário mais pessimista. Pelo contrário, no resto da UE, o efeito negativo ir-se-ia esbatendo, diz a OCDE.

No relatório, a OCDE faz questão de passar a mensagem aos britânicos de que um voto no "Brexit" vai ter efeitos concretos e negativos nos seus bolsos. “Em alguns aspectos, o 'Brexit' seria semelhante a um imposto, impondo um custo persistente e cada vez maior na economia ao longo do tempo”, afirma o documento.

Entre os defensores do "Brexit" existe a convicção de que a economia britânica pode começar a crescer mais com a saída da UE, uma vez que ficaria com a possibilidade de fazer os seus próprios acordos comerciais e poderia libertar-se da burocracia europeia.

Do lado da OCDE, contudo, a opinião é que essas são expectativas erradas. “Não existe qualquer tipo de acordo em que vocês estejam sozinhos que possa ser melhor do que estarem na companhia dos europeus”, afirmou esta quarta-feira o secretário geral da OCDE, em declarações à BBC.

Os cálculos agora apresentados pela OCDE são semelhantes aos que foram apresentados pelo ministro das Finanças britânico e que apontam para a perda pelas famílias de um rendimento anual de 4300 libras (cerca de 5500 euros) em 2030 em resultado da saída da UE.